quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A pancadaria do bolsonarismo à toda, aumentando o prestígio de Sergio Moro

Quase todo mundo acha que o procurador-geral da República, Augusto Aras, age de acordo com o interesse do presidente Jair Bolsonaro ao atacar violentamente a força-tarefa da Lava Jato, mirando especialmente os procuradores do Ministério Público Federal comandados por Deltan Dallagnol e claro que fazendo referências negativas diretas em público a Sergio Moro.

 

É óbvio de quem Bolsonaro tem mais medo em uma eleição presidencial futura, do mesmo modo que nem adianta tentar esconder de onde vem o maior desconforto de parte dos políticos brasileiros, especialmente entre os mais influentes, sempre ávidos por mais poder e dinheiro. É dele mesmo, Sergio Moro, cujo nome, reparem, nem precisa mais de identificação, além dele estar com a imagem descolada de um governo incompetente como o de Bolsonaro, mesmo tendo sido seu ministro mais destacado.

 

Que Augusto Aras trabalha para Bolsonaro e não para o Brasil eu não tenho dúvida nenhuma. Ele age como preposto, até porque contraiu uma dívida grande com Bolsonaro, bem maior do que qualquer outro procurador-geral tinha com os outros presidentes. Cabe lembrar que Aras estava fora da tradicional lista tríplice. Ganhou um presentão, que exige bom comportamento. Com a cobiça pelo cargo de ministro do STF redobra-se o esforço para agradar o chefe.

 

Só que tem um probleminha. É que Aras está devidamente integrado na equipe de Bolsonaro até pela pouca capacidade política, com a mesma dificuldade de articulação e conhecimento estratégico de todos que cercam este sujeito sem noção. Com poucas tacadas, o procurador-geral situou Sergio Moro num patamar político que o recoloca na posição simbólica do homem que pode resguardar o legado ético da Lava Jato, para evitar que voltem os tempos em que maiorais não iam para a cadeia no Brasil.

 

Ineptos como Aras não vão conseguir entender que estão diante de um mito, muito menos que este mito não é Jair Bolsonaro. Eles também não estão aptos para compreender que com as ações que tomam estão colocando como pauta forte da política o combate à corrupção.

 

Já permanece em destaque o tema da segurança pública, não só em relação ao crime organizado, o narcotráfico e o domínio das milícias, como também na desesperadora condição em que se vive hoje nas cidades brasileiras. E politicamente, esta área tem um sinônimo na política em um nome que não é Jair Bolsonaro, nem tampouco Lula ou de qualquer outra personalidade.

 

Observo com naturalidade — mas sem deixar de rir — os equívocos de analistas e até a torcida escandalosa de alguns jornalistas, na afoita satisfação com as maquinações que podem levar a Segunda Turma do STF a finalizar o julgamento iniciado em 2018, em prejuízo do ex-magistrado na sua condução da Lava Jato. Bem, esta seria mais uma maneira de turbinar a lenda.

 

O cenário ficaria ainda melhor do ponto de vista eleitoral se inocentassem Lula e alguns criminosos do seu partido. O próprio PT entraria em campo para aumentar seu prestígio. Ah, mas tem a lei da Câmara Federal que pode impor-lhe uma quarentena de oito anos.

 

Bem, este não é um período de resguardo obrigatório que pode abalar de vez a carreira política de um homem com apenas 48 anos. E caso forcem tanto assim a barra, com lei aprovada especialmente para evitar sua candidatura, não existe meio de imposição legal a ninguém de impedimento da participação política.

 

Vejam só, mais que votar, ele poderá também apoiar alguém. Mas este plano de acabar com o Sergio Moro parece que tem uns descaminhos inquietantes, não é mesmo? Neste rumo, ele pode se tornar o eleitor mais influente da política brasileira. Como estão sempre acusando-o de ter atuado para eleger o presidente da República, pode ser que na próxima eleição de fato ele esteja com força suficiente para isso.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌



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