segunda-feira, 8 de julho de 2019

Veja e seus parceiros na tentativa da criação de narrativas que não colam

Parece que o lulo-petismo afinal conseguiu armar uma força-tarefa na imprensa. O objetivo mais que óbvio é derrubar Sérgio Moro, não apenas pela sua capacidade pessoal de caçar corruptos, mas pela carga simbólica de sua imagem. A queda de Moro seria um impulso para livrar Lula, o que neste caso também não se trata unicamente da liberdade de um indivíduo.

Os significados se entrelaçam nesses acontecimentos. A queda de Moro e a liberdade de Lula abrem espaço para um retrocesso no novo padrão de rigor instalado pela Lava Jato, com o trabalho para o fim da impunidade e da justiça seletiva. O Brasil conquistou finalmente o direito da prisão de corruptos, algo que jamais acontecia com os poderosos antes das ações memoráveis desses valorosos agentes públicos .

Este modus operandi já alcançou resultados fantásticos, no entanto ainda não é um padrão estabelecido. Pode ser derrubado. E se isso ocorrer, o país perderá a chance de obter o efeito mais importante dessa transformação, de estender para a segurança pública este mesmo rigor na caça e na punição de criminosos de colarinho branco, além de corruptos que preferem camiseta vermelha com estrela estampada.

Que ninguém deixe de lembrar que antes de atuar contra a corrupção Moro condenou chefões do crime organizado. Agora, no Ministério da Justiça, é o primeiro da pasta em décadas que atua contra chefões de quadrilhas e de faccões. E também tem uma posição de rigor contra organizações criminosas, com propostas para serem aplicadas com firmeza contra o crime. Corruptos que ainda não foram alcançados pela Lava Jato vibram com a exploração desses vazamentos, mas não tenho dúvida de que haja também muita vibração da parte de chefões do crime levados para a tranca dura de prisões federais.

Em sua matéria de capa desta semana, Veja afirma que não é por ser contra Sérgio Moro que a revista entrou de parceria na exploração dos vazamentos. Em editorial e na reportagem, afirma-se também que a publicação das mensagens particulares não é contra a Lava Jato. Veja também deixa claro que as mensagens não servem para anular o processo que levou Lula para a cadeia. Por sinal, em editorial a Folha de S. Paulo disse a mesma coisa.

Claro que isso desmente a própria chamada de capa da revista. Na montagem leviana, Sérgio Moro faz pender para um lado a balança da Justiça. Dentre especialistas procurados pela imprensa para opinar sobre estes vazamentos, mesmo os de opinião mais rigorosa — alguns deles críticos antigos de Moro e da Lava Jato —, nenhum aponta ilegalidade que tenha influído diretamente nos processos.

Alega-se que as conversas foram impróprias, alguns dizem que um juiz não deve se comportar desse modo, porém fica muito claro que não houve manipulação de provas. A própria Veja afirma a mesma coisa. Portanto, sem relação de causa e efeito a chamada “Justiça com as próprias mãos” faz dessa capa uma das mais levianas da história da imprensa brasileira.

Quanto à libertação de Lula, acontece que de fato o sucesso da exploração dessas mensagens pode conduzir o país a uma condição muito mais trágica. Encaixado no propósito de soltar Lula está o fim da prisão em segunda instância. Então, abre-se um campo amplo para impunidade. Acabando a prisão em segunda instância, a liberação vai ser geral. O clima de desesperança com a Justiça vai favorecer também o crime comum.

Que ninguém se engane: solta-se Lula e por extensão a Justiça fica obrigada a soltar outros criminosos. Francamente, não dá para acreditar que numa situação com a Lava Jato desmoralizada os suspeitos de matar a vereadora Marielle estariam presos, como permanecem até agora. E crimes menos visíveis, estes com certeza terão um acobertamento facilitado pelo clima social de desesperança e falta de efetividade policial e de Justiça.

Quando se pergunta de onde vem esse hackeamento que surrupiou centenas de mensagens privadas de autoridades da promotoria pública e do Judiciário, pouco se fala do interesse do crime organizado que domina o narcotráfico, pratica assaltos, organiza milícias. Pode até ser que não haja relação direta entre o crime organizado e a ação que resultou nesses vazamentos explorados de início pelo The Intercept, que depois dividiu o produto suspeito com a Veja e a Folha de S. Paulo. Mas alguém acredita que a desmoralização da Lava Jato beneficia o lado honesto da sociedade brasileira?

O efeito desses ataques pode beneficiar bastante o crime comum. Felizmente até agora os brasileiros não foram convencidos por esta reação contra a Lava Jato, em ações evidentemente combinadas e que contam com todo o apoio de uma parcela de corruptos ainda com muito poder. Tomara que não prevaleça este plano pela impunidade. Com certeza chefes de quadrilha envolvidos em assaltos e assassinatos, matadores cruéis que dominam pelo terror comunidades inteiras, poderosos traficantes de drogas, essas figuras nefastas que aterrorizam o Brasil estão na maior ansiedade com a perspectiva de que se instale um clima favorável às suas atividades criminosas.
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POR José Pires

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