terça-feira, 3 de março de 2009

A ditabranda e outras durezas

O grande problema de uma estupidez é que ela sempre pode levar à outra estupidez. Talvez até maior que a inicial. E quando entram no meio certos setores da esquerda, então, aí a coisa está feita. Ou melhor, malfeita.

Quem começou foi a Folha de S. Paulo. O jornal publicou um editorial, em que chama a ditadura militar brasileira de “ditabranda”. Quem é que lê editorial? Pois agora este todo mundo leu. É uma besteira sem tamanho fazer o comparativo entre diferentes ditaduras. Não há metro para isso. Os contextos são diferentes. Há quem compare o número de mortos do golpe de 64 Brasil, com golpes na democracia de outros países, mas não creio que o caráter político de uma ditadura seja melhor compreendido por seus mortos. Uma ditadura pode até ter um número menor de assassinatos ou de prisões e ser tão implacável nos males para a democracia quanto um governo sanguinário.

Aqui tivemos menos assassinatos que no Chile. Mas em que isso diminui o caráter nefasto desta ou daquela ditadura para a humanidade? Para duas realidades tão dispares quanto o Brasil e o Chile, independente de quanto uma ou outra matou, a única coisa certa é que as duas ditaduras foram péssimas para ambos os países.
E a ditadura chilena durou menos, 17 anos, contra 21 anos da nossa. Lá no Chile já aconteceram punições contra os militares, sendo que seu chefe máximo, Pinochet, só não acabou condenado porque morreu antes. O neto do ditador, um capitão, também foi expulso do exército por defender a ditadura em discurso no enterro do avô. Aqui nada ocorreu, nem com os bagrinhos do regime. E volta e meio um general comete ato de insubordinação sem que nada aconteça. Qual foi a pior ditadura?

Mas, de qualquer modo, é uma comparação que não faz sentido, ainda mais com o número de problemas que temos pela frente. Branda ou não, o que importa são os efeitos do autoritarismo na vida e na cultura de um povo. E na nossa cultura os efeitos não tem nada de brandura. Basta ver a violência e a corrupção que ainda tomam conta da vida brasileira. Se isso não é coisa de ditadura, então não sei o que é.
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POR José Pires

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