segunda-feira, 28 de junho de 2010

O silêncio de Serra e outras lacunas do Twitter

O candidato tucano (a imprensa tem escrito "pré-candidato", mas isso é hipocrisia, o sistema eleitoral brasileiro já está desmoralizado: se a Justiça não agir com mais rigor não haverá limite algum nesta campanha), então, como eu dizia, o candidato tucano José Serra vinha fazendo um dos melhores Twitters de político. Bem colocado, escrevendo com a objetividade exigida, porém sem escrever como semianalfabeto, algo que ficou comum no Twitter, com as pessoas recortando palavras, às vezes usando apenas iniciais.

Serra transita com eficiência nos limites do Twitter, com frases integrais e muito bem colocadas. E sem confundir informalidade com divulgação de informação vazia e muitas vezes sem sentido.

Isso ele fazia bem até poucos dias atrás. Mas o problema é que no momento em que sua capacidade foi realmente testada, Serra desapareceu. Com a crise criada em torno de seu vice, esqueceu o Twitter. Ressurgiu ontem, mas com uma nota chocha dizendo que vai "tentar ler as centenas de mensagens que se acumularam". Ah, bom...

Quando teve a ocasião para mostrar seu Twitter como um instrumento de diálogo e discussão com o eleitor Serra deu para trás. Desapareceu da internet, assim como evitou os lançamentos de candidaturas estaduais da sua aliança. Ora, se for para entabular relações na internet na base da conversa sem compromisso, então é melhor que Serra e os políticos brasileiros fechem seus Twitters.

E a decepção com o tucano é ainda maior pelo fato de ele ter sido um dos poucos políticos que entendeu tecnicamente o instrumento, além de, como disse acima, também ter a capacidade rara de fazer uso dessa compreensão. Não é o que acontece com seus colegas. Neste setor o uso do Twitter é um desastre.

Na comparação com Serra, sua adversária do PT perde longe. Mas Dilma Rousseff é um notório desastre no manejo da língua portuguesa. Neste caso a continuidade de Lula está garantida.

Dizem que ela é muito hábil em falar grosso com subordinados, o que pode ser uma complicação à mais neste caso. Como a política estabelece comunicação basicamente pela fala, tem que haver uma sintonia fina entre esta e o texto. A elegância de estilo e a concatenação de idéias que vemos em vários discursos é na maioria das vezes de quem escreveu e não do político que lê o texto.

O deputado cassado Roberto Jefferson é um exemplo didático desta interação entre fala e texto. Vejam algo recente dele em sua página do Twitter:

"O PT esconde Dilma porque ela tem um quê de Magda, mas eu prefiro as pernas da Marisa Orth"

E ele é presidente de um dos partidos da aliança em torno da candidatura Serra. A piada deve ser para fortalecer os laços com o eleitorado feminino.

Mas a sintonia fina de Dilma não é melhor que a do porco-chovinista petebista. Seus textos mostram que nela elegância e estilo são incômodos como um cabresto. Vejam este texto dela, com exatos 140 caracteres exigidos pelo sistema:

"Agradeço muito as mensagens de incentivo,mas repito o q disse agora na RádioItatiaia:ficamos satisfeitos,mas ñ podemos subir no salto alto.."

Os dois ponto finais (sic) são da parte dela. O nome da rádio grudado também. E este é um dos melhorzinhos que encontrei. Não quero que me acusem depois de tê-los impedido de ganhar no primeiro turno. Mas, copidescando seu texto é possível mostrar que ela poderia dizer as coisas de um modo melhor. Que tal assim?

"Agradeço as mensagens de incentivo, mas repito o que disse há pouco na rádio Itatiaia: estamos satisfeitos, mas nada de subir no salto alto."

Os problemas de Dilma com a língua são a expressão da falência do sistema universitário brasileiro. E sua evidente incapacidade pessoal é a prova da falência dos partidos como instrumento de escolha de dirigentes públicos.

E como é que dirigentes públicos com tamanha falta de qualidade iriam entender produtos de última geração? Na visão deles, computador é produto para enganar pobre e internet é tarefa de assessor. No geral, político brasileiro vive apenas de arranjos feitos para alcançar o poder. E quando chegam lá, também usam o poder apenas como instrumento eleitoral.

Na mão deles, o Twitter é outra ferramenta para a eleição. E o que acontecerá depois de abertas as urnas será uma debandada de políticos da internet. Os Twitters ficarão fechados para um balanço que deve durar até a próxima campanha eleitoral.
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POR José Pires

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