quinta-feira, 23 de abril de 2009

Galileu Galilei e a farra das viagens no Congresso Nacional

Quando eu disse que a entrada do deputado Fernando Gabeira no escândalo das passagens aéreas da Câmara traria um sabor intelectual à farra, com elementos muito mais interessantes do que aqueles que costumam aparecer nas tretas de políticos, sabia que ele não me decepcionaria.

Os deputados estão se defendendo das acusações, com vários deles querendo que o uso das cotas se mantenha com está. Alguns até alegam que é coisa de mais de quarenta anos. Bem, o estelionato também é, mas foi desmascarado antes. Você sabia que namoradas, tios, primas e... (gosto mesmo disso) terceiros voam há quarenta anos com passagens aéreas da Câmara? Eu não sabia.

Os discursos no plenário chegam a comover. Um senador citou até a hipótese de ele ficar doente em Brasília, longe da família. Ora, isso é desviar da questão. Pode funcionar no Congresso, onde isso acontece bastante, mas neste debate não vale. A sociedade civil não quer afastar nenhum político da família. Aliás, seria melhor para nós se eles fossem mais familiares. A questão é outra.

Outro senador chama a atenção ao fato de ele ter que viajar sempre com uma pessoa ao lado. Deve ser doença, ele não esclarece. Também não é disso que a sociedade civil está falando.

Como dá pra ver, é o de sempre. E aí é que entra o brilho de Gabeira. Ele ilumina bastante e não é só por estar na política brasileira, dominada por gente de pouco talento. Gabeira ajuda bastante num caso como este. Seria muito difícil agüentar o debate se ele se restringisse a políticos como o deputado Ciro Gomes, o expoente do baixo clero mais procurado pela imprensa sempre à procura alguma besteira para estimular a falta de assunto.

Ciro Gomes apareceu no debate. Mas é o de sempre também. Fez um discurso empolado em plenário, pretensamente civilizado e disposto ao debate equilibrado da questão, mas depois vai ao cafezinho da Câmara falar palavrões. Ele não se agüenta.

No plenário estava brabo, mas se conteve. Falou em “sanha violenta, intimidatória”, mas não xingou ninguém. Falou da mãe também (calma, é a dele), da história de que ela teria viajado com passagens da Câmara. No discurso, Gomes faz parecer que o caso está presente em toda a imprensa. Mas isso não é verdade. Só se for nos jornais do Ceará. Na internet não está. É ele quem está dando publicidade à história, com a evidente intenção de se vitimizar.

O deputado cearense disse também que até nos Estados Unidos os parlamentares tem direito a passagens. E, segundo ele, com crédito ilimitado. França, Suécia, Dinamarca, todos os parlamentos tem o benefício, sempre conforme suas palavras. Não informou se algum deputado repassa sua cota para alguma Galisteu gringa, sueca ou francesa ou para a sogra visitar a Europa os Estados Unidos. Mas não precisa, pois sabemos que isso não acontece.

Mas até aí tudo bem. Enquanto ele está falando só da mãe dele, tudo bem. Mas o boca-suja acaba estragando tudo. Depois do discurso foi ao cafezinho da Câmara e, apontando o plenário, chamou de “babacas” os colegas que não resistem às supostas pressões. E ainda disse que “Ministério Público é o caralho”. Depois, arrotou valentia para os jornalistas: "Não tenho medo de ninguém. Da imprensa, de deputado, de ninguém. Pode escrever o caralho aí".

Levando em conta o estilo afamado, Ciro Gomes neste momento está com outra mãe na boca. A dos jornalistas, já que este edificante diálogo entre o parlamento e a imprensa acabou sendo divulgado.

É um palavrório danado, mas, como já disse, é o de sempre. Contando apenas como gente como Ciro Gomes não ia ser mesmo fácil suportar estes escândalos. Viva o Gabeira.

Ele também discursou na Câmara ontem. O dia foi animado em Brasília. Na sua fala tem muita coisa banal, ao nível de seus pares, afinal o Gabeira também é humano. Não vou citar aqui, não vem ao caso. Mas vejam esta pérola que saiu de seu discurso : “Se o Galileu Galilei estivesse no Brasil seria condenado certamente pelos jornalistas, pela internet e pelos leitores de jornal, porque há um tipo de moral um pouco mais complexa que leva um pouco mais de tempo pessoa entender”.

Não é bacana? Ela, a Câmara, se move. Eppur se muove! Até o Galileu Galilei agora está na parada. Será o famoso terceiro, de que falam sempre? Pelo que dá pra entender na explanação de Gabeira, o Galileu não está no Brasil. Bem, estando no exterior, que não tenha viajado com passagem aérea da Câmara e muito menos levado a Galisteu.
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POR José Pires

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