sexta-feira, 28 de maio de 2010

Um peso, duas medidas


Já que não se importa de servir para plantação de notícia, a imprensa podia pelo menos organizar melhor esta agricultura política que usa demais o adubo da má-fé.

Quem lê estes textos com olhos profissionais sabe muito bem medir as intenções e avaliar que são os ganhadores de notas plantadas e, muitas vezes até reportagens com manchetes de capa, como a curiosa matéria da Folha de S. Paulo do último domingo, que prevê como destino de Lula a possibilidade dele escolher entre mandar na ONU ou no Banco Mundial.

Que chato, hein? Minha mãe que nasceu analfabeta me mandou bater nessa daqui, mas como sou teimoso vou bater nessa daqui!

É um jornalismo com interesses evidentes. Só que é despropositado para o leitor que busca informação consistente. É perda de tempo. E volto a dizer que é esse tipo de atitude, esse quase método, que faz a imprensa perder leitores. Não é a internet, não senhores.

Esta forma de jornalismo, que infelizmente das publicações impressas saltou para os
sites, atinge os três candidatos, mas ninguém pode negar que Serra sofre um bocado mais que os outros.

Peguem jornais antigos. Ou façam uma busca entre a poeira do Google. Todas as previsões, pitacos, entrevistas, estatísticas, praticamente tudo que foi escrito sobre a candidatura de Serra estava errado.

O rigor sobre sua candidatura chega a ser cômico. Só não é engraçado pelo fato da candidatura oficial transgredir limites morais e até legais e não receber tratamento igual ao do tucano.

Ao contrário, bem diverso mesmo. Lula usa a máquina pública de uma forma que nunca se viu. Até o Itamaraty foi forçado a tentar obter uma visita de Barack Obama ao Brasil antes da eleição. O cara tem programa de rádio em todo o interior, colunas em jornais, propaganda do governo e de estatais relacionadas com conceitos que reforçam sua imagem. Tem até a TV Brasil, "a minha TV", como ele diz.

E o que é Lula para a imprensa? Ah, ele é muito carismático. É um puxador de votos como nunca se viu.

Lorota. Tanto que o próprio Lula não confia tanto neste suposto magnetismo pessoal. Tanto que usa todo seu poder de mando para catar tudo quanto é partido para os lados de sua candidata. E até fez pressão para que Ciro Gomes fosse esmagado do jeito que vimos.

Mas a imprensa bate na mesma ladainha do líder carismático.

Já com o Serra não. O tucano tem defeitos, é claro, qual é o político que não tem? Mas o rigor com ele é excessivamente acima do que é usado com Lula, o manipulador dos cordões da candidata Dilma. Com Lula, na verdade, não há rigor algum. Hoje o petista é como se fosse um Paiakã da política. Parece inimputável.

Querem que eu dê um exemplo? Então imaginem o que sairia na imprensa se o Serra, em vez de denunciar a conivência do governo boliviano com o tráfico de drogas, botasse um colar de folhas de coca no pescoço.

Agora, com o empate diagnosticado pela pesquisa do Data Folha, coitado do Serra, ele já pode ter perdido a disputa, apesar de faltar ainda quase cinco meses para a eleição e de seu nome nem ter sido ainda oficializado na convenção de seu partido.

E é desse jeito que o monte de papel velho vai aumentando no quartinho dos fundos.
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POR José Pires

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