Nada do que vem do lulo-petismo me espanta. Costumo até dizer que, passado este período político que estamos vivendo, ainda há de surgir revelações das mais absurdas sobre esta gente que está no poder. O que dizer de um líder político sob tantas suspeitas, tantos casos inexplicados, enredos que não fecham?
As contradições de Lula vem de longe e fizeram estrago já na primeira eleição disputada por ele em 1984. Nunca tive nenhuma confiança nele, mas quem é que podia esperar aquela denúncia feita pela campanha de Fernando Collor, sobre a filha que ele mantinha escondida?
Na época muita gente acreditou que aquilo era golpe eleitoral, coisa de campanha suja, mas no final vimos que a história era mesmo verdadeira. Lula se fez de vítima, mas acabou confirmando. E mesmo a acusação de que ele teria pressionado para que a criança fosse abortada ficou entre a palavra dele e a da acusadora, Miriam Cordeiro.
Em quem acreditar? Bem, com o que veio depois, o desmanche impressionante que ele e seu partido fizeram de suas próprias histórias, em Lula é que não dá para crer.
A incoerência tem este preço alto. Como inexiste qualquer integridade em Lula, as histórias mais bizarras são recebidas com o maior desembaraço pela opinião pública. Dizem que Lula tem “teflon”, que nada cola nele. Tudo bem, pode até não afetá-lo eleitoralmente, mas no que importa realmente em política, que é a continuidade histórica que vai moldar sua imagem, ah, disso ele não escapa.
Bem, estou escrevendo essas coisas para encaixar este assunto bizarro que está rolando na internet desde cedo. É o artigo de Cesar Benjamin, publicado hoje pela Folha de S. Paulo, no qual ele conta que o presidente Lula disse a um grupo de pessoas que tentou estuprar um companheiro de cela quando esteve preso por 30 dias em 1980.
Benjamin foi fundador do PT e se desfiliou do partido em 1995. Desde então, vem sendo um dos críticos mais sérios do governo petista e dos embaralhamentos ideológicos da esquerda brasileira.
Poderia haver algum motivo para que ele inventasse uma história como essa? Aparentemente não há nenhum. Benjamin faz oposição ao governo, mas mesmo em suas críticas mais contundentes mostra sensatez e equilíbrio. Até neste texto, com uma revelação tão extraordinária, ele mantêm a mesma linha, contando os fatos sem nenhuma interferência com peso pejorativo.
Benjamin é um intelectual sério. É proprietário da Contraponto, editora de bons títulos e também muito bem editados. Ele próprio edita diretamente alguns deles e até traduz os textos, como foi o caso de uma ótima antologia do filósofo italiano Norberto Bobbio.
Isto é para situá-lo bem. Mostrar que ele não é mais um dos insensatos gerados pela esquerda brasileira. Até porque ele saiu do PT, me parece que é um homem muito são.
Algo que parece bem certo é que ele só pode estar bem cercado de provas, pois sem uma base concreta uma acusação como esta daria graves complicações jurídicas para o autor. Outro fato, muito preocupante para Lula e o PT, é que esta revelação bateu na opinião pública sem nenhuma reação de escândalo ou espanto e muito menos de repúdio.
O lulo-petismo, que solta foguete pra tudo, até deve comemorar o que parece ser mais uma efeito da "blindagem" na imagem de Lula. Mas eu acho cedo para isso. O que pode estar acontecendo é um efeito até da estratégia muito bem elaborada por eles, mas com um efeito nada bom para Lula e seu partido: quando se refere à eles, qualquer absurdo é recebido como se fosse algo normal e sempre na condição de uma possível verdade.
Mas vamos ao que César Benjamin escreveu na Folha:
"São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.
Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.
Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço.
Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".
Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.
Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram.
O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu."
O texto de Benjamin foi escrito a propósito do filme “Lula, o Filho do Brasil”, que narra a biografia de Lula até ele tornar-se presidente da República. Noutro trecho, Benjamin faz uma alusão ao tratamento que o filme dá ao período de prisão de Lula:
“A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o “menino do MEP”. Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos.
O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.
Mesmo assim, não pretendo assistir a “O Filho do Brasil”, que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.”
Esta é a história. Só não é de cair o queixo porque vem de onde já apareceu a Miriam Cordeiro, como já citamos, o estranho assassinato de Celso Daniel, a morte de Toninho do PT, a Lubeca, os dólares na cueca, os aloprados, os compadres, a firma prodigiosa do herdeiro, o mensalão, e muitos outros fatos, tantos que até ocupariam espaço demais.
