sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Humor explosivo

A capa do semanário de humor francês Charlie Hebdo que criou preocupação no governo pela possibilidade de represália de grupos fundamentalistas islâmicos. Embaixadas francesas estão sob alerta e algumas delas estão fechadas em países onde é maior o risco de terrrorismo. A edição vem a propósito do escândalo forjado em torno de "A inocência dos muçulmanos", um filme que passaria desapercebido se não tivesse sido usado como pretexto de grupos fundamentalistas islâmicos para fazer terrorismo.

Sobre isso o editor-chefe da publicação, Gérard Biard, deu uma boa definição em entrevista para a imprensa após a polêmica. Ele respondeu a um jornalista que questionou se a publicação do material sobre Maomé era para exercer  a liberdade de expressão ou provocar: “Nos situamos no âmbito do nosso trabalho e da liberdade de expressão. No caso de notícias com um potencial tão conflituoso, a saber, um filme imbecil que gerou tumulto em quase todas as partes do mundo e que resultou em mortos e embaixadas queimadas: se nós, jornalistas, comentaristas da atualidade, não devemos comentar isso, o que então? Eu rejeito o termo "provocação". Não se trata de jeito nenhum de provocação, se trata de fazer nosso trabalho de jornalistas, de comentaristas da atualidade”.

O jornalista trouxe também uma outra questão muito importante em relação ao clima de chantagem que o extremismo islâmico vem criando no mundo: "Se começamos a questionar o direito de caricaturar ou não Maomé, se é perigoso ou não fazê-lo, a questão seguinte será se poderemos representar os muçulmanos no jornal. Depois vamos perguntar se podemos mostrar seres humanos, etc, etc. E no final não mostraremos mais nada. Neste caso, a minoria de extremistas que agitam o mundo e a França terão ganhado".
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POR José Pires

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Refúgio seguro

Começou o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal do núcleo político do mensalão. No inquérito do ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza o mensalão é dividido em núcleos, sendo o núcleo político a peça principal do esquema criminoso. Segundo o documento, “o núcleo principal da quadrilha” era composto por José Dirceu, Delúbio Soares, Sílvio Pereira, e José Genoíno, todos dirigentes mais importantes do PT na época. Dirceu é identificado como “chefe da
quadrilha”.

Dirceu diz hoje em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que não vai fugir do Brasil se for decretada sua prisão. Sua condenação pelo STF parece inevitável, mas ele tem razão de não se preocupar. São mínimas as chances dele ir para a cadeia mesmo que haja a condenação. E alguém vai para a cadeia no Brasil quando seu crime envolve uma cadeia de interesses de setores poderosos da política?

Na verdade o Brasil vive há tempos a situação de refúgio de criminosos ou de pessoas condenadas em outros países. Nisso a nossa fama é internacional. Temos inclusive o caso do terrorista Cesare Battisti, defendido e acolhido aqui por Dirceu, Lula e seus companheiros para não ir para a cadeia na Itália. A fama de terra sem lei até virou chavão de filme americano. Sempre tem um mafioso ou qualquer outro tipo de criminoso em filmes ou séries de TV que planeja sua fuga para a impunidade garantida nessa terra tropical.

A situação é explorada até em histórias em quadrinhos. O desenho da imagem é de uma ótima série de quadrinhos criada pelo desenhista Jordi Bernet e o roteirista Antonio Segura. Os dois são espanhóis. A Espanha tem ainda hoje um bom mercado de história em quadrinhos, com excelentes desenhistas. No país criou-se até esta indispensável parceria entre desenhista e roteirista, sendo Segura um dos mais criativos. Algumas de suas histórias se nivelam por cima com grandes filmes de aventura. Infelizmente, Segura morreu em janeiro deste ano, mas Bernet continua em forma. Tem um desenho simplificado, de alto poder de envolvimento do leitor.

O quadro destacado na imagem é de Kraken, série que se passa nos esgotos de uma grande cidade, onde vive um ser monstruoso que jamais aparece. E nem precisa, como sabe qualquer um que viva numa cidade com seus Krakens. O esgoto é patrulhado por um grupo de militares comandado pelo tenente Dante. Claro que o nome não é por acaso. O criminoso que planeja fugir para o Brasil é um embaixador envolvido com tráfico de drogas que forja o próprio sequestro. No final, o tenente resolve o problema de forma, digamos assim, pragmática. Ele elimina os bandidos todos e sabe que o embaixador pode ficar livre usando seus laços políticos. Então dá um tiro mortal no embaixador, que já começava com ironias. Desse problema pelo menos o tenente Dante livrou o Brasil.
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POR José Pires
 

— Então o Brasil tem que fugir do José Dirceu...

domingo, 16 de setembro de 2012

O banco dos mensaleiros


O mensalão foi muito mais do que um simples suborno de deputados do Congresso Nacional. O esquema articulado no início do primeiro mandato de Lula por altas lideranças do PT foi um crime contra a democracia brasileira. Para mim sempre foi óbvio que Lula, como presidente, tomou conhecimento de tudo. Era o chefe de todos os implicados na sujeira. Só pode tê-los comandado também na articulação da trama.

