sexta-feira, 12 de abril de 2019

A proposta ultraliberal de Paulo Guedes com problema de combustível

O ministro da Economia, Paulo Guedes, se negou a comentar a revogação do aumento do preço do diesel pela Petrobras, por ordem de Jair Bolsonaro. Guedes está em Washington e passou “o dia todo trabalhando”, como ele disse ao tentar  evitar falar sobre o chefe fazendo controle artificial de preços no Brasil. As notícias são de que o ministro aparentava irritação, normal para o Guedes, mas qualquer um no lugar dele não estaria gostando nada do que aconteceu.

Uma ponto essencial da pauta de sua viagem é exatamente tranquilizar o chamado mercado, com a garantia de que a cargo dele está em curso uma agenda liberal na economia do Brasil. Não é preciso ser um especialista para saber que uma ordem do Palácio do Planalto mandando a Petrobras recuar em um aumento de combustíveis nada tem a ver com essa doutrina.

O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros deu a entender nesta sexta-feira que Bolsonaro não avisou Guedes da sua intervenção. É uma pena, pois a atitude fez a Bolsa balançar, com a Petrobrás desabando em 5 pontos. Sempre é uma chance de ganhar um troco, como Guedes sabe melhor do que nós. Ontem, em Washington, o ministro já havia dito algo que parece mostrar que está difícil a liga com o presidente. Ele disse o seguinte: “Bolsonaro está apaixonado pela reforma? Claro que não, mas entende que é importante”.

Ah, bom. Mas de qualquer forma parece ser uma situação difícil esta, de um presidente ainda não totalmente convencido sobre um projeto do governo dele mesmo, que já está correndo no Congresso Nacional. Outra declaração do ministro sobre o mesmo tema pode ser vista como um esclarecimento a mais sobre a questão. “Políticos espertos não querem a reforma para discutir a um ano de eleição municipal”, ele disse.

Não vou dizer que é uma indireta para o chefe, mas a verdade é que o único raciocínio de Bolsonaro sempre foi o do ganho político imediato. Há décadas ele vive disso, do mesmo modo que a vida de Guedes sempre foi faturando no mercado de capitais. É uma questão de objetivos.

Bolsonaro não tem como objetivo a conquista do mundo e do coração dos brasileiros com uma plataforma política liberal em economia. Além de que deve ter gente piando na sua cabeça que não é por esta via que seu perfil se encaixa. E não se pode dizer que falte traquejo político a quem afirme tal coisa. Imaginem o Brasil dando certo e encontrando um caminho de razoável equilíbrio com as idéias liberais de Guedes.

Raciocinemos com o sucesso da coisa. Num desenlace desses, quem vocês acham que estaria muito forte para disputar o governo em 2022? Podem apostar que é provável que o clima político fique mais favorável ao formulador da milagrosa receita do que para uma reeleição.

No entanto, especulações políticas de longo prazo dependem do ovo, por ora dentro da galinha. Não são poucos os que acreditam que essa reforma da Previdência já gorou. O ministro Onyx Lorenzoni tem que aparentar otimismo. Ele acha que até julho ela está aprovada na Câmara. A liderança do DEM na Câmara pensa diferente: a conclusão só será concluída na primeira semana de dezembro e isso no melhor dos cenários.

Como se vê, pode ser que a reforma salte para 2020, ano eleitoral. Seria uma condição exemplar, pois nada melhor que os políticos trabalhem sobre a Previdência da população e ao mesmo tempo busquem a conquista da confiança do eleitor nas eleições municipais. O Guedes é que não vai gostar. Até porque ficaria ainda mais difícil fazer o Bolsonaro se apaixonar pela proposta.
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POR José Pires

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