sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Presidente da OAB faz as pazes com a família Bolsonaro

Na indicação do desembargador Kássio Marques por Jair Bolsonaro para uma vaga no STF um episódio tocante foi o do reatamento de relações entre a família Bolsonaro e o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.

Santa Cruz anda trocando mensagens de WhatsApp com o senador Flavio Bolsonaro, filho mais velho do presidente, tendo recebido de Flavio uma mensagem com bandeirinhas do Brasil, agradecendo pelo elogio à indicação para o STF do desembargador, feita por seu pai.

No âmbito da conveniência de momento até entende-se a troca de amabilidades, afinal a entrada de Marques no STF pode atender a interesses diversos, com a disposição contrária do desembargador à Lava Jato, juntando com a possibilidade da presença de mais um juiz no STF atuando contra a prisão em segunda instância, cuja existência prejudica bons negócios de escritórios milionários de advocacia.

Já faz tempo que a OAB vem sendo tomada pelo espírito meramente corporativista, sobreposto ao seu papel histórico de respeito constitucional e da democracia, no entanto essa aproximação não deixa de ser um desrespeito com quem se solidarizou com a memória do pai de Santa Cruz, morto pela ditadura militar.

Há um pouco mais de um mês, Bolsonaro fez um comentário grosseiro sobre Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, estudante de Direito que desapareceu em 1974, preso por militares agentes do Doi-Codi, no Rio de Janeiro. Ele é pai do presidente da OAB, que reagiu com indignação e nisso teve toda a razão.

"Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele", disse Bolsonaro, em entrevista no dia 29 de julho.

Um comentário pesado como este certamente teria da parte de alguém com firmeza de caráter um posicionamento de dignidade mais duradouro, evitando aproximações com figuras do esquema político de quem fala um absurdo desses sobre um desaparecido pela ditadura, provavelmente torturado antes de ser assassinado pela repressão política da época.

Vejo isto como uma questão não só de respeito à vítima como de lealdade às pessoas e entidades que se solidarizaram com Santa Cruz quando Bolsonaro insultou a memória de seu pai.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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