terça-feira, 9 de maio de 2023

O PT volta ao poder sem capacidade de governar e com o futuro do partido sob risco grave

A eleição de Lula foi uma infelicidade para o país, o que eu já sabia muito bem. Não houve como articular uma opção ao menos razoável no primeiro turno, sobrou a escolha entre os dois mais negativos ao nosso futuro. Porém a realidade vem sendo pior do que se esperava, porque Lula e seus companheiros estão numa regressão política que extrapola a expectativa ruim. O governo do PT já se encaminha para a metade do ano e ainda não se sabe nem como eles pretendem enfrentar os graves problemas econômicos que aí estão.


Na realidade, cercado de ministros longevos na idade e na carreira, Lula lidera um governo que parece de primeira viagem. Já de início, deixaram até as portas do Palácio do Planalto serem arrombadas. Por enquanto, repetem velhos erros, alguns deles até aperfeiçoados. Já houve tempo para que fossem apresentados planos eficientes em várias áreas, atacando problemas muito graves que foram objeto da campanha petista em peças agressivas, com promessas de soluções que viriam com urgência.


O povo mantém-se na espera, já sabendo de antemão que não haveria cerveja e picanha. Mas cadê as medidas que ao menos sirvam para amenizar estragos e estabeleçam um caminho razoável para melhorar a vida, mesmo que de forma modesta? Não se esperava muito, mas não tão pouco assim. Acontece quase nada e também não há nenhuma previsão de trabalho efetivo que encaminhe soluções atualizadas em relação ao contexto novo mesmo de velhos problemas que não tiveram, lá atrás, um tratamento de qualidade.


Uma coisa que ficou clara é que, em matéria de futuro, os petistas e seus aliados colocam na frente seus próprios interesses. Como é forte esta característica egoísta que hoje em dia marca o PT, no lugar do diferencial político que deu projeção ao partido, a partir da consagração eleitoral garantida pelo discurso que prometia dias melhores para o país. O Brasil tornou-se algo menor na pauta partidária, a não ser, é claro, em cada eleição, quando os petistas tornam-se novamente os arautos de mudanças revolucionárias.


Um fato importante sobre o estado a que chegou o PT, na sua transformação de um partido como outro qualquer do ponto de visto da ética e do valor efetivo de suas ações, é esta notícia desta semana sobre a nomeação de esposas de ministros para postos de altos escalões, em alguns casos apenas para engordar salários.


O Estadão desta terça-feira traz cinco dessas mulheres, com nomeações que já eram conhecidas, até para tribunais de contas estaduais. As esposas de Rui Costa, da Casa Civil, e de Wellington Dias, do Piauí, estão nesta lista. Vão receber salários altíssimos, ainda mais porque os pagamentos saem dos cofres de estados com população muito pobre há décadas.  Os salários de cada uma é de respectivamente R$ 37.589,96 e R$ 35.462,22, podendo ultrapassar R$ 50 mil com auxílios e indenizações.


Costa e Dias são ex-governadores, com mandatos seguidos. O grupo de ambos domina a política em seus estados há pelo menos vinte anos, em lugares que estão exatamente na mesma condição de domínio e pressão sobre os mais pobres, na mesma exploração em que estavam quando o PT começou a ganhar eleições nacionais. As promessas não só ficaram para trás, os petistas repetem o que faziam os velhos caciques, antes chamados pela esquerda de “elite exploradora”.


É neste tipo de atitude — coisas asquerosas e até sem senso de humanidade — que pode-se encontrar uma visão mais prática do que amolda a opinião pública e cria esta forte rejeição ao PT, especialmente da classe média com informação mais razoável do que fazem esses crápulas. O partido do Lula acabou. E ele próprio deu um final ao mito em torno da sua figura. Que infelicidade foi sua eleição, repito, mas teve pelo menos esta compensação: foi o fim do mito.


Pode-se comprovar com resultados eleitorais, especialmente na eleição para presidente, que já passou da hora do PT passar a ter medo de ser feliz. Nesta eleição presidencial houve um ponto de alta simbologia desta decadência. Mesmo criando armações poderosas com muito dinheiro e articulações escusas, Lula quase perdeu a eleição em segundo turno para um candidato com defeitos políticos e de personalidade tão terríveis, que não consta nele sequer compaixão pelos mortos e o sofrimento de amigos e familiares com as perdas trágicas que assolaram o nosso país.


Perde-se muito tempo em variadas interpretações sobre a flagrante derrocada sofrida na imagem de transformação política, que foi uma identidade forte da esquerda, criando um impulso ao crescimento do PT e de outros partidos de linha esquerdista, que foram gradativamente ocupando espaços em eleições legislativas e do Executivo, em várias instâncias. Engabelando os brasileiros com diferenças que nunca foram verdadeiras, o PT foi trabalhando na ampliação de poder até a conquista de quatro mandatos de presidente da República.


Não coloco na soma esta última eleição, na lamentável volta de Lula. A continuidade cessou no último mandato de Dilma Rousseff, decepado pelo meio. Esta última eleição de Lula nada teve a ver com o convencimento eleitoral progressivo do discurso esquerdista. Em 2022, Lula se elege impulsionado por uma ampla rede de interesses com o objetivo de se apoderar do Estado e demolir de vez a consciência social encampada pela população, de que a fonte básica das complicações nas mais variadas áreas estava na corrupção, que inviabiliza tecnicamente o enfrentamento dos problemas brasileiros.


