Vamos falar um pouco mais do país de Ahmadinejad, o amigo do Lula, com quem ele gosta de um olho no olho. Em março foi preso em Teerã o cineasta iraniano Jafar Panahi. Ele foi arrancado de sua casa pela polícia, teve a residência vasculhada e bens confiscados. Acusado de fazer um filme contra o regime, ele continua detido.
O Irã tem um cinema de alta qualidade e Panahi é um de seus grandes diretores. Em 2006 ele foi o ganhador do Urso de Prata do Festival de Berlim. Também ganhou o Leão de Ouro do Festival de Veneza, em 2000.
Na semana passada, na apresentação do Festival de Cannes, havia uma cadeira simbolicamente vazia em protesto pela prisão do cineasta iraniano. Ele era convidado para fazer parte do júri que escolhe o vencedor da Palma de Ouro.
Foi lida também uma carta enviada da prisão pelo cineasta. Alguns trechos mostram como está sua situação. “Não assinarei nenhuma confissão forçada devido a ameaças", ele disse na carta, revelando que a ditadura de Ahmadinejad segue o curso de tantas outras, buscando a submissão da arte.
Em outra parte ele manda “calorosos abraços de minha pequena e escura cela na prisão de Evin", agradece o apoio da França pela sua libertação, mas pede para que não esqueçam “os milhares de outros presos indefesos no Irã". Esta parte mostra como está a situação política naquele país, enquanto o nosso presidente presta um apoio praticamente incondicional ao regime dos aiatolás.
"Assim como eu, eles não cometeram crime algum e a minha causa não é mais importante que a deles”, diz o cineasta na carta.
Hoje no festival o cineasta Abbas Kiarostami, que também é iraniano, comentou em entrevista a prisão de seu compatriota. Kiarostami concorre à Palma de Ouro com o filme “Copie conforme”, com a atriz francesa Juliette Binoche como protagonista.
Vários sites mostram fotos de Binoche chorando durante a apresentação do filme à imprensa. Suas lágrimas foram provocadas no momento em que a fala de Kiarostami em defesa do colega foi interrompida por uma jornalista que disse que havia a informação de que Panahi tinha começado uma greve de fome.
O filme que levou à prisão de Panahi ainda está em andamento e é sobre a eleição presidencial iraniana de 2009, quando Ahmadinejad foi reeleito sob denúncias de fraude. As manifestações de protesto foram reprimidas pela polícia, com dezenas de mortes e — como se vê na carta do cineasta — milhares de prisões.
Na época, o presidente Lula fez questão de apoiar de imediato a reeleição de Ahmadinejad e situou as manifestações de protesto no Irã no mesmo nível das discordâncias entre torcidas de futebol.
A fala vai na íntegra, para lembrarmos sua fineza de estilo: "Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas, sabe, uma coisa entre flamenguistas e vascaínos".
Uma declaração de Juliette Binoche sobre o filme que fez com Kiarostami também denuncia de forma sutil outro grande problema do regime presidido pelo amigo do Lula. No Irã a opressão às mulheres não permite que elas usufruam nem dos direitos mais básicos.
Binoche é aquele tipo de artista que leva a gente a ver um filme e raramente nos decepciona. É uma atriz que poderíamos definir como "autoral", que segue uma linha de criação em sua carreira. O filme apresentado em Cannes foi filmado no Irã onde, conforme ela disse, aproveitou “para descobrir mais sobre o cinema iraniano, sobre as mulheres”.
“Fiquei muito animada com a forma como ele [Kiarostami} filma mulheres, é o oposto do que seu país diz sobre elas”, disse Binoche, numa frase que sintetiza de forma inteligente a condição feminina sob o regime iraniano e o esforço artístico do cineasta para elevar o ser humano acima desta situação ultrajante.
No festival de Cannes também apresentaram um curta-metragem sobre outra prisão de Panahi, anterior a detenção atual. No curta, o cineasta conta que foi interrogado de forma ameaçadora durante três horas e na saída, depois de dizerem que ele seria convocado novamente, um policial perguntou: “Por que você fica no Irã? Por que não vai fazer filmes no exterior?".
