domingo, 22 de março de 2020

Bolsonaro, um presidente blindado ao bom senso

Como já escrevi antes de se instalar no Brasil o medo do contágio pelo novo coronavírus, além do país ter que lutar contra o risco grave desta doença somos obrigados a enfrentar uma batalha diária contra o presidente da República mais ignorante da história deste país, para citar o chavão daquele outro ignorante, poderoso até há pouco tempo e irregenerável representante de uma imbecilidade de esquerda.

Bolsonaro ainda não virou capa da Time ou da The Economist — que na edição desta semana sintetizou o fechamento do planeta — nem foi para as manchetes de jornais importantes como o Washington Post, o New York Times ou os diários europeus Le Monde, Libération, La Repubblica, Corriere Della Sera, El Mundo, El País e tantos outros, mas nosso presidente não virou uma estrela internacional em relação ao tema deste vírus porque o mundo está ocupado com algo realmente muito sério. Ninguém vai se ocupar agora com um governante idiota que chama o Covid-19 de “gripezinha”, mesmo depois do vírus ter contaminado mais de duas dezenas de membros da equipe que ele levou aos Estados Unidos, em visita ao presidente Donald Trump.

Enquanto governadores e prefeitos brasileiros procuram fazer algo para conter a proliferação de um vírus que até agora já matou mais de 10 mil pessoas no mundo, um trabalho que conta com uma paciente colaboração da população, Bolsonaro desmerece o esforço coletivo contra a contaminação, que é ainda mais desgastante porque em mais de um ano de mandato seu governo não organizou a máquina pública nem direcionou o país para um período de desenvolvimento e equilíbrio moral, tarefa para a qual ele foi eleito e não cumpriu.

Bolsonaro é um cínico. Depois de esgotar quase metade de seu mandato sem conseguir realizar nem o que há de prático em um governo e dando ao país um PIB pior do que os pibinhos dos dois presidentes que o antecederam, ele tenta de forma hipócrita colocar a culpa nos outros por seus fracassos. E pior: procura desavergonhadamente justificar a incompetência administrativa e econômica apontando o desastre como efeito de medidas sanitárias absolutamente necessárias.

Neste caso específico, pode-se dizer que o discurso de Bolsonaro tem uma base fascista de linguagem, pois o presidente tenta jogar os brasileiros contra seus adversários políticos. Seu argumento é detestável: procura culpar exclusivamente as medidas necessárias de confinamento pelo esvaziamento econômico do país.

Feito um caudilho de direita com ares mussolinianos, ele vem tentando aproveitar-se do medo da população para se fortalecer politicamente, talvez até para adquirir um poder acima do que é conferido ao presidente da República pela Constituição. Para esta situação serve aquela velha história de que se deve acabar com a saúva: o que não se pode é deixar Bolsonaro acabar com o país.

A sorte dos brasileiros é que muito antes do aparecimento deste vírus mortal, de tanto falar besteiras e bater e aprontar com todos — inclusive contra amigos que o apoiaram —, Bolsonaro já vem sendo tratado como um inimputável a quem não se deve dar ouvidos. Imaginem o estrago que ele estaria fazendo se a sua palavra ainda tivesse um peso diante da opinião pública. Felizmente é mínima a quantidade de pessoas que levam a sério esse sujeito sem noção, sendo que, por sua vez, esses seguidores fanáticos não têm mais influência no debate político. Servem apenas como ruído agressivo.

No entanto, a própria “inimputabilidade” de Bolsonaro deve cessar logo que o risco do Covid-19 diminuir a ponto de permitir as manifestações de rua. Provavelmente os brasileiros sairão às ruas para exigir sua deposição legal, isso se a classe política não antecipar a retirada da presidência da República deste despreparado perigosíssimo. Já existem os ensaios desse bota-fora democrático, com a volta dos panelaços que deram início à queda também democrática da petista Dilma Rousseff e o esquema de poder do lulopetismo.

Quando acabar o medo do coronavírus, com certeza vai ficar na memória a lembrança do comportamento de cada um dos nossos dirigentes durante esta grave crise que afeta nossa sobrevivência. Não tenho dúvida de que então os brasileiros sairão às ruas — com camisa verde-amarela, laranja, lilás, rosa, até mesmo vermelha ou de qualquer outra cor — para exigir a saída deste sujeito sem noção de qualquer coisa e totalmente desqualificado para o cargo que ocupa.
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POR José Pires

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Imagem- Ilustração de minha autoria, feita com a imagem
da Terra fechada, tirada da capa da revista The Economist

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