sexta-feira, 8 de maio de 2020

Coronavírus e Bolsonaro: dois problemas que se completam

No depoimento à Polícia Federal de Sergio Moro existem razões sólidas para dar encaminhamento ao impeachment de Jair Bolsonaro, embora sua retirada do governo pela via democrática não exija as acusações surgidas do rompimento com o seu ministro mais popular. O presidente já havia aprontado bastante, antes de Moro apontar a interferência do presidente na nomeação da direção da Polícia Federal no Rio de Janeiro e a exigência da demissão do diretor-geral da Polícia Federal.

O crime de responsabilidade já basta como motivo de impeachment de um presidente. Porém, a pergunta que se faz é como abreviar o mandato de Bolsonaro em meio a uma pandemia do coronavírus, o que para mim é uma falsa questão. É mais razoável avaliar a tremenda dificuldade de enfrentar uma crise sanitária mundial muito grave em décadas, estando sob o comando de um comprovado incapaz, que ainda por cima parece ter sérios problemas psicológicos.

Ninguém sabe qual será a duração da pandemia, do mesmo modo que ainda não se tem conhecimento suficiente sobre a ação deste vírus. No entanto, desde o início da pandemia Bolsonaro vem se colocando contra os procedimentos que até agora servem no combate à propagação da doença, os únicos que conseguem conter o contágio, evitando ou ao menos amenizando o colapso no sistema público de saúde.

A ação contínua do presidente para atrapalhar o empenho dos brasileiros no combate ao vírus pode ser comparada a de um quinta-coluna, que é o sujeito infiltrado entre combatentes para colaborar com o inimigo. E o vírus vem sendo favorecido por Bolsonaro, com mais mortes do que poderia ter ocorrido se o presidente da República trabalhasse pela união dos brasileiros e não fosse o estimulador do boicote ao isolamento social e de uma desordem política que atrapalha tudo.

Se no Brasil não tivéssemos este presidencialismo com ares lamentavelmente imperiais há meses Bolsonaro já teria tido a queda democrática de seu governo, levando com ele toda sua equipe de figuras de uma incapacidade que não se via há tempos na política brasileira. E de qualquer modo é uma triste injustiça que este sujeito nefasto vá sendo poupado por uma tragédia que ele mesmo atua deliberadamente para agravar.

Bolsonaro vai acabar tendo que arcar com a responsabilidade da terrível quantidade de mortes previstas nesta crise, sendo exatamente esta trágica conta que vem sendo colocada por alguns como o fator que abriria caminho para o impeachment. Ora, esperar o agravamento da pandemia para resolver uma questão política muito grave — punindo um sério crime de responsabilidade de um presidente — vai tornar o impeachment ainda mais traumático, pois dessa forma a queda de mais um presidente estará ligada ao drama da dependência do número de mortos causada exatamente pela sua irresponsabilidade e incompetência.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

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