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POR José Pires
O Irã tem um cinema de alta qualidade e Panahi é um de seus grandes diretores. Em 2006 ele foi o ganhador do Urso de Prata do Festival de Berlim. Também ganhou o Leão de Ouro do Festival de Veneza, em 2000.
Na semana passada, na apresentação do Festival de Cannes, havia uma cadeira simbolicamente vazia em protesto pela prisão do cineasta iraniano. Ele era convidado para fazer parte do júri que escolhe o vencedor da Palma de Ouro.
Foi lida também uma carta enviada da prisão pelo cineasta. Alguns trechos mostram como está sua situação. “Não assinarei nenhuma confissão forçada devido a ameaças", ele disse na carta, revelando que a ditadura de Ahmadinejad segue o curso de tantas outras, buscando a submissão da arte.
Em outra parte ele manda “calorosos abraços de minha pequena e escura cela na prisão de Evin", agradece o apoio da França pela sua libertação, mas pede para que não esqueçam “os milhares de outros presos indefesos no Irã". Esta parte mostra como está a situação política naquele país, enquanto o nosso presidente presta um apoio praticamente incondicional ao regime dos aiatolás.
"Assim como eu, eles não cometeram crime algum e a minha causa não é mais importante que a deles”, diz o cineasta na carta.
Hoje no festival o cineasta Abbas Kiarostami, que também é iraniano, comentou em entrevista a prisão de seu compatriota. Kiarostami concorre à Palma de Ouro com o filme “Copie conforme”, com a atriz francesa Juliette Binoche como protagonista.
Vários sites mostram fotos de Binoche chorando durante a apresentação do filme à imprensa. Suas lágrimas foram provocadas no momento em que a fala de Kiarostami em defesa do colega foi interrompida por uma jornalista que disse que havia a informação de que Panahi tinha começado uma greve de fome.
O filme que levou à prisão de Panahi ainda está em andamento e é sobre a eleição presidencial iraniana de 2009, quando Ahmadinejad foi reeleito sob denúncias de fraude. As manifestações de protesto foram reprimidas pela polícia, com dezenas de mortes e — como se vê na carta do cineasta — milhares de prisões.
Na época, o presidente Lula fez questão de apoiar de imediato a reeleição de Ahmadinejad e situou as manifestações de protesto no Irã no mesmo nível das discordâncias entre torcidas de futebol.
A fala vai na íntegra, para lembrarmos sua fineza de estilo: "Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas, sabe, uma coisa entre flamenguistas e vascaínos".
Uma declaração de Juliette Binoche sobre o filme que fez com Kiarostami também denuncia de forma sutil outro grande problema do regime presidido pelo amigo do Lula. No Irã a opressão às mulheres não permite que elas usufruam nem dos direitos mais básicos.
Binoche é aquele tipo de artista que leva a gente a ver um filme e raramente nos decepciona. É uma atriz que poderíamos definir como "autoral", que segue uma linha de criação em sua carreira. O filme apresentado em Cannes foi filmado no Irã onde, conforme ela disse, aproveitou “para descobrir mais sobre o cinema iraniano, sobre as mulheres”.
“Fiquei muito animada com a forma como ele [Kiarostami} filma mulheres, é o oposto do que seu país diz sobre elas”, disse Binoche, numa frase que sintetiza de forma inteligente a condição feminina sob o regime iraniano e o esforço artístico do cineasta para elevar o ser humano acima desta situação ultrajante.
No festival de Cannes também apresentaram um curta-metragem sobre outra prisão de Panahi, anterior a detenção atual. No curta, o cineasta conta que foi interrogado de forma ameaçadora durante três horas e na saída, depois de dizerem que ele seria convocado novamente, um policial perguntou: “Por que você fica no Irã? Por que não vai fazer filmes no exterior?".
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POR José Pires
EXTENSÃO DOS SINDICATOS
ResponderExcluirLula sempre pensou que o Brasil pudesse ser administrado como um grande sindicato. Com imprensa e oposição de mundo subdesenvolvido digamos que deu certo, ao menos aos seus olhos.
Pensou, depois, que os conflitos espalhados pelo mundo afora pudessem ser resolvidos do mesmo modo.
Agora descobriu - espero - que conflitos entre nações não são brigas entre patrões e empregados ou entre partidos políticos pelo poder