quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Regina Duarte e Bolsonaro: um noivado que pode dar em mau casamento

Para que Regina Duarte tenha uma boa atuação na combalida Secretaria da Cultura o presidente Jair Bolsonaro teria de mudar completamente sua atitude frente ao conjunto dos profissionais do setor em todo o país, na sua quase totalidade com sentimentos opostos ao que pretende este governo. Não estou fazendo juízo de valor de um lado nem do outro, apenas situando uma dificuldade séria de relacionamento deste governo com o que se passa atualmente na cultura no Brasil.

Para mim é muito claro que não basta colocar no cargo uma pessoa amistosa para que se resolva esse dilema político, muito mais profundo do que pode aparentar. Toca em questões de doutrina, visão de mundo, nas relações familiares e de comportamento. É exatamente por aí que veio um dos impulsos mais determinantes para o sucesso eleitoral de Bolsonaro. É óbvio que não é fazendo vídeo com discurso de Joseph Goebbels que vai-se encontrar a tônica cultural do governo, mas isso também não virá de uma troca de amabilidades com um setor tomado quase todo por um espírito contrário ao que Bolsonaro representa.

Bolsonaro parece ter dificuldade de raciocinar como adulto, mas nós podemos fazer isso: se houver um fortalecimento da cultura que aí está o que sobrará desse governo? Bolsonaro vai se estrepar quando tentar a reeleição e não deixará nenhum legado cultural, o que é mortal na política.

Se Regina Duarte for mesmo tão amável como ficou marcado em sua imagem, então Bolsonaro fez uma péssima escolha para o cargo. Num governo como este a questão cultural não pode ser um mero apêndice e muito menos pode ser tocada ao sabor dos rumos definidos pelos que trabalham na área da arte e da cultura, com pesada influência em todos os meios de comunicação. É preciso personalidade forte e amplo conhecimento do meio, não só do ponto de vista cultural como também administrativo, com o controle sobre o que corre por todo o território nacional.

Será que é preciso ressaltar que minha análise nada tem a ver com torcer ou não para que este governo dê certo, do mesmo modo que não procuro me contrapor aqui aos rumos da cultura brasileira? Do jeito que rola o desentendimento e a dificuldade de interpretação de texto, creio que cabe o aviso.

Com todo o respeito por Regina Duarte, ela parece não ter essas qualidades que apontei como necessárias para o cargo. Já com mais de um ano de mandato de Bolsonaro, em uma situação em que, no geral, quase tudo anda atrasado neste governo — de forma “imprecionante”, como diria o ministro Weintraub —, vimos ela passar os últimos dias feito uma estagiária, procurando saber como é o funcionamento da pasta. Nesta situação quais serão os fundamentos de quem vem afirmando que Bolsonaro acertou na escolha e que a atriz vai dar conta do trabalho de focar o trabalho da Secretaria da Cultura em termos mais eficientes do que a pauleira e incompetência que houve até agora?

Saberemos do desfecho quando finalmente a atriz tomar uma decisão, já que vem mostrando ser bastante enrolada, prolongando um “noivado” que tem pela frente muita coisa para ser feita. De qualquer forma, será com rapidez que o país terá notícias do casamento, pois tanto do lado dos bolsonaristas quanto de quem faz cultura no país essas coisas são resolvidas de pronto, com muita confusão e desacertos. E Regina Duarte que se cuide, pois Bolsonaro costuma abandonar a noiva assim que as coisas se complicam.
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POR José Pires

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Imagem- Regina Duarte em "Véu de noiva", novela da TV Globo, de 1969, quando a atriz
começou sua carreira de "namoradinha do Brasil"

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