Existe uma definição muito boa sobre o personalismo na política, nesta crença tola em salvadores da pátria, que é a frase “pobre do país que precisa de heróis”. O ponto preciso é de que só uma sociedade arruinada em quase tudo pode acreditar que pode haver salvação por este caminho, daí o lamento. E o que dizer então de um país que precisa do Lula como herói? Ora, talvez seja o cara certo, porque pelo menos não teremos que encarar o esforço de trabalhar para repor valores morais, que é a maior complicação numa sociedade em destruição, como a nossa.
Calma, eu sei que a honestidade é a base de qualquer trabalho de valor efetivo, ainda mais quando o objetivo é do interesse de todo o país. Mas esta a única razão que vejo como justificativa dessa corrida para apoiar a eleição de Lula, ainda mais com a alegação de “luta contra o fascismo”, que chega a ser insultuosa para verdadeiros heróis que no século passado combateram realmente fascistas, em tempos que duvido que esses bravos guerreiros da atualidade teriam coragem de sair nas ruas com essa conversa fiada.
Dá até tristeza pela condição terrivelmente antiética em que é jogado o Brasil, com esta incondicional adesão a um político que já demonstrou do que é capaz em matéria de imoralidade e noutras tretas em proveito próprio. A justificativa da luta pela democracia, ou contra o fascismo, só serve para passar menos vergonha por estarem colocando em prática aquele jargão de outros tempos difíceis dessa pátria desmantelada, na canção daquele sujeito que é ao mesmo tempo menestrel e guru na corte de Lula, que cantava “Chame o ladrão, chame o ladrão!”. Mas, espera aí: a música era de crítica, companheiros.
Lula na presidência será um sério problema prático, uma complicação que ele próprio garante que vai criar para nós, quando garante que está pronto para usar a experiência que adquiriu nos últimos anos. Ele diz que aprendeu muito, o que é assustador. Ainda mais? Eu diria que soa como ameaça, ao contrário dos que o aclamam como libertador do Brasil, todos agitando toalhas com a cara do larápio, marchando contra o fascismo. Lula já teve dois mandatos e mandou nos quatro que completam o período de governos petistas. Seu legado é de uma brutal queda moral que contaminou toda a sociedade brasileira, além de ter causado a destruição da economia do país.
Os números provam isso: o legado petista foi de 12 milhões de desempregados. Isso no oficial, é claro, pois os dados não pegam os trabalhadores que desistiram de procurar o que não existe. No final do governo Dilma, o Brasil estava com um déficit de 4,5%. O diagnóstico do desastre administrativo foi apresentado ao próprio Lula pelo jornalista William Waack, na CNN, durante a melhor entrevista feita com o chefão do PT neste período de campanha. Como é de seu costume, Lula negou tudo e ficou apavorado procurando em seus papéis um meio de contestar a verdade. Nada encontrou. O jornalista concluiu então a exposição dos números com a definição exata da consequência para o Brasil da visão econômica do PT: “Nenhum país que não esteve em guerra perdeu tanta renda como o Brasil perdeu ali entre 2014, 15 e 16”.
Waack foi claro, mostrando ao chefe político esquerdista o desastroso cenário que surgiu da “ideia de que o Estado seria um grande indutor do crescimento através de volumosos investimentos e papel dos bancos públicos”. Não se pode deixar de acusar a responsabilidade de Jair Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes na vida infernal que os brasileiros estão levando, no entanto — e sempre ressaltando a incompetência e má-fé do atual governo — deram prosseguimento do legado petista. Bolsonaro e Guedes vão entregar o país desgraçadamente parecido ao que foi feito pelas magias petistas da cervejinha e da picanha.
Lula resiste a apresentar um plano de governo, mas com este currículo, nem precisa. Que empresa contrataria um administrador como este? Muitas delas, como se vê pela correria de elites de todo tipo — inclusive as novas elites da nossa cultura, como Anitta e Pabllo Vittar — em apoio a um retorno, que o vice Geraldo Alckmin já definiu muito bem como “volta à cena do crime”. Ocorre que, embora não esteja devidamente exposto em um ideário do partido, já está mais que entendido a possibilidade de lucro com os valores morais, digamos, que se estabelecerão com uma volta ao poder como esta.
Já existem até estudos sobre o conceito de que o país ganha muito mais fechando os olhos para a corrupção e à incapacidade administrativa. É uma visão tão fora de propósito que não seria acreditável nem numa comédia grotesca sobre o Coringa elegendo-se prefeito de Gotham City com uma plataforma política de combate ao fascismo. No enredo proposto pela esquerda por aqui, na realidade, não se pune empresários ladrões e muito menos políticos idem porque — oh, dó! — senão eles perdem seus negócios. E não há motivo para espanto, afinal já foi avisado faz tempo que eles não têm medo de ser feliz. E tem até o gesto com a primeira letra da palavra “ladrão”.
Uma pergunta que faço aos que aclamam um sujeito tão trapaceiro é como faremos mais adiante com a educação dos mais jovens e mesmo nas relações entre todos os brasileiros. Como ficará a ética como conceito de vida depois da volta ao poder de um político que já aceitou a existência do mensalão e que também teve a roubalheira do petrolão na Petrobras? Como Lula mandava nos quatro governos petistas, ele não pode fugir de se enquadrar num dos dois casos. É com esse sujeito que o Brasil será salvo? Então a mensagem clara é de que valerá pouco, quase nada, ter respeito aos princípios morais de qualidade.
Aos brasileiros vai ficar a lição de que a aplicação honesta ao trabalho não abre portas para a realização pessoal, talvez nem mesmo para a subsistência — isso não dá futuro, será o conselho ao incauto que estiver agindo corretamente. Viveremos em um país onde quem passou a vida fazendo tudo com dedicação, de forma honesta, poderá achar que errou em defender princípios de dignidade e ética, sentindo que no decorrer da existência deveria ter se aproveitado dos outros? Isso é um tapa na cara dos mais velhos. E sinto dizer que servirá como um mau ensinamento aos mais jovens.
É um novo tempo que se anuncia. Uma revolução de costumes, que pode virar até jurisprudência jurídica, com certeza colaborando muito com o projeto de governo petista. Claro que de início será complicado explicar para os filhos e netos esse novo modelo de civilização, mas não há porque se preocupar: em pouco tempo a safadeza será tão normal que nem as crianças terão dúvida de que receberão aprovação ao bater no coleguinha e tomar seu brinquedo. E quem ainda tiver apego a métodos arcaicos de vida, como a honestidade e o respeito ao próximo, que arrume um jeito de se reinventar.