A perseguição política sofrida pelo ex-deputado Deltan Dallagnol tem um outro objetivo muito importante, além da destruição da carreira política do procurador da Lava Jato que levou Lula para a cadeia. O próprio Lula está aproveitando o arranjo de forças políticas contrárias a Dallagnol para uma ação que costuma promover para favorecer o PT em toda eleição: a manipulação do cenário político, de modo que fique mais fácil ganhar o voto do eleitor.
Ele fez isso na eleição presidencial. Desmontou planos de outros partidos ainda no primeiro turno. Derrubou outras no segundo, como fez, por exemplo, com Ciro Gomes e a sua aliada de governo, Simone Tebet. Se intrometeu nas campanhas estaduais, com barganhas sabe-se lá a que preço, desfazendo candidaturas e oferecendo cargos se fosse eleito presidente, como acabou acontecendo. É o que ele faz sempre, até com abusos, o que vai ficando cada vez mais fácil, agora que estão quase para proclamar a plutocracia neste país. E depois posa como carismático sedutor de multidões.
Esta manipulação, para manter o poder e ganhar um pouco mais, segue adiante em vários lugares. Nesta forçação de barra contra Dallagnol, que conta inclusive com a ajuda de forças do Judiciário, Lula e seu partido pretendem mexer no cenário político do Paraná, onde Gleisi Hoffmann tem sua base eleitoral. O PT vai muito mal neste estado, o que serve para mostrar a real capacidade de articulação da presidente nacional do PT. Já faz muito tempo que os petistas não ganham eleições em cidades importantes do Paraná, sendo que em algumas delas têm dificuldades até para eleger vereadores.
Gleisi tem altos motivos para odiar a Lava Jato. Ela foi denunciada por receber dinheiro da Odebrecht nas eleições de 2008, 2010 e 2014. Os processos a atingiram até no âmbito familiar. A petista foi casada com Paulo Bernardo, ex-ministro de Lula. Ambos são réus da Lava Jato, em processo que está para ser julgado pelo STF. Do jeito que anda o padrão moral do nosso país, mais uma absolvição não causará surpresa em ninguém.
Porém, mesmo limpando sua ficha na Justiça, no Paraná o partido terá de encarar a má situação eleitoral, causada pela gestão política de nível muito precário de Gleisi, que sempre mandou na sigla no estado. O PT nunca ganhou uma eleição para o governo estadual. A própria Gleisi disputou o cargo em 2014 e teve uma participação pífia. Ficou em terceiro lugar, com votação muito baixa.
Um embate eleitoral que já estava previsto para os petistas nas eleições municipais do ano que vem é com Deltan Dallagnol e Sergio Moro, figuras das mais simbólicas da Lava Jato. Por isso também a ferocidade dos ataques petistas aos dois parlamentares.
Moro e Dallagnol foram eleitos em 2022, demonstrando que estão com o prestígio firme no Paraná. Dallagnol foi o deputado federal mais votado e Moro se elegeu senador com votação bem à frente do segundo lugar, embora tenha enfrentado uma eleição difícil, com o PT se aliando até a antigos adversários na tentativa de derrotá-lo. O ex-juiz federal teve também que fazer uma campanha às pressas, depois dos petistas terem derrubado sua candidatura em São Paulo, também ao Senado.
O mandato de Moro também está bastante ameaçado, enfrentando ações do PT e de partidos que sempre serviram de puxadinho para o partido de Lula, agora ainda mais animados com a oferta de cargos no governo petista. O problema para Gleisi e Lula é que a cassação de Dallagnol deu-lhe mais projeção nacional, fortalecendo muito mais seu perfil de combatente contra a corrupção, agora com o acréscimo de vítima de perseguição de poderosos que não aceitam o fim da impunidade.
Tudo indica que nessas eleições municipais no Paraná, ao invés de abalar a influência política de Dallagnol, a cassação pode dar-lhe um papel de maior peso eleitoral. O mesmo fenômeno, de efeito contrário ao interesse do PT e de seus aliados nos ataques à Lava Jato, pode ocorrer se conseguirem atingir o mandato de senador de Sergio Moro.
Nesta situação, não será preciso grande esforço de marketing e organização política para que Dallagnol e Moro atuem como vítimas do esquema nacional montado nos sistemas político e judiciário por interessados em submeter o país à corrupção, estabelecendo a impunidade no país.
Moro e Dallagnol nos palanques municipais de cidades paranaenses parece projetar o contrário do que pretendiam Gleisi e Lula, na montagem do cenário eleitoral ideal no Paraná. O ódio petista, que o próprio Lula confessou que alimentou durante os anos de cadeia, pode ter turbinado o prestígio de cabos-eleitorais que vão atrapalhar bastante o PT no ano que vem.
. . . . . . . . . . . . . . .
Por José Pires
Nenhum comentário:
Postar um comentário