terça-feira, 3 de março de 2009

Dando assunto pro adversário

Mas a Folha caiu na besteira de falar em “ditabranda” e acabou dando o mote que muita gente ligada ao petismo precisava. Mas a besteira do jornal não parou aí. Entre as pessoas que mandaram cartas para o jornal reclamando do estranho neologismo, duas delas, o professor Fábio Konder Comparato e a socióloga Maria Victoria Benevides, receberam uma resposta bem agressiva.

O diretor de redação Octavio Frias Filho escreveu e publicou o seguinte: "Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa".

Desde quando o senador José Agripino, do DEM, fez a famosa pergunta à ministra Dilma Roussef sobre seu comportamento debaixo de tortura que a esquerda não recebia um mote tão bom para ocupar espaço político e de mídia. Não sei se foi de caso pensado, mas o fato é que quando sentiram a linha fisgar com a "nota da redação", Comparato e Benevidez caíram com gana no assunto.

Comparato menos. Quem tem agido com intensa avidez na exploração da polêmica é Maria Victória Benevides. Aproveitando-se do incrível erro da Folha, a socióloga tem estimulado a criação de manifestos, manifestações públicas e o que mais surge para fortalecer a polêmica e elevar seu papel pessoal.

O editorial da "ditabranda" somado à patada em Comparato e Benevides acabou sendo uma oportunidade e tanto para grupos com o interesse de desviar o foco cerrado sobre a corrupção e a incompetência do governo Lula, assuntos que estão entre os mais populares da internet brasileira apesar do investimento pesado dos petistas na criação de sites e blogs governistas.

A chamada blogosfera petista é um componente homogêneo da internet, com sites e blogs que falam a mesma linguagem, todos bem pouco atraentes e por isso mesmo com pouco público além de internautas com a mesma posição política.

A inacreditável bobagem da Folha com sua "ditabranda" trouxe uma oportunidade para essa gente mascarar seus propósitos governistas com a discussão da liberdade de expressão e do papel da imprensa durante a ditadura — alguns desses blogueiros recebem vantagens do governo, sendo que existem suspeitas de que há por detrás de vários deles a mesma sustentação política e financeira.

Daria até para entender se o puxão de orelha da Folha nos dois militantes fosse no âmbito da uma opinião pessoal, pois ambos partilham mesmo da incoerência comum em nossa esquerda de discutir com ênfase a ditadura militar brasileira e fechar os olhos para ditaduras comunistas, como a cubana. Mas do jeito que foi feito, com uma "nota de redação", que caracteriza uma opinião editorial do jornal, a Folha criou um problema institucional.

Octavio Frias Filho parece ter agido mais com a cabeça de dono do jornal (o que ele é de fato) do que de jornalista. É um dos problemas de ter o dono do jornal diretamente no comando da redação.
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POR José Pires

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