terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Teúda e manteúda com dinheiro público

Só podem ser as madrugadas passadas em claro votando projetos de seu interesse exclusivo e particular a explicação para a desatenção dos políticos brasileiros para coisas que acontecem debaixo de seus narizes.

Hoje os jornais publicam que o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), vai pedir à assessoria jurídica da Casa que examine o caso da ex-servidora Siméa Maria de Castro Antun, que durante cerca de 10 anos recebeu o maior salário pago a ocupantes de cargos comissionados, de R$ 8, 2 mil.

A história foi revelada pela revista Veja desta semana, com lances em que tem até um suposto herdeiro do falecido deputado Luís Eduardo Magalhães, da Bahia. Desde setembro está na justiça uma ação que pede o reconhecimento de paternidade e também uma parte da fortuna do avô, Antonio Carlos Magalhães, o senador ACM, de triste memória para o país. O filho do deputado teria nascido da relação extraconjugal com a ex-servidora fantasma Siméa, que recebia a bolada mensal do Senado.

O deputado Magalhães conheceu a moça em uma convenção do antigo PFL, hoje o DEM, na qual ela trabalhava como recepcionista. O político deu-lhe um cartão e ofereceu emprego. Logo se tornaram amantes: viviam junto em Brasília de segunda a quinta-feira (“relacionando-se afetiva e sexualmente”, como descreve o advogado), quando então o deputado seguia para a Bahia, onde era casado e tinha filhos.

Até aí é problema da família Magalhães. Mas a questão é que entrou dinheiro do Estado na história. A amante do deputado recebeu de fato um emprego em seu gabinete, até que ficou grávida e os dois romperam. Daí então retornou para a casa dos pais, depois de recusar, segunda ela, proposta do deputado para abortar o filho. E continuou recebendo o salário do Congresso.

Já não está certo. Mas como tudo que tem o senador ACM no meio, a coisa piorou. Com amorte de Luís Eduardo Magalhães, ACM convocou a ex-amante do filho e disse o seguinte: "Filho do meu filho é meu neto. Não se preocupe, pois o futuro financeiro e educacional do menino estará garantido".

Muito bonito. O senador sempre foi um homem com muito dinheiro, era um dos homens mais ricos do Brasil e podia muito bem arcar com os custos deste inesperado aumento na família. Mas acontece que ACM não empregou a moça em nenhuma de suas empresas e nem numa fazenda sua.

Manteve-a recebendo do Congresso, onde ela recebia um salário de 8.255 para ficar em casa. ACM morreu e a moça continuou recebendo da parte do suplente que ocupou seu lugar, o filho mais velho. Segundo a Veja, ela só foi demitida na última terça-feira quando o senador ACM Júnior foi procurado pela revista. E agora o presidente do Senado veio com essa de que vão examinar o caso.

Antes tarde do que nunca, mas se o Senado é cego para um caso que envolve um salário de mais de 8 mil reais recebido irregularmente durante dez anos, o que mais que não é visto por lá?
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POR José Pires

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