Na discussão pública que veio depois do qüiproquó na TV entre o deputado Bolsonaro e a Preta Gil o assunto é desviado também para o interesse de grupos de lobbies que se aproveitam da questão racial e também do homossexualismo.
A militância de movimentos negros alinhados ao governo está adorando o caso. E um episódio que é basicamente de fofocagem é colocado de forma artificial até no centro da discussão das cotas raciais. O debate sobre as cotas raciais deveria se concentrar em algo mais profundo que discutir se o piloto do avião foi aprovado pelo sistema de cotas, mas quem é que vai perder tempo aprofundando o tema com o Bolsonaro facilitando dessa forma a manipulação do debate?
Acompanho bem esta discussão e vejo que os que são contra as cotas raciais apresentam argumentação consistente, enquanto os defensores da cota procuram dar ao debate um clima emocional. Os adeptos das cotas estão também o tempo todo tentando demonizar os adversários. Já vi até argumentações absurdas falando de um “apartheid” nesta questão. Um tal de “privilégios dos brancos” já foi aventado como um dos demônios contrários aos direitos dos negros. Na verborragia absurda desses movimentos apareceu até uma “elite branca” no país. Vou falar mais dessas coisas depois.
Nada melhor que um Bolsonaro para uma militância grudada em cargos no governo federal e também nos estados e municípios ou em favores diversos. Colocar uma figura execrável como Bolsonaro entre os que são contra as cotas raciais facilita muito as coisas. É a figura ideal para que se cole o rótulo de racista aos que buscam esclarecer este sistema.
E eles sabem que Bolsonaro não tem nada a ver com esse assunto, mesmo agora com essa novidade de ter um cunhado negro. Mas quando é que vai aparecer outra chance dessas para eles tacharem de racistas os adversários?
Mas tem mais gente tirando sua casquinha, sem nenhuma diferença de cor. Branquelos e negrões, todo mundo quer um ganho. O pessoal do CQC está estourando de satisfação com o caso. Marcelo Tas até protagonizou um momento-verdade nessa semana, com a revelação de que sua filha é gay.
No país da piada pronta, nada como um momento-verdade num programa de humor. Só faltou uma música de fazer rolar lágrimas no fundo quando Tas contou aos telespectadores sobre sua filha.
Bem, mas se está aumentando a audiência do programa, então está valendo à pena. A propagação do vídeo na internet foi grande, o que garante um bom reforço na marca do programa. Daí para o selinho na Hebe é um pulo.
O momento-verdade pode servir também para buscar credibilidade para um programa que tem como base o constrangimento alheio e que ajuda a disseminar uma rede de fofocas sobre políticos, artistas e outras personalidades.
Nesta história o CQC como paladino da luta contra o preconceito é a única piada que conta. O que o programa mais faz é alimenta preconceitos. Além das situações agressivas que criam para as vítimas que caçam em festas, shows, lançamentos ou qualquer outra atividade que junte nomes famosos. A receita é irritar as pessoas até que elas tomem atitudes insensatas que sirvam para o programa fazer sucesso.
Recentemente o CQC fez humor atiçando a suposta rivalidade entre brasileiros e argentinos. Fizeram uma ligação com a visita de Barack Obama ao Brasil quando, segundo a peça de “humor”, Marcelo Tass teria recebido uma caixa do presidente americano. Quando apertam um botão na caixa surge uma jornalista apresentando um noticiário extra informando que aquilo havia disparado um míssil sobre Buenos Aires.
Se isso não é estimular preconceito, então não existem mais limites sobre a responsabilidade de quem usa um meio de comunicação tão influente. Quem é sério não trabalha sobre esses mitos de rivalidade coletiva. E, além disso, nem é engraçado. Assim como não é engraçado um bate-boca entre um deputado e uma cantora. E tem tanta gente assim que acha bacana ficar vendo pessoas sofrendo constrangimento?
Nem tanto. Com Bolsonaro ou sem Bolsonaro, o CQC fica sempre pela média de cinco pontos em São Paulo. No resto do país a TV Bandeirantes tem menos audiência ainda.
Com a tentativa de fazer graça, o CQC também fez desmoronar a credibilidade do jornalismo da emissora, que aceitou colocar um material no ar igualzinho às edições extras de sua programação jornalística.
É claro que não vou situar a má-qualidade da TV Bandeirantes apenas no que o CQC tem feito. Seria desmerecer o esforço de anos da direção dessa rede de emissoras para oferecer porcarias para seus telespectadores. Mas fazer piada com seu próprio jornalismo é um sinal de que também lá dentro não levam a emissora a sério.
É muito moderninho e faz bem para a fama de Marcelo Tas aparecer revelando ter uma filha lésbica. Também pode parecer que um gesto desses cria tremendos avanços sociais, mas a verdade é que o conjunto do programa que ele dirige é bem retrógrado, apesar de ter um verniz supostamente iconoclasta. Basicamente é a exploração do constrangimento alheio.
É uma ética bem estranha e tremendamente particular essa de ter um programa que no grosso busca audiência em cima do constrangimento e expondo as pessoas em bate-bocas grosseiros, mas que de vez em quando se dá ares de tribuna dos direitos civis.
