A viagem para a China serviu para que Lula tirasse finalmente a máscara, revelando que ele não tem nada de neutro no panorama mundial que se desenha a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia de Vladimir Putin. Lula fez o “Z”. O símbolo é visto em veículos militares, muros e fachadas, além de parecer pintado em carros e estampados em camisetas, inclusive em Moscou, com o significado de apoio à guerra. Ao contrário do que pode-se pensar, não é algo antigo entre os russos. Apareceu no início dessa agressão praticada por Purin e não se sabe com exatidão qual é a sua origem e seu significado.
Existem os que interpretam o “Z” como uma abreviatura de “Za podeby” (“para a vitória", em russo), assim como tem quem crê que isso quer dizer “Zapad” (“oeste”). Outros acham que seria uma mensagem de “desnazificar”, mas aí já é uma interpretação que vem do argumento mentiroso de Putin como uma das justificativas para a invasão violenta do território ucraniano.
Para Lula, o significado pretendido é de um posicionamento forte da sua imagem no cenário internacional, como também no Brasil. No nosso caso, além de criar a ilusão propagandística de ter um papel determinante na resolução do grave problema criado com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que envolve Estados Unidos e países europeus, o petista tenta aproveitar a ocasião reforçar o combalido caixa do governo.
Ao fazer o “Z”, o presidente brasileiro favorece vergonhosamente o interesse do ditador Putin e fortalece negociações com o enorme poder econômico da China, país aliado da Rússia na nova ordem mundial que se projeta, que tem do outro lado os Estados Unidos de Joe Biden.
No espetáculo onde julga ser protagonista e fazer um bom papel, Lula chegou a fazer uma visita à fábrica da Huawei, que até parece provocação. A Huawei Technologies é considerada pelos americanos um risco à segurança internacional. A empresa está no meio do conflito político e comercial entre os Estados Unidos e o governo chinês. A visita esquentou uma pauta política delicada, neste caso favorável à China.
Outro fato que não deixa de ter ligação com a visita de Lula, ainda mais com as calorosas palavras do petista, é o acirramento da ameaça de invasão de Taiwan, com os exercícios militares feitos pela China exatamente em momento próximo da chegada do presidente brasileiro. Mesmo se fosse apenas coincidência, o resultado criado com a viagem coloca o nosso país muito próximo de uma complicação em que o melhor é ficar de fora.
O Brasil está sendo obrigado pela posição despropositada de Lula a fazer um papel feio. Em vez de posicionar-se com clareza na condenação de uma guerra injusta e extremamente cruel, o governo petista aproveita a difícil situação para tratar de interesses puramente econômicos, com o clima de destruição e massacres de civis servindo como barganha nos negócios com a China, com o Brasil dando em troca uma subserviência vergonhosa, falsamente colocada como neutralidade.
É isso mesmo: Lula joga com o sofrimento terrível do povo ucraniano, manobrando a diplomacia brasileira com retórica de palanque. O Brasil já não é um país neutro há bastante tempo, especialmente quando o PT está no poder, como agora. Lula e seu partido sempre tiveram excelentes relações com ditaduras do pior tipo, com o chefão petista apelando inclusive para aquela intimidade asquerosa que dispensa o respeito ao ritual do cargo — com alguns desses criminosos expressava até afeto fraterno, como foi com o ditador Muammar Kadhafi, que Lula chamava de “meu amigo e irmão”.
A lista histórica das relações internacionais da diplomacia petista parece mais uma folha corrida, trazendo até muita suspeição sobre os laços fraternos com ditaduras da África e da América Latina, além de teocracias criminosas, como a da ditadura islâmica do Irã, todos, sem exceção, envolvidos em corrupção pesada, que em muitos casos atravessam décadas de roubo inclemente, impondo uma vida miserável e sem direito algum aos povos sob o domínio de castas de ladrões e assassinos. Nesta triste roubalheira, atuaram inclusive empreiteiras levadas por Lula a esses países.
Não é de hoje que Lula tem lado e é sempre de braços dados com o que há de pior no mundo, como na suspeita ligação até íntima com a ditadura da família Castro, em Cuba, onde ia quase todos os anos beijar a mão do ditador Fidel Castro, certa vez até quando um prisioneiro político morria em greve de fome nos cárceres do regime cubano.
No continente africano, o petista também se lambuzou, com gosto, entre más companhias, levando inclusive empreiteiros amigos para desfrutar de negócios com ditaduras, como fez com José Eduardo dos Santos, em Angola, que chegou ao poder à frente do grupo comunista do MPLA e ficou durante quatro décadas no comando, deixando como legado apenas sofrimento e miséria aos angolanos. O MPLA governa o país até hoje.
Lula também se deu muito bem com a ditadura cubana, com a Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, sempre em parcerias muito suspeitas, em que parece haver um compromisso obrigatório do petista amenizar qualquer crime ou corrupção. Se com esse histórico de cumplicidade política com ditadores terríveis, alguém ainda acreditasse que Lula se comoveria com a mortandade praticada por Putin na Ucrânia, com seus bombardeios direcionados à população civil, espalhando o medo e o terror entre inocentes, ora, quem achasse que isso atingiria o coração de Lula teria que esquecer que ele nunca teve compaixão com o sofrimento alheio.
