Devemos muito a Lobato, mas um dos setores onde ele mais influiu com sua capacidade modernizadora foi a do livro, no sentido da editoração. Além de influir para relegar ao passado a mania de editar apenas as velharias e medalhões, ele fez o livro no Brasil avançar em setores fundamentais. Antes de Lobato prevaleciam os acadêmicos. Ele passou a imprimir novidades, inclusive as que ele mesmo escrevia. Também é notável seu interesse na modernização das capas, na utilização de ilustrações e na tradução de autores estrangeiros mdernos. Alguns ele mesmo traduzia. E bem. Foi ele o primeiro tradutor de Mark Twain no Brasil e também de Ernest Hemingway.
Deve-se falar na edição de livros no Brasil como dividida entre antes e depois de Monteiro Lobato. Em todos os aspectos ele tem um valor mundial, trazendo inovações não só no aspecto nacional, mas antevendo soluções editoriais que o fazem comprovadamente um pioneiro mundial.
Ele foi o primeiro, sem dúvida, na colocação do livro para a venda no mercado como um objeto no mesmo nível de qualquer outro objeto de uso cotidiano. Foi em 1918, quando as livrarias no Brasil não passavam de trinta e concentravam-se nas capitais, que o escritor teve a sacada de vender seus livros em qualquer estabelecimento comercial. Foi deste modo que os livros então penetraram no interior do país.
Vale a pena ler na íntegra a correspondência comercial que Lobato enviou para vários empresários para começar sua revolucionária empreitada.
Vamos ao texto: “Vossa Senhoria tem o seu negócio montado, e quanto mais coisas vender, maior será o lucro. Quer vender também uma coisa chamada “livro”? Vossa Senhoria não precisa inteirar-se do que essa coisa é. Trata-se de um artigo comercial como qualquer outro; batata,querosene ou bacalhau. É uma mercadoria que não precisa examinar nem saber se é boa nem vir a esta escolher. O conteúdo não interessa a V.S., e sim ao seu cliente, o qual dele tomará conhecimento através das nossas explicações nos catálogos, prefácios, etc. E, como V.S receberá este artigo em consignação, não perderá coisa alguma no que propomos”.
É de se reparar aqui no homem de vários instrumentos revelado em um texto sintético.
Além do estilo claro, novidade na literatura empolada da época e ainda mais em prospectos publicitários e correspondências comerciais, é notável a habilidade de Lobato em prevenir-se em poucas linhas quanto risco do preconceito em relação a um objeto até aquele momento de alcance muito restrito. Também é interessante seu avanço em relação à práticas comercias de então, propondo a venda em consignação. Dá para imaginar a satisfação do dono do armazém de secos e molhados do interior sabendo de um produto pelo qual ele só teria de pagar depois de feita a venda.
Esta técnica revolucionária de vender o livro em qualquer lugar foi implantada por Lobato em 1918, o que faz merecer uma revisão na história do livro mundialmente. Ora, em “Uma História da Leitura”, esplêndida obra em que Alberto Manguel narra o percurso da leitura na história da humanidade ele dá como uma revolução o fato do editor inglês Allen Lane, da Penguin Books, ter começado a fazer o mesmo em julho de 1935.
Manguel evidentemente desconhece a façanha de Monteiro Lobato, pois o escritor sequer é citado em sua história da leitura. Mas é fato comprovado historicamente que o nosso genial escritor começou aqui, antes de todos um processo essencial na ampliação da leitura: a venda do livro em todo lugar.
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Por José Pires
Deve-se falar na edição de livros no Brasil como dividida entre antes e depois de Monteiro Lobato. Em todos os aspectos ele tem um valor mundial, trazendo inovações não só no aspecto nacional, mas antevendo soluções editoriais que o fazem comprovadamente um pioneiro mundial.
Ele foi o primeiro, sem dúvida, na colocação do livro para a venda no mercado como um objeto no mesmo nível de qualquer outro objeto de uso cotidiano. Foi em 1918, quando as livrarias no Brasil não passavam de trinta e concentravam-se nas capitais, que o escritor teve a sacada de vender seus livros em qualquer estabelecimento comercial. Foi deste modo que os livros então penetraram no interior do país.
Vale a pena ler na íntegra a correspondência comercial que Lobato enviou para vários empresários para começar sua revolucionária empreitada.
Vamos ao texto: “Vossa Senhoria tem o seu negócio montado, e quanto mais coisas vender, maior será o lucro. Quer vender também uma coisa chamada “livro”? Vossa Senhoria não precisa inteirar-se do que essa coisa é. Trata-se de um artigo comercial como qualquer outro; batata,querosene ou bacalhau. É uma mercadoria que não precisa examinar nem saber se é boa nem vir a esta escolher. O conteúdo não interessa a V.S., e sim ao seu cliente, o qual dele tomará conhecimento através das nossas explicações nos catálogos, prefácios, etc. E, como V.S receberá este artigo em consignação, não perderá coisa alguma no que propomos”.
É de se reparar aqui no homem de vários instrumentos revelado em um texto sintético.
Além do estilo claro, novidade na literatura empolada da época e ainda mais em prospectos publicitários e correspondências comerciais, é notável a habilidade de Lobato em prevenir-se em poucas linhas quanto risco do preconceito em relação a um objeto até aquele momento de alcance muito restrito. Também é interessante seu avanço em relação à práticas comercias de então, propondo a venda em consignação. Dá para imaginar a satisfação do dono do armazém de secos e molhados do interior sabendo de um produto pelo qual ele só teria de pagar depois de feita a venda.
Esta técnica revolucionária de vender o livro em qualquer lugar foi implantada por Lobato em 1918, o que faz merecer uma revisão na história do livro mundialmente. Ora, em “Uma História da Leitura”, esplêndida obra em que Alberto Manguel narra o percurso da leitura na história da humanidade ele dá como uma revolução o fato do editor inglês Allen Lane, da Penguin Books, ter começado a fazer o mesmo em julho de 1935.
Manguel evidentemente desconhece a façanha de Monteiro Lobato, pois o escritor sequer é citado em sua história da leitura. Mas é fato comprovado historicamente que o nosso genial escritor começou aqui, antes de todos um processo essencial na ampliação da leitura: a venda do livro em todo lugar.
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Por José Pires
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