No inquérito do mensalão, o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza é muito claro sobre o que pretendia a cúpula petista, na época composta por José Dirceu, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e José Genoíno. A compra do apoio dos deputados para o governo tinha como objetivo a perpetuação do PT no poder.

Os crimes levantados pelo procurador-geral da República já eram de arrepiar os cabelos, mas o espanto vai aumentando cada vez mais com o que vem sendo descoberto depois do início do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal.

Além da matéria que mostra a responsabilidade de Lula no mensalão, a Veja desta semana traz uma entrevista com Lucas da Silva Roque, que foi superintendente do Banco Rural em Brasília. E ali temos uma outra informação chocante sobre a ousadia do bando que pretendia tomar de assalto a República. O ex-superintendete revela que havia um plano do grupo do mensalão de montar um banco popular que juntaria o Rural e o BMG com a CUT, a central sindical petista. O esquema financeiro só não foi adiante porque aconteceu a denúncia do mensalão. Com o escândalo, abortaram o plano.

A CUT participaria direcionando beneficiários do INSS para tomar empréstimos consignados na instituição que seria formada. O projeto teria capital inicial de R$ 1 bilhão. A central sindical governista foi entusiasta da criação dessa modalidade de crédito pelo presidente Lula. O empréstimo realizado por aposentados e pensionistas do INSS é uma minha de ouro da qual participam os sindicatos: no ano passado o volume de crédito foi quase R$ 30 bilhões.

Dá para imaginar o estrago para a nossa democracia se o grupo tivesse concretizado o plano do banco popular. Além do domínio político do Congresso, a canalha contaria com muito dinheiro para o financiamento.de seus planos. Além, é claro, das fortunas que teriam certamente separado para o enriquecimento pessoal de cada um.
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POR José Pires

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ferreira Gullar num lado estranho

Nas primeiras eleições diretas para governador, em 1982, a disputa mais acirrada foi no Rio de Janeiro. Lá aconteceu até uma tentativa de fraude contra Leonel Brizola, que foi valente na denúncia e reação ao golpe, afinal elegendo-se governador pelo PDT, que ele acabara de fundar. Naquele época ainda havia política vibrante no Rio, ao contrário de hoje em dia, quando o quadro eleitoral é de uma artificialidade que chega a ser cômica.

Naquela eleição o candidato favorito era Miro Teixeira, pelo PMDB, que era o herdeiro do chaguismo, estrutura corrupta comandada pelo governador indireto Chagas Freitas, que mandava no estado desde o golpe militar de 1964. A disputa dividiu os artistas, a intelectualidade e os jornalistas. O destino do semanário "O Pasquim" foi decidido ali pelo Ziraldo e o Jaguar. O primeiro estava com Miro Teixeira e o segundo apoiava Brizola. O dois decidiram que o jornal de humor ficaria com aquele que estivesse com o candidato ganhador. Parece piada, mas foi realmente isso que eles fizeram.

Outra personalidade muito importante que também apoiava publicamente Miro Teixeira para governador era o poeta Ferreira Gullar. Como contribuição para a campanha de seu candidato, Gullar resolveu fazer um poema. Isso mesmo, ele fez um poema para o Miro Teixeira. Mas com apenas uma observação Jaguar matou o poema de propaganda. Ele escreveu em "O Pasquim" que o poema de Ferreira Gullar para Miro Teixeira era o Poema Sujo Nº 2.

Me lembrei disso hoje sapeando no site do candidato à reeleição para prefeito do Rio, Eduardo Paes. Surpreendentemente para mim, Gullar está apoiando Paes e até gravou um vídeo que deve estar passando na televisão. Meu estranhamento é que o prefeito do Rio faz parte de um esquema político nacional sobre o qual Gullar tem escrito artigos bastante críticos.

O vídeo de Gullar está ao lado do vídeo do Lula falando muito bem de Paes. Ao menos nisso os dois concordam, mas da parte do poeta não vejo coerência no apoio . Ele não chegou a fazer um poema para o candidato (aí seria o Poema Sujo Nº 3), mas diz que o prefeito é um político ético. É muito discutível uma afirmação dessas sobre alguém que como deputado federal do PSDB fazia oposição ferrenha a Lula e depois mudou de lado da forma que ele mudou.

Não sei a razão para Ferreira Gullar nesta altura da vida se meter numa eleição como esta e ainda mais do lado de um prefeito que faz parte do grupo do governador Sérgio Cabral e seus secretários cabeça de guardanapo com suas festas com empreiteiros em Paris. É um esquema em que está até o Lula, sempre tão criticado pelo poeta.

Mas independente do apoio errado, eu penso que alguém na posição de Gullar na cultura brasileira deveria evitar a atividade política direta, atuando do modo que ele vem fazendo muito bem em seus artigos e entrevistas na imprensa. O país precisa muito de artistas e intelectuais que tenham compromisso com a discussão crítica e criativa da realidade brasileira, sem o envolvimento com correntes políticas e muito menos com qualquer candidato.
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POR José Pires