quarta-feira, 27 de março de 2019

Paulo Guedes, um ministro na própria corda bamba

Em audiência na Comissão de Assuntos do Senado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, deu mais uma demonstração de que seu perfil não é exatamente o ideal para um cargo que, além de conhecimento técnico, exige abertura para o diálogo e capacidade de convencimento, o que na política demanda paciência, consideração pelas necessidades do próximo, respeito ao interesse alheio, enfim tudo que para Guedes parece não ter muita importância.

Aparentando como sempre um mau humor dos diabos, agora talvez por causa da aprovação ontem pela Câmara da chamada “PEC impositiva”, o ministro disse que se a Câmara e o Senado não quiserem suas propostas ele volta para onde sempre esteve. “Eu tenho uma vida fora daqui”, disse aos parlamentares. Vejam só, o “Posto Ipiranga” de Jair Bolsonaro é realmente um diferencial e tanto: não me lembro de um outro ministro que em reunião pública com parlamentares tenha dito que caso não queiram sua proposta ele pega o boné e dá o fora. Ah, sim, ele fez a ressalva de que não sairá na primeira derrota. Bom isso, não?

Guedes é um sujeito estressado, mas isso não é novidade. Logo que seu nome surgiu como sustentação da candidatura de Bolsonaro junto ao mercado, sendo chamado pelo próprio candidato de seu “Posto Ipiranga, vários colegas seus alertaram que ele é de difícil trato, tem personalidade autoritária e um histórico de chutar a mesa com facilidade. Em uma situação de crise extrema, como foco de exigências e também de críticas de parlamentares, alguém com essa personalidade pode estourar no momento errado ou demonstrar falta de boa vontade, o que, aliás, já vem ocorrendo.

“Eu estou aqui para servi-los. Se ninguém quiser o serviço, foi um prazer ter tentado”, foi uma das coisas que ele disse aos senadores, numa reunião preliminar, com a proposta da reforma da Previdência ainda em seus primeiros passos, sem sequer ter passado pela Comissão de Constituição e Justiça, da Câmara. Isso conversa de alguém que se coloca com pouca abertura à confrontação de ideias, ainda no início de um debate, sem ter adentrado o terreno das negociações que obrigatoriamente logo terá de ser percorrido.

Qual será o comportamento de Guedes quando a pressão esquentar de fato? Outro ponto político importante é o risco da reforma ser retalhada e emendada de uma forma que não seja do seu gosto. Ela pode também não ser aprovada, possibilidade que vem sendo mencionada por vários parlamentares e jornalistas que conhecem bem as tendências do Legislativo.

Supondo que não haja a aprovação, no cenário político criado por Guedes a decisão faria a crise econômica se acirrar. Pode ser que de fato a reforma da Previdência não seja aprovada, o que obrigaria à formulação de novas propostas econômicas, impondo ao governo Bolsonaro um caminho diferente do pretendido até aqui. Isso já aconteceu em outros governos, como, por exemplo, no de Fernando Henrique Cardoso. E aconteceu exatamente com uma reforma da Previdência, que por sinal teve o voto contrário do então deputado Bolsonaro.

Bem, quando isso ocorre, numa democracia o que resta a fazer é seguir adiante, procurando consertar o estrago da melhor forma. Talvez esteja aí uma atitude essencial para Guedes. Seria mais efetivo que ele assumisse que não é ministro da reforma da Previdência, mas da economia do país. O que não dá é um ministério de tal importância ter alguém, tão cedo, com a ameaça de que pode ir embora. Desse jeito fica parecendo que Bolsonaro vai ter que aceitar o fechamento de seu Posto Ipiranga.
.........................
POR José Pires

Nenhum comentário:

Postar um comentário