Este é o cara que até agora não desaprovou nenhuma vez o regime de Daniel Ortega, ditador da Nicarágua que ganha eleições prendendo os candidatos adversários, que acabou com a liberdade de expressão, manda milícias paramilitares matar manifestantes nas ruas e persegue até a Igreja Católica, prendendo religiosos e expulsando do país seus opositores, com a empáfia de decretar a anulação da nacionalidade dos que foram forçados ao exílio.
Ortega prende e mata nas ruas quem protesta contra sua ditadura — foram mais de 300 mortes nas últimas manifestações. As pessoas detidas são torturadas, submetidas à violência sexual. E mesmo assim a esquerda brasileira permanece em silêncio. A cumplicidade cruel de Lula, também muito suspeita, vai mais longe: ele chegou a comparar Ortega à ex-chanceler alemã, Angela Merkel, usando o paralelo para justificar o fato do ditador nicaraguense usar eleições fraudulentas para não sair mais do poder.
Com a Ucrânia, para amenizar os crimes de Putin, ele fez outras alegações. E desta vez foi longe demais. Acostumado com a impunidade sobre as barbaridades que vem dizendo desde que ganhou a eleição, Lula avançou mais do que devia em um tema que exige responsabilidade. No final da visita a Pequim, o presidente pediu paciência com Putin e acusou os Estados Unidos de incentivar a guerra. Dá até para imaginar Joe Biden anotando o fato na sala oval da Casa Branca.
No seu raciocínio torto, Lula colocou no mesmo nível agressor e vítima, dando a entender que Volodymyr Zelensky não tem interesse na paz. Claro que ele aproveitou para exaltar a China como promotora da paz, bajulando o líder chinês Xi Jinping — outro que não quer mais sair do poder. Esta é a sua lógica absurda: as democracias ocidentais querem a guerra e o autocrata chinês anseia pela paz. O antiamericanismo da esquerda não é só idiota. É capaz também de dar o aval à barbaridades.
Vamos às asneiras de Lula: “Eu acho que a China tem um papel muito importante, possivelmente seja o papel mais importante (em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia). Agora, outro país importante são os Estados Unidos. Ou seja, é preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz, para a gente convencer o Putin e o Zelenski de que a paz interessa a todo mundo. A guerra só está interessando, por enquanto, aos dois".
É tamanho o absurdo, que seria para indignar-se, não fosse previsível a asneira, vindo de quem vem. Invadidos pelos russos, cujo exército tem um histórico de horror e crueldade desde a Segunda Guerra Mundial, os ucranianos têm interesse na continuidade da guerra.
Depois de ser escorraçado por um povo que ele imaginava que poderia fazer render-se facilmente, Putin pratica a velha guerra suja, que vem desde os tempos da extinta União Soviética. Os bombardeios são planejados para atingir a população civil, para intimidar o povo ucraniano, com velhos, mulheres e crianças sendo trucidados, famílias inteiras com os corpos destroçados nas ruas de cidades. Gente é torturada pelos russos, violências aterrorizantes são praticadas contra pessoas desarmadas. As tropas de Putin roubam tudo por onde passam.
Repete-se na Ucrânia um antigo método militar, que fazia dos russos as tropas de ocupação mais temidas na última guerra mundial, aterrorizando até seus próprios aliados. Só na cabeça de Lula nivela-se, desse jeito, a vítima e seu agressor altamente criminoso.
O governo petista vai procurar propagandear como um sucesso esta viagem lamentável, em que, na voz de Lula, o Brasil rebaixou-se como poucas vezes em sua história. O governo petista vai procurar pautar os negócios em andamento como um peso fundamental nas relações retomadas com mais vigor com a China. Até pode ser, no entanto eu penso que o custo político disso pode ser alto demais, em razão do posicionamento internacional que o Brasil passa a ter a partir de agora.
A confrontação política com os Estados Unidos, feita de modo desastrado e sem necessidade por Lula, ficará pendente para ajustes futuros de contas. E os americanos costumam fazer suas cobranças, às vezes de modo duro, mais cedo ou mais tarde. É óbvio que não acho que o governo do PT não deveria estabelecer relações comerciais mais firmes com a China. Mas penso que isso não deveria ocorrer sem comprar brigas desnecessárias. Ou será este um preço estabelecido pelo governo chinês?
Eu acho que essa conta vai sair cara. Depois dessa viagem, o Brasil não tem mais como sustentar sua imagem de neutralidade. O governo do PT coloca o nosso país em área de risco. Lula mostrou que tem uma posição clara, escolhendo numa época tremendamente perigosa o lado de autocratas, contra o ponto de vista de democracias ocidentais, inclusive do continente europeu, onde o risco é ainda mais sério, por causa da proximidade indesejável de Putin, o amigo do Lula que ameaça o mundo até com o uso de armas nucleares por Putin.
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Por José Pires
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