Lula foi o ponto de apoio escolhido por elites do empresariado e da política — associados para sugar os cofres públicos — para “estancar a sangria”, expressão usada em maio de 2017, por Romero Jucá, líder do governo Temer e então senador por Roraima, um estado com maiores possibilidades de conquistar um mandato em arranjos de bastidores e muito dinheiro. Jucá dava o alerta de que havia urgência de acabar com a Lava Jato e apagar a animação popular que acreditava ser possível um país que botava corruptos na cadeia.


Não é preciso trazer muitas considerações sobre a falta de vigor do PT e da esquerda nesta eleição. Na disputa por cargos executivos, a derrota foi geral. No Congresso Nacional foi a mesma coisa. A exceção foi em estados, como se deu na Bahia e no Piauí, onde petistas souberam usar eleitoralmente os mesmos esquemas das antigas oligarquias. 


É visível que do ponto de vista da organização o PT está destroçado. No Paraná temos um exemplo significativo e que pode abranger o desastre político no plano nacional desse esfacelamento orgânico — esta palavrinha que a esquerda gosta tanto. É a base eleitoral de Gleisi Hoffmann, presidente nacional do partido, colocada no cargo por Lula em troca da sua total submissão.


Gleisi tem 57 anos e foi senadora por apenas um mandato, até 2019, quando não tentou se reeleger porque com certeza sofreria uma derrota humilhante. Optou então pela eleição mais fácil, como deputada federal. Cada mandato seu fica caro para o contribuinte. Na eleição passada, ela gastou exatos R$2.636.662,91. Deste total, 91,4% veio do fundo eleitoral: R$2.410.000,00.


A eleição desse pessoal tem essa facilidade financeira. Conta também o uso da máquina partidária e do Legislativo, em viagens por todo o estado durante todo o mandato, a exposição contínua da imagem inclusive nos horários gratuitos do partido, além dos diretórios municipais que podem atuar a serviço das candidaturas. É claro que isso permanece escondido nos bastidores.


Mas o que de fato existe como trabalho pessoal de Gleisi na organização de seu partido? Na última eleição, Lula teve menos votos no Paraná que Jair Bolsonaro nos dois turnos. No primeiro foi 55,26% a 35,99% dos votos válidos. No segundo turno, Bolsonaro aumentou bastante a vantagem, de 62,40% a 37,6%. 


Para governador, o PT teve que recorrer a Roberto Requião, que depois de 40 anos no MDB saiu corrido do partido para filiar-se ao PT. A derrota do neopetista Requião foi acachapante. Ratinho Júnior ganhou no primeiro turno, com dois milhões e seiscentos mil votos à sua frente — Requião teve exatos 1.598.204 votos. Gastou R$ 4.379.307,89 do contribuinte, quase 100% dos cofres do partido. 


Para o Senado, a coligação do PT teve Rosane Ferreira, do PV, que ficou em quarto lugar com baixa votação. É a situação de um partido totalmente sem lideranças novas, como está o PT até agora. No final, no desespero para impedir a eleição de Sergio Moro, os petistas apelaram também para o apoio à candidatura de Alvaro Dias, que acabou em terceiro lugar. 


Um ponto fundamental que mostra incapacidade de liderança de Gleisi está na eleição de Moro para o Senado. Na sua primeira disputa eleitoral, o ex-juiz acabou sendo muito bem votado, depois de enfrentar artilharia pesada de todos os lados, inclusive dos bolsonaristas, que tinham um candidato forte. Faltaram apenas 50 mil votos para que Moro alcançasse os dois milhões. Ficou com 33,50%, deixando o candidato bolsonarista em segundo lugar, com 29,12%.


Outra vitória importante, que merece constar no currículo de Gleisi como dirigente partidária, foi a eleição de Deltan Dallagnol, como o deputado federal mais votado do estado. Ressalte-se a diferença de gastos eleitorais em relação à Gleisi, com Deltan gastando 73% do fundo eleitoral.  Sem máquina partidária (no Podemos, que praticamente não existia no Paraná), o ex-promotor da Lava Jato gastou R$ 1.450.000,00, contra os já citados R$ 2.636.662,91 da deputada petista.


Creio que este relato da performance da apadrinhada de Lula como liderança política e da organização do partido, especialmente no seu próprio estado, serve como demonstração da condição em que está o PT. O partido não tem prefeito em nenhuma das cidades importantes do Paraná e também tem pouca participação nas câmaras municipais. 


Este cenário precário não é muito diferente nos demais estados. Em 2020, o PT não elegeu prefeito em nenhuma capital e na próxima eleição não existem candidatos com potencial de vitória na maioria das grandes cidades. É a partir disso que os petistas terão que enfrentar as eleições municipais do ano que vem. Se alguém acha que  é possível um crescimento político dentro deste padrão liderado por Gleisi e seu chefe Lula, terá então que contar apenas com a  sorte para que seu desejo vire realidade.

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Por José Pires

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