A reunião da semana passada, entre o presidente Lula e seus ministros, me fez lembrar de outra reunião presidencial, essa do governo de Jair Bolsonaro, quando foi gravado o famoso vídeo que revelou o motivo da demissão do então ministro da Justiça Sergio Moro. A reunião de Bolsonaro foi no dia 22 de abril de 2020, com um ano e quatro meses de governo. Não só por coincidência, a reunião de Lula aconteceu com quase o mesmo tempo de governo.
Quando pudemos assistir ao vídeo da reunião de Bolsonaro, com sua espantosa confissão de que iria interferir na Polícia Federal para proteger os filhos e amigos, outra coisa que me chamou bastante a atenção foi a absoluta falta de qualidade do encontro de trabalho das mais altas autoridades do Governo Federal. Pois a reunião de Lula, da semana passada, causou a mesma impressão negativa.
Mais que grotesco, é muito triste — porque no final somos nós que vamos ter que suportar as consequências — saber que Lula usa uma reunião, que deveria ser objetiva e de resultados, para se gabar da sua capacidade política, dando conselhos a subordinados de idade e xingando o presidente anterior de “covardão”. Ele chegou a pedir “mais entusiasmo” ao ministro Rui Costa, na apresentação de PowerPoint dos resultados do primeiro ano de governo. Ora, Costa tem 61 anos, a vida toda fazendo política. E agora com alguém puxando-lhe as orelhas.
E entendo o desânimo do ministro na apresentação do ano de gestão petista. É de cortar os pulsos. Nosso país enfrenta graves problemas, com questões muito mal resolvidas durante anos, que no desenrolar dessa falta de cuidado leva a consequências que afetam duramente a vida dos brasileiros, com problemas, como o avanço da criminalidade e a carência de dinheiro até para comprar o básico em alimentação, além da destruição generalizada das profissões, do comércio e da indústria.
No entanto, o que se soube pelos vazamentos depois da reunião, o encontro serviu para Lula expor para os subordinados sua total falta de sintonia com as mudanças da política, da tecnologia e de tudo o mais que foi se transformando no mundo enquanto ele envelhecia. Internamente no governo rola o mesmo lero-lero improdutivo que suportamos aqui fora. Mesmo no ordinário da política, o petista descolou-se completamente da realidade, dando conselhos banais e repondo, de forma incessante, platitudes que ele não consegue ver que podem até servir para o engodo eleitoral, porém não são de utilidade alguma para conduzir uma gestão.
Nas reuniões anteriores, Lula já vinha dando broncas nos seus subordinados (tudo gente de idade, como já disse), mas nessa ele teve que encarar o choro sentido de Nísia Trindade, depois da ministra ser cobrada rispidamente pelo agravamento da dengue e o mau atendimento aos Yanomamis. É o modo de ser do chefão petista, que costuma colocar a culpa nos outros quando ele mesmo falta com suas responsabilidades. A ministra da Saúde pode até ter se descuidado da dengue, mas onde andava Lula enquanto os mosquitos estavam proliferando?
Lula está totalmente alienado do que acontece ao seu redor, sem consciência até de cuidar com atenção do que é mais básico, na gestão e também na política, como, por exemplo, deixar de tratar questões sérias no improviso e na sua oratória de palanque. Talvez até de evitar trazer para cá encrencas pesadas que envolvem terrorismo, fundamentalismo religioso resolvido a se impor pelas armas, autocratas com planos imperialistas e outras barbaridades.
Pessoas em altos postos tendem a perder o contato com a realidade, problema que é ainda mais grave em um país sem transparência e cobrança de responsabilidade (vide os juízes do STF), mas Lula como presidente da República é um fenômeno em alienação. E ainda é um reincidente. O cara não é brincadeira: ostenta no currículo o mensalão e o petrolão, entre outros. De volta à cena do crime, como bem disse seu vice, parece disposto a repetir tudo que fez de errado, agora até talvez aperfeiçoando os desastres.
É verdade também que ele está mal assessorado, como resultado de suas más escolhas. Quando a gente olha para esse governo, só vê as velhas caras e ideias de um passado que imaginávamos que ficaria para trás como uma má lembrança. Para ficar num só exemplo, muito significativo, da Casa Civil é que o presidente da República teria de receber informações precisas sobre o andamento das questões de governo, adiantando ao presidente inclusive táticas para evitar que problemas mal resolvidos fiquem ainda maiores perante a opinião pública.
Mas quem está na Casa Civil é Rui Costa, o desacorçoado do Powerpoint, que faz parte de uma nova oligarquia, agora da esquerda, que domina a Bahia há duas décadas, com ele como governador por dois mandatos seguidos. Após vinte anos, os baianos sofrem com a miséria, oprimidos por criminosos ferozes. Estou falando do crime comum, é claro. Não é na segurança pública, um dos piores problemas brasileiros, que Lula vai poder contar com o ex-governador baiano. Na Bahia está tudo dominado. A realização mais visível de Costa foi a nomeação da sua mulher como conselheira do TCM baiano, cargo vitalício com salário de R$ 37.589. Mas não é essa expertise que Lula vai precisar. Disso, ele sabe tudo.
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Por José Pires