A morte de Celso Daniel é mesmo coisa de cinema. A ação mais “cinematográfica” foi a do bandido Dionísio Aquino Severo, um dos seqüestradores de Celso Daniel. Dionísio cumpria pena em um presídio quando foi resgatado do pátio da prisão por um helicóptero. Os guardas do presídio nada fizeram para conter a fuga. Isso tudo ocorreu antes da morte do prefeito e dá a impressão de que ele saiu apenas para fazer o serviço.
Poucos meses depois do crime, Dionísio foi preso novamente. Então disse ao delegado Romeu Tuma Júnior que sabia muito sobre o caso, mas só falaria em “condições especiais”. Não deu tempo. Foi assassinado dentro da prisão dois dias depois.
Eu disse que era coisa de cinema. Tuma Júnior entrou no caso porque na época da morte de Celso Daniel era ele o titular da delegacia seccional de Taboão da Serra, sob cuja jurisdição estava a cidade de Juquitiba, município onde o corpo foi encontrado.
É difícil que um delegado experiente não fizesse as ligações correspondentes entre a fuga espetacular e o crime. Os investigadores da delegacia chefiada por Tuma Júnior chegaram à conclusão que o helicóptero que deu fuga a Dionísio fora alugado na região do ABC.
Recentemente Tuma Júnior esteve envolvido numa complicação política que preocupou bastante o governo Lula. No cargo de Secretário Nacional de Justiça, ele foi acusado de ter relações muito próximas com um dos chefes da máfia chinesa e enfrentou este problema com a maior tranqüilidade. Tuma Júnior foi exonerado do cargo, mas no final acabou sendo inocentado. E o assunto foi esquecido pelo governo.
Para um crime comum, a morte de Celso Daniel tem complicações demais, não acham? E foi muito intensa a atuação de Gilberto Carvalho para que prevalecesse esta tese. Ele não sossegou nem depois que passou a ocupar a sala ao lado da do presidente Lula.
Entre as muitas atuações para forçar uma finalização das investigações da morte de Celso Daniel como um simples crime comum, uma das mais surpreendentes foram os telefonemas entre ele e o acusado de ser o mandante do crime, o Sombra, e o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado petista e um dos líderes do partido. Greenhalgh foi incumbido pelo partido de acompanhar o caso de perto.
Os grampos telefônicos foram feitos a pedido do PT e depois descartados como prova. Mas de qualquer forma estão disponíveis na internet para mostrar as maquinações.
Primeiro o diálogo entre Carvalho e o Sombra:
Carvalho: “É, eu vou agora, marcamos às três horas na casa do José Dirceu. Vamos conversar um pouco sobre a nossa tática da semana, né? Porque nós vamos ter que ir pra contra-ofensiva”.
Sombra: “Vou falar com meus advogados amanhã. A nossa idéia é colocar essa investigação sob suspeição. Arrumar um jeito de...”
Carvalho: “É, acho que é um bom caminho”.
E agora, o diálogo entre Carvalho e Greenhalgh:
Greenhalgh: Olha, deixa eu te falar. Está chegando a hora do João Francisco ir depor e antes e antes do depoimento quero conversar com você para ele não destilar ressentimento lá.
Carvalho: “Pelo amor de Deus, isto vai ser fundamental. Tem que preparar bem aí o cara, porque este cara vai...”
Não é muito esforço em volta de um simples comum? Mas o caso está de volta e agora na esfera da Justiça, com uma acusação de propina que atinge o homem mais próximo do presidente da República hoje em dia. A propósito, parece ser o único que sobrou dos que subiram ao poder com Lula.
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POR José Pires
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