quarta-feira, 14 de julho de 2010

Por que ninguém contou pro cara?


No refestelo à beira da piscina há cerca de quatro meses em Cuba, na companhia de Fidel Castro, o presidente Lula dava a impressão de querer mostrar ao mundo que desfrutava de uma condição especial nas relações com o regime cubano. Ele fez questão de que o encontro fosse fotografado de maneira bem informal e depois mandou divulgar as imagens pela Secretaria de Comunicação ligada ao seu gabinete.

Mas essa decisão do regime de soltar mais de 50 presos políticos sem dar aviso algum ao governo brasileiro mostra que os petistas estão bem por fora dos planos cubanos. Parece até um chega-pra-lá em Lula. De qualquer forma, independente do verdadeiro teor da amizade petista com Cuba, neste assunto o presidente brasileiro não tem mais condições de dar seus famosos pitacos sem passar ridículo.

Lula perdeu a chance de pontuar uma posição de seu governo na questão cubana. E ficou a impressão de que a relação com os irmãos Castro se desenvolve de forma unilateral. O regime cubano aproveita o que precisa e nada dá em troca ao governo petista. Ao contrário, na posição que tem pretendido ocupar internacionalmente e até levando em consideração a necessidade de eleger sua sucessora, viria muito bem para Lula ter um papel nesta libertação de presos políticos. Então por que ninguém deu um toque para o companheiro do Brasil?

O enredo do regime cubano não reservou papel algum para o petista e ele também não fez esforço para construir fatos que consolidassem sua importância em cena, mesmo que não fosse como protagonista, mas pelo menos atuando como um coadjuvante que marcasse presença. E se Lula esperava boa vontade da parte dos irmãos Castro, os acontecimentos mostram que isso é uma ilusão.

Seria uma boa ocasião para a diplomacia petista se convencer de que relações pessoais pouco interferem nos negócios entre Estados. O olho no olho, muito menos. Se nem Fidel Castrou lembrou-se de avisar o companheiro tão prestativo, é bom que eles meditem bastante sobre o que o companheiro Ahmadinejad pode fazer numa situação parecida.

A razão de sua ausência nesse importante acontecimento histórico do regime cubano fica muito evidente na sua indesculpável falta de ação frente ao desrespeito dos direitos humanos em Cuba. Seja por dificuldade de compreensão do que se passa em Cuba ou por covardia pessoal. Para agravar, o pé-frio ainda acabou visitando Cuba exatamente no dia em que morria o prisoneiro político Zapata, após uma longa greve de fome.

Confrontado com esta morte criminosa, Lula tentou escapar do assunto alegando que "cada país tem o direito de decidir o que é melhor para ele". Sobre a morte de zapata, não saiu da boca de Lula nenhum protesto. O petista apenas criticou a greve de fome e fez uma tola comparação com uma greve de fome que ele teria feito quando esteve preso. Na verdade, o próprio Lula sempre faz piada com essa suposta greve, dizendo que "furou a greve" chupando balas que tinha escondido.

Ao contrário do brasileiro, o primeiro-ministro espanhol José Luís Rodrigues Zapatero vem interpelando publicamente o regime cubano quanto aos direitos humanos, trazendo inclusive o problema no plano político da Comunidade Européia. Lula poderia ter feito isso no plano do Mercosul. Seria bem mais vantajoso para sua imagem internacional do que meter o Mercosul em papo de futebol, que foi o que ele fez nesta Copa do Mundo.

Mas tem a dificuldade de compreensão e a covardia pessoal de que falei. Mal assessorado e sem capacidade moral, Lula perdeu mais essa oportunidade na política internacional. Com suas fotos à beira da piscina e embriagado na presença do ditador, vai ficar na história no papel de bobo da corte do regime cubano.
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POR José Pires

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