sábado, 29 de agosto de 2020

As várias tramas da rede que se apossa do dinheiro público

O caso de corrupção que levou ao afastamento do governador Wilson Witzel e à prisão do pastor Everaldo Pereira envolve o roubo de dinheiro da Saúde no governo do Rio de Janeiro, em contratos relativos à pandemia do coronavírus, que vem arrasando o país, com a Covid-19 matando e desestabilizando a convivência entre as pessoas, além de afetar tragicamente a economia.

 

Claro que políticos roubando até recursos emergenciais de uma pandemia é motivo para muita indignação, porém, um ataque mais rigoroso aos ladrões de dinheiro público exige que não se entre na onda de que casos como este pedem um tratamento especial, até com penas diferenciadas. Quando a corrupção atinge uma condição sistêmica, como aconteceu no Brasil, não é com ataques localizados que vai-se atingir um resultado mais abrangente na defesa do dinheiro da população.

 

Não faz sentido uma avaliação isolada de um fato, quando a corrupção se processa como uma rede com linhas que se intercomunicam não só na ação deletéria ao interesse e direitos da maioria, como também na defesa dos corruptos. E que não se caia também no engano de personalizar o dano em figuras como Witzel ou neste pastor Everaldo, muito menos de achar que é uma questão exclusiva da direita.

 

Eleito na onda de Jair Bolsonaro e fazendo campanha com o presidente, Witzel é meramente a continuidade da corrupção estabelecida anteriormente por Sergio Cabral e antes disso por Anthony Garotinho, ambos eleitos com o apoio direto e entusiasmado de Lula, que fortaleceu Cabral inclusive com verbas e sustentação política da parte do Governo Federal, enquanto ele esteve como presidente em paralelo com Cabral no governo do Rio.

A corrupção no Brasil junta a direita, a esquerda, além do centro e até da extrema-esquerda, às vezes até ingenuamente quando estes extremistas atuam dificultando o uso da mão forte da Justiça contra corruptos e quadrilheiros, ladrões e gente muito cruel — que cabe dizer que estão também entre os pobres e não depende da cor da pele nem da orientação sexual.

 

Não se pode criar uma pena exclusiva num ou noutro caso de corrupção e cabe até evitar que nossa indignação se torne seletiva, pois o crime contra os recursos emergenciais de uma terrível doença está interligado a toda atitude imoral que acontece nos serviços públicos e também na iniciativa privada.

 

Acontece do mesmo modo com a defesa da manutenção dessa corrupção sistêmica. Os corruptos estão sempre atuando para fortalecer o conjunto da trama que os defende em rede, que se entremeia no apoio mútuo, mesmo quando suas ações não se intercomunicam diretamente. A corrupção é sempre uma ação conjunta, independente de fatores geográficos e temporais e dos lados políticos de cada ladrão do dinheiro público.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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