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POR José Pires
As contradições de Lula vem de longe e fizeram estrago já na primeira eleição disputada por ele em 1984. Nunca tive nenhuma confiança nele, mas quem é que podia esperar aquela denúncia feita pela campanha de Fernando Collor, sobre a filha que ele mantinha escondida?
Na época muita gente acreditou que aquilo era golpe eleitoral, coisa de campanha suja, mas no final vimos que a história era mesmo verdadeira. Lula se fez de vítima, mas acabou confirmando. E mesmo a acusação de que ele teria pressionado para que a criança fosse abortada ficou entre a palavra dele e a da acusadora, Miriam Cordeiro.
Em quem acreditar? Bem, com o que veio depois, o desmanche impressionante que ele e seu partido fizeram de suas próprias histórias, em Lula é que não dá para crer.
A incoerência tem este preço alto. Como inexiste qualquer integridade em Lula, as histórias mais bizarras são recebidas com o maior desembaraço pela opinião pública. Dizem que Lula tem “teflon”, que nada cola nele. Tudo bem, pode até não afetá-lo eleitoralmente, mas no que importa realmente em política, que é a continuidade histórica que vai moldar sua imagem, ah, disso ele não escapa.
Bem, estou escrevendo essas coisas para encaixar este assunto bizarro que está rolando na internet desde cedo. É o artigo de Cesar Benjamin, publicado hoje pela Folha de S. Paulo, no qual ele conta que o presidente Lula disse a um grupo de pessoas que tentou estuprar um companheiro de cela quando esteve preso por 30 dias em 1980.
Benjamin foi fundador do PT e se desfiliou do partido em 1995. Desde então, vem sendo um dos críticos mais sérios do governo petista e dos embaralhamentos ideológicos da esquerda brasileira.
Poderia haver algum motivo para que ele inventasse uma história como essa? Aparentemente não há nenhum. Benjamin faz oposição ao governo, mas mesmo em suas críticas mais contundentes mostra sensatez e equilíbrio. Até neste texto, com uma revelação tão extraordinária, ele mantêm a mesma linha, contando os fatos sem nenhuma interferência com peso pejorativo.
Benjamin é um intelectual sério. É proprietário da Contraponto, editora de bons títulos e também muito bem editados. Ele próprio edita diretamente alguns deles e até traduz os textos, como foi o caso de uma ótima antologia do filósofo italiano Norberto Bobbio.
Isto é para situá-lo bem. Mostrar que ele não é mais um dos insensatos gerados pela esquerda brasileira. Até porque ele saiu do PT, me parece que é um homem muito são.
Algo que parece bem certo é que ele só pode estar bem cercado de provas, pois sem uma base concreta uma acusação como esta daria graves complicações jurídicas para o autor. Outro fato, muito preocupante para Lula e o PT, é que esta revelação bateu na opinião pública sem nenhuma reação de escândalo ou espanto e muito menos de repúdio.
O lulo-petismo, que solta foguete pra tudo, até deve comemorar o que parece ser mais uma efeito da "blindagem" na imagem de Lula. Mas eu acho cedo para isso. O que pode estar acontecendo é um efeito até da estratégia muito bem elaborada por eles, mas com um efeito nada bom para Lula e seu partido: quando se refere à eles, qualquer absurdo é recebido como se fosse algo normal e sempre na condição de uma possível verdade.
Mas vamos ao que César Benjamin escreveu na Folha:
"São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.
Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.
Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço.
Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".
Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.
Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram.
O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu."
O texto de Benjamin foi escrito a propósito do filme “Lula, o Filho do Brasil”, que narra a biografia de Lula até ele tornar-se presidente da República. Noutro trecho, Benjamin faz uma alusão ao tratamento que o filme dá ao período de prisão de Lula:
“A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o “menino do MEP”. Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos.
O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.
Mesmo assim, não pretendo assistir a “O Filho do Brasil”, que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.”
Esta é a história. Só não é de cair o queixo porque vem de onde já apareceu a Miriam Cordeiro, como já citamos, o estranho assassinato de Celso Daniel, a morte de Toninho do PT, a Lubeca, os dólares na cueca, os aloprados, os compadres, a firma prodigiosa do herdeiro, o mensalão, e muitos outros fatos, tantos que até ocupariam espaço demais.
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POR José Pires