segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Se entregando pelo telefone

Na semana passada caiu um pouco mais a máscara do senador José Sarney e, por coincidência, o que se revelou foi também um pouco mais de um lado que Sarney tem escondido com eficiência: seu caráter autoritário e violento. Uma violência dissimulada que oprime as vozes críticas em seu estado, o Maranhão, e no Amapá, um novo estado que surgiu quando ele foi presidente da República e que ele pretendia ter como um novo feudo político.

O senador Antonio Carlos Magalhães, da Bahia, era conhecido por Toninho Malvadeza porque além de fazer suas maldades ainda se expressava em público e com agressividade contra seus adversários. Sarney não. Pode até ser chamado de Sarney Malvadeza, mas não expressa sua perversidade. Suas maldades são cometidas na surdina.

Na conversa com o filho, Sarney se entrega, mostra realmente o que é. Aliás, além do peso negativo que há no tipo de conversa, na trama manipuladora que está organizando, tem também o fato de ele estar conversando com o próprio filho. Não que nos surpreenda, mas não deixar de ser terrível ver alguém exercendo esse tipo de influência paterna.

Etá provado que ele não poupa os próprios filhos, mas para a opinião pública Sarney sempre posou de democrata, buscando compor uma imagem de político conciliador e equilibrado. Não é fácil revelar o que há escondido por detrás daquele ar de velhote pacato. E mesmo com o esforço da oposição nos dois estados onde faz política e de uma parcela de profissionais decentes na mídia, Sarney ainda detém grande poder, ou "pudê", como diz.

É um político que sabe como poucos usar tanto o Legislativo quanto o Executivo para aliciar e manter apoiadores explícitos ou não, com preferência para aqueles que trabalhem para ele com discrição. Inclusive escribas de aluguel que aparentam independência. Aliás, esse é o tipo de serviço no qual um ar de independência traz até mais eficiência.

É verdade que movimentos espontâneos como o “Xô Sarney”, no Maranhão, arranharam bastante esta casca superficial de democrata, mas ainda não surgiu a estaca que Paulo Francis dizia ser o remédio para um político como ele.

A dissimulação é uma ferramenta comum na política brasileira. E Sarney tem uma habilidade ímpar no uso deste instrumento, posando às vezes até como Estadista. Já disse alguns posts abaixo que, ao contrário do deputado corregedor de Minas Gerais, Sarney tem os feudos, mas sempre tomando o cuidado de não construir nenhum castelo.

Essas gravações que surgiram mostram um pouco do castelo de Sarney. Sei que aparecem por causa da disputa pela presidência do Senado e também acho preocupante o uso que se faz de vazamentos oportunos de dados sob a guarda do Estado, mas como aqui não se faz blog com a pretensão de ditar decretos de regulação da democracia, temos que seguir os fatos.

E dentro da desordem jurídica, institucional e tantas outras bagunças brasileiras, não somos nós que vamos lamentar um vazamento que atinge alguém como Sarney. Que ele prove então um pouco do seu próprio remédio. 
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POR José Pires

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