segunda-feira, 25 de março de 2013

Recorde bilionário

Eu acho que é um caso para comemoração nacional, com banquete oficial, desfile, exposição, lançamento de selo, esse tipo de coisa que se costuma fazer quando o país alcança um patamar formidável em algum setor. O gasto anual com deputados no Brasil já vai alcançar 1 bilhão de reais. Falta pouco. O gasto atual está em R$ 928 milhões. Uma pequena emenda já poderia num salto levar para este 1 bilhão o orçamento desta casta política. Dava pra fazer já a comemoração do dispêndio desta fortuna. Mas logo mais chegaremos lá.

Devemos sempre lembrar sempre que os nossos políticos, tanto os senadores quando os deputados, custam mais ao contribuinte do que os políticos de democracias muito bem estabilizadas de países de maior poder econômico que o Brasil. Recentemente a ONG Transparência Brasil fez um estudo sobre gastos individuauis de representação, viagens e contratação de assessores e comparou com os mesmos custos em países estrangeiros. No Brasil o valor superava R$ 1 milhão ao ano. Em três países ricos estava assim: Alemanha - R$ 860 mil, França, R$ 770 mil, Inglaterra - R$ 760 mil.

A ONU divulgou no mês passado um estudo que mostra que em custo total o congressista brasileiro é 2º mais caro em um universo de 110 países. Cada um dos nossos parlamentares custa US$ 7,4 milhões por ano. Os Estados Unidos é único país que gasta mais: US$ 9,6 milhões anuais. Mas é preciso dizer que esta é uma comparação integral entre cada gasto, sem nenhuma outra referência. Se for levado em conta a renda per capita de brasileiros e americanos, aí o gasto brasileiro salta lá em cima, fazendo dos nossos políticos uma casta paga de uma forma que talvez não exista em lugar nenhum do mundo.

Outra questão óbvia, mas que é preciso ressaltar porque temos no país patrulhas vigilantes de ataque ao pensamento crítico, é que na maioria destes países as democracias vão muito bem com seus parlamentares sendo pagos com o devido equilíbrio. Eu penso até que essas democracias vão bem também por isso. O que desmoraliza a democracia é esta rapina dos cofres públicos que deputados e senadores vêm fazendo com aumentos contínuos determinados por eles mesmos.

Então, não há nenhum ataque à democracia ou ao papel essencial do Congresso Nacional quando são trazidos estes números escandalosos. É preciso mesmo sentar a lenha nesta elite gastadora e trazer todos os gastos com parlamentares a um nível próximo ao que ganham os demais brasileiros que não fazem parte desta casta. Isso só vai fortalecer nossa democracia.
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POR José Pires

sábado, 16 de março de 2013

A difamação que vem da Argentina

Deixa ver se eu entendi: a esquerda quer derrubar o papa, é isso? É o que dá a entender a corrente de difamação que desenvolveram contra o papa Francisco, a partir de acusações que se baseiam na sua atividade como bispo, na Argentina. As fontes carecem e muito de credibilidade. Existe uma acusação muito pesada, de que dois jesuítas teriam sido delatados às forças da repressão na época da ditadura militar. Isto veio do jornalista Horácio Verbitsky, fundador do Página 12, jornal que atua na defesa do governo de Cristina Kirchner. Verbitsky é tido na Argentina como influente mentor político do "kirchnerismo". Sua relação pra lá de estreita com os Kirchner vem desde o governo anterior de Néstor Kirchner, o falecido marido da atual presidente, que a fez como sucessora.

Verbitsky tem uma história política com vínculos com o autoritarismo. Fez parte do extremismo que tivemos na América do Sul entre as décadas de 60 e 80, quando grupos políticos violentos tentaram substituir ditaduras de direita por ditaduras de esquerda. E existem suspeitas muito sérias sobre este seu passado. Ele foi da organização política Montoneros, grupo armado dos mais agressivos da América Latina, que praticava até terrorismo. O jornalista que acusa o papa Francisco fazia parte da área de inteligência dos Montoneros, que tinha entre outras funções a de apontar bons alvos físicos para sequestros e chantagens para arrancar dinheiro para a organização. Um dos sequestros mais rentáveis deles foi o duas pessoas da família que controla a Bunge e Born. O ex-montonero é acusado de ter ajudado a desviar para Cuba US$ 60 milhões vindos deste sequestro. Ele nega e diz que é tudo invenção de adversários para destruí-lo.

A acusação contra o papa Francisco está em "El silencio", livro escrito por Verbitsky onde ele expõe sua visão sobre o papel da igreja durante o regime militar na Argentina. Para ele a igreja católica colaborou com a sucessão de ditadores, de 1976 até 1983. Foi um período violentíssimo. Quem reclama com mau humor dos que falam que em "ditabranda" no Brasil está fechando os olhos ao que ocorreu na Argentina. Calcula-se em cerca de 30 mil o número de mortos e o de desaparecidos é de 10 mil. Colocar a igreja católica entre os colaboradores de um regime de terror desses é uma acusação da maior gravidade. Na Argentina não tem coisa pior. E o do Página 12 sabe disso. Ele me parece uma dessas pessoas que se nega a rever seus erros do passado. Está preso aos rancores do passado. É costume dessa gente fazer a difamação histórica de qualquer um que não esteve com eles nas aventuras do passado. No Brasil também temos este tipo de problema, até na situação muito cômica de gente que defende erros graves do passado sem sequer ter participado deles. O ex-montonero argentino mantém-se aferrado a uma vendeta particular com igreja. Ele queria que, quando foi bispo na Argentina, o papa Francisco tivesse prestado apoio incondicional às suas ações criminosas.

