segunda-feira, 15 de julho de 2019

Eduardo Bolsonaro, o filho que não reconhece seu lugar

O deputado Eduardo Bolsonaro é entrevistado na edição desta semana da Veja. A revista deu-lhe cinco páginas, espaço que é para poucas estrelas da política. O filho de Bolsonaro opina sobre quase tudo de importante que envolve hoje o governo de seu pai, mas o mais interessante é que disserta sobre assuntos de Estado como se estivesse em uma posição política alcançada por mérito próprio. Dá a impressão de que não se dá conta que o interesse da imprensa não é exatamente pela sua atividade política pessoal, pelo peso político como parlamentar ou qualquer outra questão de mérito (essa palavrinha que a direita repete tanto, pelo menos antes do nepotismo explícito do bolsonarismo), em posição alcançada por esforço próprio. É uma entrevista com o filho do presidente. E ponto.

Não há razão alguma em seu currículo político para que haja interesse do leitor no que ele pensa, do mesmo modo que ocorre com seus irmãos, igualmente políticos eleitos pelas mãos paternas, que são notícia apenas pelo vínculo familiar com o poder. Eduardo Bolsonaro nada mais é que um deputado do baixo clero, qualificação inferior que não consegue superar mesmo estando na presidência do presidente do PSL em São Paulo e sendo filho do presidente. Ele é de pouca eficiência como articulador e não mostra serviço também na liderança. Alguém ouviu falar dele agindo na votação da reforma da Previdência? Para se ter uma idéia de sua capacidade pessoal, basta ver como anda a situação de seu partido e a precariedade da base do governo de seu pai.

Seu currículo como deputado é fraco e se tem algo para ser notado são os episódios pitorescos. Na legislatura passada ele marcou presença na sessão da votação do impeachment de Dilma Rousseff, depois da cuspida do então deputado Jean Wyllys em seu pai. Eduardo aparece em um vídeo correndo atrás do deputado do Psol e disparando cusparadas. Outra cena importante de sua carreira é a de uma troca de mensagens entre ele e seu pai, quando Bolsonaro foi candidato a presidente da Câmara e teve apenas quatro votos. Não recebeu nem o voto de Eduardo, que estava nos Estados Unidos e era disso que ele reclamava na mensagem ao filho.

Na eleição passada ele foi o deputado federal mais votado da história, com 1,8 milhão de votos. No entanto, como aconteceu com tantos outros, o caminhão de votos veio no embalo da onda direitista que também elegeu Jair Bolsonaro. Eduardo segue na sombra do pai. Embora tenha tido votação altíssima em São Paulo, exerce pouca influência no estado. Teria dificuldade de se eleger prefeito em qualquer uma de suas cidades, ainda mais na capital. Nunca se ouviu falar de atividade alguma do filho de Bolsonaro com ligação com o estado ou a capital, seu atual domicílio eleitoral. É provável que não saiba sair do Ibirapuera e chegar em Santana. Certamente teria dificuldade de liderar qualquer movimento expressivo no estado, de articulação para as próximas eleições.

Pode ser que seja por esta falta de conexão e traquejo com atividades práticas da política que Eduardo esteja ansioso para sair do Brasil, no que ele está correto se a sua vontade for avaliada por suas chances de crescimento político no Brasil por mérito próprio — voltando à palavrinha de que tanto gostava a direita brasileira. Talvez ele acredite numa chance de criar uma identidade própria ao lado de Donald Trump. Por isso tenta cavar com o paizão uma boca boa na embaixada brasileira estrategicamente mais importante da atualidade. Tem muita gente reclamando de sua indicação, o que eu acho um equívoco. O currículo é perfeito para uma nomeação feita pelo presidente Bolsonaro.
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POR José Pires

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