A esquerda brasileira passou anos repetindo a cantilena da “herança maldita”, com a acusação lançada aos adversários sobre problemas que o PT encontrou quando assumiu o governo. O mais atacado com essas acusações foi o governo anterior, do PSDB. No entanto, a verdade é que herança maldita mesmo é que vem sendo criada pela esquerda, com o legado trágico de governos populistas como esse comandado por Nicolás Maduro, na Venezuela, além de outros países que tiveram a infelicidade de ter governos parecidos, como o próprio Brasil, com o ciclo de governos petistas de Lula e Dilma Rousseff.
Enquanto esteve no poder, o PT até mesmo se serviu do poder econômico e político do nosso país, criando esquemas para beneficiar regimes alinhados politicamente ao partido do Lula. Foi o caso dos favorecimentos ao governo de Evo Morales, na Bolívia, da imensa fortuna despendida em financiamentos a empreendimentos como o Porto de Mariel, em Cuba, além da dinheirama desperdiçada na Venezuela. A conta com o regime bolivariano ficou pesada. Sem contar o que vai ser gasto com o desastre político e econômico gerado pelo chavismo — para se ter uma idéia, nesta quarta-feira o governo brasileiro para liberou R$ 223,8 milhões para assistência emergencial e acolhimento de cidadãos da Venezuela. Além desses custos extras, tem também o prejuízo com os negócios feitos pelos petistas, como o calote de R$ 1,6 bilhão ao BNDES.
É um tremendo prejuízo que vem do que chamei de herança maldita, cujo custo não é apenas financeiro. Na dificuldade de tirar Nicolás Maduro do poder está o substrato dessa herança, com capacidade ideológica de criar uma variedade de problemas por um tempo indefinível, mesmo que aconteça logo a queda do ditador venezuelano. Desde a primeira eleição de Hugo Chávez, o regime bolivariano estabeleceu um apoio popular organizado, que age na sustentação do governo e na intimidação dos adversários, com o uso inclusive da violência física. Para isso, tiveram a assessoria da ditadura de Cuba, que conta com uma técnica antiga de manipulação e controle das massas. Chávez herdou essas técnicas cruéis.
O regime cubano cuidou muito bem do controle da população, já no começo da Revolução Cubana. Desde 1960 até as crianças são organizadas por meio dos chamados “Pioneiros rebeldes”. Os jovens têm também suas instituições próprias. Vejam a semelhança com manipulação de crianças e jovens promovidas pelo regime nazista na Alemanha e pelos fascistas de Mussolini, na Itália. No Brasil é provável que haja uma surpresa logo mais com o resultado, digamos, em “recursos humanos”, do que o MST vem produzindo atualmente em escolas totalmente sob o poder da organização. O autoritarismo não se consolida sem este controle das massas, que começa na doutrinação dos mais jovens.
O governo de Hugo Chávez e de seu sucessor Maduro contam com a assessoria direta do governo cubano, que hoje em dia na América Latina é o regime com maior experiência no domínio político de uma população. Nesta técnica, um de seus trunfos foi a criação dos Comitês de Defesa da Revolução, os CDRs, que atuam de forma local, em comitês formados pelos moradores de cada bairro. Em Cuba isso existe desde a subida de Fidel Castro ao poder. Cada CDR é responsável pelo controle do que acontece no bairro, claro que com a política secreta no controle nacional do mecanismo. É uma infalível máquina de delação, com um papel terrível de intimidação no cotidiano de cada cidadão. Esta modalidade de controle político foi instituída na Venezuela, onde atua também com membros armados, com milícias que agem para intimidar adversários nos períodos eleitorais.
Sua atuação explica em parte o sucesso eleitoral de Chávez e depois de Maduro. Em determinados bairros é impossível a oposição entrar para fazer campanha. O processo é muito parecido com o que acontece em localidades do Rio de Janeiro controladas por milícias paramilitares. A diferença é que na Venezuela esta pressão violenta é sustentada diretamente pelo governo de Maduro, com justificativa ideológica até para matar os que são contra o regime bolivarianista. Com Chávez, as eleições na Venezuela transcorriam em clima de intimidação e supressão até do direito de ir e vir da oposição. Com Maduro é a mesma coisa. O poder é mantido no grito, com violência e desrespeito às mínimas regras democráticas. Isso vem da herança maldita estabelecida anteriormente pelo regime cubano, que depois teve a ajuda política e financeira do governo do PT na sua sustentação. E o pior é que independente do que ocorrer com Maduro, a herança maldita se manterá como um grande perigo, com influência no futuro da Venezuela e também no que vamos viver aqui no Brasil.
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POR José Pires
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