O Twitter tem um caráter pessoal. É difícil que alguém se interesse em entrar nesta rede para ler um texto formal, sem o sabor da informação direta. Mas o problema é a simplificação desta informalidade, algo que vem tornando o Twitter parecido com recado para a empregada colado na geladeira. Não, pior que isso. Recados para a empregada podem até ser mal redigidos, mas pelo menos atendem objetivamente o interesse de quem escreveu e do leitor.
Num Twitter recente o deputado André Vargas, da comunicação do PT, informava a todo o Brasil que que pegara "uma canjiquinha" na feira de sua cidade para levar para casa. E como faz o colega e antigo companheiro Roberto Jefferson, Vargas pensa também que o Twitter é instrumento de insulto. Outro que também só escreve besteiras é Marcelo Branco, aí um caso bem grave, já que ele o especialista da campanha de Dilma para a internet. Branco entendeu mal Nelson Rodrigues: em poucos lugares a língua portuguesa apanha tanto como em seu Twitter.
Mas para ninguém dizer que só pego no pé de petistas, em outro Twitter, o deputado Benito Gama escreveu que havia rezado com sua velha mãe. E ainda noutro, Soninha Francine, descrevia suas emoções com um jogo de futebol. E não era jogo da Copa do Mundo. Nem a Soninha, que é também do ramo da comunicação, entendeu muito bem a coisa.
Cada um escreve o que quer, isso é óbvio. Mas banalidades como essas fazem mais sentido entre adolescentes e até crianças. O problema é que essa linguagem banal invadiu também outras redes, como o Orkut e o Facebook e até em blogs. Bem, o resultado com este tipo de Twitter será o mesmo desses outros meios: uma porção de páginas que nem o autor acessa e, pior, sem utilidade alguma como suporte de pesquisas, esta outra grande utilidade da internet.
Ou alguém no futuro vai querer saber da canjiquinha do deputado petista, da mãe rezadora do deputado do DEM ou da aflição de Soninha com a bola na trave?
Quando é mal interpretado, o Twitter pode ser o processo mais enganoso da internet, toda ela repleta de ilusórias facilidades. Ele requer duas habilidades que exigem um certo esforço até de profissionais. É preciso escrever razoavelmente bem e, o que é mais difícil, de forma curta, bem curta, com um limite de 140 toques.
E tem também o assunto, é claro. São poucos os que acertaram até agora. E como foi inventado para a frase curta, o Twitter seria a delícia do Barão de Itararé ou de outro humorista, menos conhecido mas também genial, Dom Rossé Cavaca, de quem se fala pouco, até porque escreveu bem menos que o Barão.
E não só por coincidência, quem tem usado o Twitter da forma mais eficiente é o Fraga, humorista gaúcho da mesma cepa desses citados, um escritor de frases curtas, tão engraçadas quanto reveladoras dessa comédia na qual os humanos atuam até o fim da vida, muitos de nós morrendo sem saber disso. Fraga é um dos mais geniais humoristas brasileiros, da geração posterior ao semanário O Pasquim. Vá ao Twitter do Fraga para conferir como tenho razão.
Este é apenas um exemplo de como fazer a coisa certa. Mas a verdade é que é uma ilhazinha entre uma enormidade de besteiras que, por enquanto, formam o Twitter. Com a costumeira dificuldade de desenvolver qualquer tarefa com responsabilidade, os brasileiros já desmoralizaram o Orkut e até as redes de blogs, hoje no Brasil atulhadas de blogs inativos, instrumentos eleitorais e partidários ou colunas sociais particulares onde se publicam elogios em causa própria e fotos de amigos e colegas.
Espero que não aconteça algo parecido com o Twitter. Mas por enquanto o caminho parece ser esse. E no que depender dos políticos brasileiros, com certeza podemos contar com eles para a desmoralização de mais esse instrumento da mais alta qualidade.
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POR José Pires
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