A famosa “gripe do Pasquim”, período de dois meses em que nove dos jornalistas do semanário ficaram presos não foi uma “cana dura”. Ficaram presos durante os meses de novembro e dezembro de 1970. É claro que apenas o fato de ser preso naquela época já era uma barra difícil de agüentar. Era a época do governo Médici, o período mais duro do regime, e tudo podia acontecer. Até a morte.
Foram presos Paulo Francis, Ivan Lessa, Ziraldo, Luiz Carlos Maciel, Paulo Garcez, Flavio Rangel, Sérgio Cabral, Tarso de Castro e Fortuna.
Durante o período de cana, o jornal manteve-se em circulação. Millôr Fernandes, Henfil e Martha Alencar editaram. E vários artistas e intelectuais se juntaram para ajudar na edição. Colaboraram, entre outros, Chico Buarque, Antônio Callado, Odete Lara e Glauber Rocha. A prisão ficou conhecida como "A gripe", pois era com esta ironia que justificavam no jornal a ausência da maior parte da equipe. Além de fazer seus desenhos, Henfil também fez cartuns imitando o estilo de cartunistas presos o que deixava os militares intrigados. Pô, diziam, saiu um desenho do Fortuna. Mas o Fortuna não está aqui preso?
Os tempos eram duros, mas com o pessoal de O Pasquim nada aconteceu de grave. O período de prisão é até motivo de troça nas lembranças do cartunista Jaguar. Segundo ele, a única tortura física que aplicaram no grupo foi cortar a imensa cabeleira de Luís Carlos Maciel.
O cartunista diz que “foi o melhor período” da vida dele. Bebia o dia inteiro. Subornava os guardas para lhe comprarem cachaça. Na prisão, aproveitou para ler Guerra e Paz, segundo ele “aquele calhamaço do Tolstoi que você só lê na prisão”.
Pelo que contam, havia até uma relativa tolerância com aqueles presos singulares. Paulo Francis, em um interrogatório em que lhe perguntaram se assinara uma “monção” em favor do editor Ênio Silveira, chegou a corrigir o interrogador: “Capitão, monção não se assina. Monção é um fenômeno pluviométrico. Eu assinei uma moção!”
Por ironia, a única ameaça grave que sofreram veio da esquerda. Entraram numa lista para serem trocados por alguém seqüestrado por um grupo armado, o que é também um bom exemplo da irresponsabilidade da esquerda armada naquele tempo. Com a troca, todos iriam para a Argélia. Mas ninguém quis participar dessa tolice tramada por pessoas que certamente nada sabiam sobre os interesses políticos daqueles encarcerados.
O único interesse revolucionário do grupo era o da subversão da linguagem. Na época de O Pasquim a nossa imprensa andava de casaca, colete e gravata. Uma boa definição do que fizeram no jornal veio de Ivan Lessa, que disse que O Pasquim tirou aspas da nossa língua. O atraso era tamanho, que ele, por exemplo, foi enquadrado por ter escrito a palavra porrada, que hoje até a Xuxa fala em seu programa infantil.
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POR José Pires
Foram presos Paulo Francis, Ivan Lessa, Ziraldo, Luiz Carlos Maciel, Paulo Garcez, Flavio Rangel, Sérgio Cabral, Tarso de Castro e Fortuna.
Durante o período de cana, o jornal manteve-se em circulação. Millôr Fernandes, Henfil e Martha Alencar editaram. E vários artistas e intelectuais se juntaram para ajudar na edição. Colaboraram, entre outros, Chico Buarque, Antônio Callado, Odete Lara e Glauber Rocha. A prisão ficou conhecida como "A gripe", pois era com esta ironia que justificavam no jornal a ausência da maior parte da equipe. Além de fazer seus desenhos, Henfil também fez cartuns imitando o estilo de cartunistas presos o que deixava os militares intrigados. Pô, diziam, saiu um desenho do Fortuna. Mas o Fortuna não está aqui preso?
Os tempos eram duros, mas com o pessoal de O Pasquim nada aconteceu de grave. O período de prisão é até motivo de troça nas lembranças do cartunista Jaguar. Segundo ele, a única tortura física que aplicaram no grupo foi cortar a imensa cabeleira de Luís Carlos Maciel.
O cartunista diz que “foi o melhor período” da vida dele. Bebia o dia inteiro. Subornava os guardas para lhe comprarem cachaça. Na prisão, aproveitou para ler Guerra e Paz, segundo ele “aquele calhamaço do Tolstoi que você só lê na prisão”.
Pelo que contam, havia até uma relativa tolerância com aqueles presos singulares. Paulo Francis, em um interrogatório em que lhe perguntaram se assinara uma “monção” em favor do editor Ênio Silveira, chegou a corrigir o interrogador: “Capitão, monção não se assina. Monção é um fenômeno pluviométrico. Eu assinei uma moção!”
Por ironia, a única ameaça grave que sofreram veio da esquerda. Entraram numa lista para serem trocados por alguém seqüestrado por um grupo armado, o que é também um bom exemplo da irresponsabilidade da esquerda armada naquele tempo. Com a troca, todos iriam para a Argélia. Mas ninguém quis participar dessa tolice tramada por pessoas que certamente nada sabiam sobre os interesses políticos daqueles encarcerados.
O único interesse revolucionário do grupo era o da subversão da linguagem. Na época de O Pasquim a nossa imprensa andava de casaca, colete e gravata. Uma boa definição do que fizeram no jornal veio de Ivan Lessa, que disse que O Pasquim tirou aspas da nossa língua. O atraso era tamanho, que ele, por exemplo, foi enquadrado por ter escrito a palavra porrada, que hoje até a Xuxa fala em seu programa infantil.
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POR José Pires
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