domingo, 6 de novembro de 2011

O Brasil no rumo do México

A nossa violência diária afinal fez uma vítima entre profissionais da imprensa. No Rio de Janeiro morreu um cinegrafista da TV Bandeirantes, atingido por um tiro durante operação da Polícia Militar. Fala-se em confronto entre traficantes e em nota o Grupo Bandeirantes informa que o cinegrafista foi atingido "por um tiro de fuzil, provavelmente disparado por um traficante". O grifo é meu e é para destacar que a Bandeirantes poderia ter evitado este “provavelmente” e não só esperar investigações sérias sobre a morte como também exigir que isso aconteça.

O problema da violência é generalizado no país e esta mortandade nacional exige bem mais do que saber de que lado veio o tiro neste ou naquele tiroteio.

Quem acompanha este blog sabe que tenho escrito bastante sobre a violência que toma conta do país e apontado os riscos disso até para a nossa própria democracia. Neste caso específico ocorreram mais quatro mortes, além do cinegrafista assassinado. E tem sido desse jeito o tempo todo, com as mortes violentas já ocupando o cotidiano do brasileiro de tal forma que o país parece acomodado à convivência o horror.

Essa acomodação a problemas brasileiros gravíssimos é uma coisa muito séria. Já se vive no país de uma forma que dificuldades graves passam a ser incorporadas no dia-a-dia, como se não houvesse outra opção senão o convívio com fatos trágicos e degradantes. Mesmo em cidades médias a contagem de um morto ou mais por dia em situação violenta já é tratada como nota corriqueira pelos jornais.

Bem, existem setores da esquerda que até parecem acreditar que devemos agradecer ao governo por sua incompetência ao encarar várias questões, inclusive essa matança que toma conta das cidades brasileiras.

O tiro mortal neste cinegrafista da Tv Bandeirantes me parece ser o primeiro em campo aberto. Já aconteceu o horror com o jornalista Tim Lopes, em 2002. Há pouco tempo jornalistas do jornal O Dia foram seqüestrados e vivem ameaçados até hoje. Existe também a gradativa ocupação das milícias paramilitares em vários cantos do país, alcançando o domínio de bairros inteiros, onde ditam leis e aterrorizam, torturam e matam, além de extorquir a população para o uso de serviços básicos. Essas milícias agem com a conivência da polícia e são compostas até por policiais da ativa.

Recentemente tivemos a notícia de que o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) terá de sair do país por causa de ameaças das milícias. Antes disso, a corajosa juíza Patrícial Acioli foi assassinada. Notem como as coisas estão andando: se um deputado é obrigado a fugir e uma juíza é morta na porta de casa, o que os bandidos não podem começar a fazer com a imprensa?

E o problema pode se agravar de forma muito violenta bem quando essas quadrilhas começarem a agir para ter o controle da informação, pressionando a imprensa e impedindo notícias contrárias a seus crimes. Podem até justiçar quem escreve contra seus crimes. Só a acomodação de que falei impede que se veja que estamos muito perto de viver o que acontece atualmente no México, um país que em vários aspectos negativos parece ser o retrato do Brasil de amanhã.

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