Mesmo atuando hoje junto a um governo que já está no quarto mandato consecutivo, Verbitsky parece não compreender que a ampliação dos horizontes políticos que houve no mundo exige análise e argumentação muito diferente daquela feita na obscuridade da militância clandestina. Daí a minha questão inicial, perguntando se a esquerda quer derrubar o papa. E quando embarca nesta rede da difamação que saiu da Argentina, a esquerda brasilera se situa de forma ainda mais tola. Essa azucrinadora militância puxou para cá o antagonismo violento da esquerda argentina, que talvez seja a mais maluca do continente. Com isso, assumem um confronto desnecessário com todos os católicos.

Será que é preciso dizer pra esta gente que na relação com uma instituição do peso moral da igreja católica é preciso agir com equilíbrio e razão? Especialmente na hora de expor supostas faltas graves desta intituição não é nem um pouco inteligente agir de forma difamatória, com argumentos sem nenhuma base de sustentação. Será que até algo simples assim eles precisam ouvir? É claro que precisam. E se tiver alguém temendo que uma dica dessas possa fortalecê-los, não há porque se estressar com uma preocupação dessas. Esse pessoal não se emenda de jeito nenhum.
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POR José Pires

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Imagem: Juntos numa ocasião pública, Verbitsky e Cristina Kirchner revelam de forma muito expressiva a sintonia entre o jornalista e a presidente; à frente, capa de "El silencio".

quarta-feira, 13 de março de 2013

quinta-feira, 7 de março de 2013

O dia em que José Dirceu voltou no pinote de Caracas


José Dirceu não vai poder ir ao velório de Hugo Chávez. O presidente do STF, Joaquim Barbosa, recusou a licença que ele pediu ontem para fazer a viagem. O passaporte do ex-ministro de Lula está confiscado em razão da sua condenação à prisão no processo do mensalão.

A decisão de Barbosa não vai permitir que se esclareça uma dúvida que me ocorreu quando soube do pedido feito por Dirceu. Como seria a recepção a ele no velório de Chávez? O relacionamento entre os dois nunca foi próximo, mesmo quando ainda não havia sido revelado seu papel como chefe da quadrilha do mensalão. E Chávez certamente nunca levou à sério políticos de esquerda como Dirceu.

No único contato oficial entre os dois, Dirceu levou um carreirão de Chávez em Caracas e voltou bem rápido para o Brasil. Ninguém se lembrou desse episódio. A coisa não está nem no cocuruto do Google, como já verifiquei. Mas modestamente a nossa memória só perde pra elefante bom da cuca.

Foi uma viagem ligeira do José Dirceu para Caracas em 2005, quando o clima estava fervendo nas relações entre a Venezuela e os Estados Unidos. De um lado Chávez, que governava desde 1999, e do outro George W. Bush, que não precisa ser apresentado. Eram dois coisas ruins. E é preciso lembrar também que em abril de 2002 o presidente venezuelano quase foi tirado do poder por um golpe, que ele sempre atribuiu ao governo americano.

Chávez estava à toda na Venezuela. E por aqui, no Brasil, Lula e seu grupo governavam embaladíssimos no projeto de poder perpétuo para o PT. A denúncia do mensalão só viria três meses depois na famosa entrevista do então deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, ao jornal Folha de S. Paulo.

É claro que Lula e Dirceu embalavam também o sonho de ocupar a liderança da esquerda latino-americana. No plano local o domínio do Congresso Nacional já estava encaminhado por meio dos subornos do mensalão. Faltava só abarcar o continente no projeto partidário que, para os dois, era para muitas décadas de poder.

Mas nisso Chávez era uma barreira, pois além do peso da sua personalidade ele tinha também divergências com a visão ideológica dos líderes brasileiros, colocando isso em prática no governo da Venezuela. Seu projeto sempre foi pelo confronto direto com os Estados Unidos, bem diferente do que pensavam Lula e Dirceu, partidários de uma conciliação parecida com a que faziam no plano local e que até então estava dando certo.

Naquele mês de abril de 2005 a então secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, fez uma visita oficial importante ao Brasil. É possível até que fosse um dos lances de algum arranjo entre Lula e Bush, que já havia sido acertado nos bastidores. Porém, Chávez estava numa briga feia com os ianques. Foi aí que José Dirceu, que ocupava a chefia da Casa Civil, fez as malas e foi para a Venezuela conversar com o presidente venezuelano. A idéia era propor uma amenizada nas ações e discursos de Chávez.

Até hoje não se sabe como foi a conversa e seria muito interessante para a história política de Nuestra América que este colóquio entre os dois tenha tido alguma testemunha ou que esteja documentado. Seria bom demais saber o que é que Dirceu ouviu naquele dia, pois ficou muito evidente que ele mais ouviu do que falou. O que sabemos até agora da conversa é apenas sua conclusão. Dirceu voltou na mesma hora para o Brasil, bem rápido mesmo, sem falar nada sobre este dia em que ele e o Lula tentaram suavizar o Hugo Chávez.

E o Chávez continuou o mesmo, sempre à toda, até ser parado pelo câncer. Como se sabe, a liderança da esquerda no continente ficou entre seus braços e neste papel ele até influiu para vexames ao governo Lula, como foi o caso da encampação da Petrobrás pelo governo de seu pupilo boliviano, Evo Morales.
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POR José Pires