quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Desarticulações de um presidente que não se entende nem com seu próprio partido

Nesta quinta-feira temos o julgamento do STF que pode liberar os maiorais para fazerem suas lambanças sem o risco de ir para a cadeia na segunda instância, por isso está havendo menos atenção à definitiva comprovação do desmonte da autoridade pessoal do presidente Jair Bolsonaro. Foi exatamente hoje, quando ele sofreu uma derrota feia na disputa pela liderança do PSL na Câmara. Bolsonaro não tem influência nem no seu próprio partido, mesmo tendo jogado pesado, colocando a máquina do governo na pressão para colocar seu filho Eduardo Bolsonaro no lugar do deputado Delegado Valdir.

Bolsonaro se meteu pessoalmente na briga pelo cargo e foi bem do jeitão atabalhoado que costuma usar para fazer política. Ontem foram revelados diálogos, com ele cabalando votos para o filho. Hoje apareceu outro áudio, desta vez de uma reunião na noite de ontem do deputado Delegado Valdir com outros deputados do PSL. O deputado chama o presidente de vagabundo e afirma que tem uma gravação que pode implodir o governo.

Vejam o que ele disse: “Eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele. Eu tenho a gravação. Não tem conversa, não tem conversa. Eu implodo o presidente. Acabou o cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu votei nessa porra. Eu andei, no sol, 246 cidades gritando o nome desse vagabundo”. A existência do áudio foi revelada nesta tarde pelo site O Antagonista, que depois teve a confirmação do deputado Delegado Valdir sobre o conteúdo das gravações. Ele só não disse ainda o que exatamente tem para implodir Bolsonaro.

Como consequência da briga com o partido, Bolsonaro rompeu com a deputada Joice Hasselmann, figura emblemática de seu governo e uma das primeiras pessoas a ficar do seu lado na disputa pela presidência da República. Nesta quinta-feira a deputada foi destituída por Bolsonaro da liderança do governo no Congresso e soube pela imprensa da perda do cargo.

Depois de ser tirada da liderança, Joice andou falando a colegas deputados que mandou uma mensagem ao ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Ela fez uma lista dos aliados que Bolsonaro demitiu até agora e disse que o próximo será ele. Ramos é general da ativa e tem amizade de muitos anos de Bolsonaro. Nem assim ele conseguiu convencer parlamentares do PSL a apoiarem Eduardo Bolsonaro para a liderança do partido na Câmara.

Esta é a condição política dramática de Bolsonaro, resultado de seu espírito de deputado de baixo clero. Mesmo com o poder da caneta ele não consegue ter articulação política nem internamente em seu partido. E os filhos que ele colocou na política herdaram sua incapacidade de convencimento. Eduardo Bolsonaro ocupa a presidência estadual do PSL em São Paulo e foi o deputado mais votado do estado. Mas mesmo assim é fraquíssima sua influência entre os correligionários. Da mesma dificuldade de liderança padece Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro e presidente do partido no estado. No mês passado, Flávio determinou a saída do PSL da base do governador, mas ninguém obedeceu.

Bolsonaro conseguiu a façanha inédita na política brasileira de ser o primeiro presidente da República que não tem o respeito nem do seu próprio partido, que dirá dos outros. Os poucos projetos relevantes de seu governo, como a reforma da Previdência, foram também tomados por lideranças de outros partidos na Câmara e no Senado, sofrendo mudanças e sendo encaminhados sem a sua interferência. O governo só se movimenta quando se manifestam forças externas a seu comando.

A coisa está feia para o homem que a ministra Damares Alves profetizou que comandará o Brasil nos próximos 16 anos. Parece que a ministra pirou de novo na goiabeira. Se Bolsonaro completar os quatro deste mandato já vai ser um milagre.
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POR José Pires

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