quinta-feira, 4 de abril de 2019

A reforma da Previdência na voz pouco hábil de Paulo Guedes

O ministro Paulo Guedes é o pior defensor de suas próprias ideias. O problema começa pelo fato dele não ter a plena compreensão sobre seu papel político. Guedes é um sujeito de maus bofes, mas de qualquer modo, mesmo alguém de personalidade autoritária pode adquirir consciência sobre a forma de agir para atingir determinados objetivos. Para isso ele teria de ter uma boa assessoria política, sendo até provável que tenha, porém o ministro não parece ser do tipo que ouve críticas e acata as necessárias correções.

Não é pelo atrito e a discussão política de contornos ideológicos que ele poderá ter sucesso no convencimento sobre a importância da sua proposta de reforma da Previdência. O que se espera dele são explicações aprofundadas sobre o que tem em vista com esta reforma, não só do conteúdo específico da proposta como também de seus efeitos e de outras ações econômicas em paralelo, no aproveitamento na economia brasileira dos benefícios de uma nova Previdência e também no suporte à aplicação prática da reforma, caso seja aprovada pelo Congresso.

Guedes deve ter em andamento em seu ministério ações desse tipo — pelo menos é o que se espera dele, que ao contrário do que se vê até agora, não é só o ministro da Previdência, mas da economia como um todo. São estas questões, mais aprofundadas e ampliadas nas ações exigidas em nossa economia, que ele deveria trazer em suas explanações, concentrando esforço mais na qualidade técnica, sem cair nas provocações de tipos como Zeca Dirceu e seus companheiros. Mesmo se tiver razão, na sua posição Guedes não tem como se beneficiar de um debate pontual com políticos adversários de suas teses ou com inimigos inconciliáveis.

Com o debate ideológico, o ministro lança-se no terreno desejado pelos adversários, além de que para isso ele não tem traquejo. Guedes não é bom orador, não atingindo nem qualidade mediana na exposição de ideias e não tem o controle dos nervos. Perde facilmente as estribeiras e acaba atingindo em bloco a classe política quando é puxado por um adversário para uma discussão, que sempre acaba em um mal-estar geral mesmo quando sua opinião é a mais razoável.

Já correm pela internet vários posts produzidos pela máquina subterrânea de comunicação do bolsonarismo, naquela forma tosca de pensar que já é um padrão dessa gente. Em todas essas mensagens de propaganda que fingem ser políticas é o Guedes que leva a melhor, “calando” os adversários, “lacrando” ou dando-se bem, conforme é o estilo desses posts ridículos que a meu ver levam os governistas à crença equivocada de que as coisas estão indo bem.

A proposta de reforma da Previdência deste governo saiu menor desta audiência de Guedes na Câmara, com a revelação de mais defeitos que qualidades, pesando bastante nesta desproporção a atuação do próprio ministro, que é um desastre como comunicador e para lidar com os políticos. No entanto, se ele seguir a onda artificial das redes sociais vai acreditar que tudo está indo às mil maravilhas. Claro que isso deve piorar ainda mais o que já não vai nada bem.
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POR José Pires

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