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POR José Pires
A militância de movimentos negros alinhados ao governo está adorando o caso. E um episódio que é basicamente de fofocagem é colocado de forma artificial até no centro da discussão das cotas raciais. O debate sobre as cotas raciais deveria se concentrar em algo mais profundo que discutir se o piloto do avião foi aprovado pelo sistema de cotas, mas quem é que vai perder tempo aprofundando o tema com o Bolsonaro facilitando dessa forma a manipulação do debate?
Acompanho bem esta discussão e vejo que os que são contra as cotas raciais apresentam argumentação consistente, enquanto os defensores da cota procuram dar ao debate um clima emocional. Os adeptos das cotas estão também o tempo todo tentando demonizar os adversários. Já vi até argumentações absurdas falando de um “apartheid” nesta questão. Um tal de “privilégios dos brancos” já foi aventado como um dos demônios contrários aos direitos dos negros. Na verborragia absurda desses movimentos apareceu até uma “elite branca” no país. Vou falar mais dessas coisas depois.
Nada melhor que um Bolsonaro para uma militância grudada em cargos no governo federal e também nos estados e municípios ou em favores diversos. Colocar uma figura execrável como Bolsonaro entre os que são contra as cotas raciais facilita muito as coisas. É a figura ideal para que se cole o rótulo de racista aos que buscam esclarecer este sistema.
E eles sabem que Bolsonaro não tem nada a ver com esse assunto, mesmo agora com essa novidade de ter um cunhado negro. Mas quando é que vai aparecer outra chance dessas para eles tacharem de racistas os adversários?
Mas tem mais gente tirando sua casquinha, sem nenhuma diferença de cor. Branquelos e negrões, todo mundo quer um ganho. O pessoal do CQC está estourando de satisfação com o caso. Marcelo Tas até protagonizou um momento-verdade nessa semana, com a revelação de que sua filha é gay.
No país da piada pronta, nada como um momento-verdade num programa de humor. Só faltou uma música de fazer rolar lágrimas no fundo quando Tas contou aos telespectadores sobre sua filha.
Bem, mas se está aumentando a audiência do programa, então está valendo à pena. A propagação do vídeo na internet foi grande, o que garante um bom reforço na marca do programa. Daí para o selinho na Hebe é um pulo.
O momento-verdade pode servir também para buscar credibilidade para um programa que tem como base o constrangimento alheio e que ajuda a disseminar uma rede de fofocas sobre políticos, artistas e outras personalidades.
Nesta história o CQC como paladino da luta contra o preconceito é a única piada que conta. O que o programa mais faz é alimenta preconceitos. Além das situações agressivas que criam para as vítimas que caçam em festas, shows, lançamentos ou qualquer outra atividade que junte nomes famosos. A receita é irritar as pessoas até que elas tomem atitudes insensatas que sirvam para o programa fazer sucesso.
Recentemente o CQC fez humor atiçando a suposta rivalidade entre brasileiros e argentinos. Fizeram uma ligação com a visita de Barack Obama ao Brasil quando, segundo a peça de “humor”, Marcelo Tass teria recebido uma caixa do presidente americano. Quando apertam um botão na caixa surge uma jornalista apresentando um noticiário extra informando que aquilo havia disparado um míssil sobre Buenos Aires.
Se isso não é estimular preconceito, então não existem mais limites sobre a responsabilidade de quem usa um meio de comunicação tão influente. Quem é sério não trabalha sobre esses mitos de rivalidade coletiva. E, além disso, nem é engraçado. Assim como não é engraçado um bate-boca entre um deputado e uma cantora. E tem tanta gente assim que acha bacana ficar vendo pessoas sofrendo constrangimento?
Nem tanto. Com Bolsonaro ou sem Bolsonaro, o CQC fica sempre pela média de cinco pontos em São Paulo. No resto do país a TV Bandeirantes tem menos audiência ainda.
Com a tentativa de fazer graça, o CQC também fez desmoronar a credibilidade do jornalismo da emissora, que aceitou colocar um material no ar igualzinho às edições extras de sua programação jornalística.
É claro que não vou situar a má-qualidade da TV Bandeirantes apenas no que o CQC tem feito. Seria desmerecer o esforço de anos da direção dessa rede de emissoras para oferecer porcarias para seus telespectadores. Mas fazer piada com seu próprio jornalismo é um sinal de que também lá dentro não levam a emissora a sério.
É muito moderninho e faz bem para a fama de Marcelo Tas aparecer revelando ter uma filha lésbica. Também pode parecer que um gesto desses cria tremendos avanços sociais, mas a verdade é que o conjunto do programa que ele dirige é bem retrógrado, apesar de ter um verniz supostamente iconoclasta. Basicamente é a exploração do constrangimento alheio.
É uma ética bem estranha e tremendamente particular essa de ter um programa que no grosso busca audiência em cima do constrangimento e expondo as pessoas em bate-bocas grosseiros, mas que de vez em quando se dá ares de tribuna dos direitos civis.
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POR José Pires
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