segunda-feira, 25 de março de 2013
Postado por José Pires às 23:36 0 comentários
Recorde bilionário
Eu
acho que é um caso para comemoração nacional, com banquete oficial,
desfile, exposição, lançamento de selo, esse tipo de coisa que se
costuma fazer quando o país alcança um patamar formidável em algum
setor. O gasto anual com deputados no Brasil já vai alcançar 1 bilhão de
reais. Falta pouco. O gasto atual está em R$ 928 milhões. Uma pequena
emenda já poderia num salto levar para este 1 bilhão o orçamento desta
casta política. Dava pra fazer já a comemoração do dispêndio desta
fortuna. Mas logo mais chegaremos lá.
Devemos
sempre lembrar sempre que os nossos políticos, tanto os senadores
quando os deputados, custam mais ao contribuinte do que os políticos de
democracias muito bem estabilizadas de países de maior poder econômico
que o Brasil. Recentemente a ONG Transparência Brasil fez um estudo
sobre gastos individuauis de representação, viagens e contratação de
assessores e comparou com os mesmos custos em países estrangeiros. No
Brasil o valor superava R$ 1 milhão ao ano. Em três países ricos estava
assim: Alemanha - R$ 860 mil, França, R$ 770 mil, Inglaterra - R$ 760
mil.
A
ONU divulgou no mês passado um estudo que mostra que em custo total o
congressista brasileiro é 2º mais caro em um universo de 110 países.
Cada um dos nossos parlamentares custa US$ 7,4 milhões por ano. Os
Estados Unidos é único país que gasta mais: US$ 9,6 milhões anuais. Mas é
preciso dizer que esta é uma comparação integral entre cada gasto, sem
nenhuma outra referência. Se for levado em conta a renda per capita de
brasileiros e americanos, aí o gasto brasileiro salta lá em cima,
fazendo dos nossos políticos uma casta paga de uma forma que talvez não
exista em lugar nenhum do mundo.
Outra
questão óbvia, mas que é preciso ressaltar porque temos no país
patrulhas vigilantes de ataque ao pensamento crítico, é que na maioria
destes países as democracias vão muito bem com seus parlamentares sendo
pagos com o devido equilíbrio. Eu penso até que essas democracias vão
bem também por isso. O que desmoraliza a democracia é esta rapina dos
cofres públicos que deputados e senadores vêm fazendo com aumentos
contínuos determinados por eles mesmos.
Então,
não há nenhum ataque à democracia ou ao papel essencial do Congresso
Nacional quando são trazidos estes números escandalosos. É preciso mesmo
sentar a lenha nesta elite gastadora e trazer todos os gastos com
parlamentares a um nível próximo ao que ganham os demais brasileiros que
não fazem parte desta casta. Isso só vai fortalecer nossa democracia.
.....................
POR José PiresPostado por José Pires às 23:32 0 comentários
sábado, 16 de março de 2013
A difamação que vem da Argentina
Deixa
ver se eu entendi: a esquerda quer derrubar o papa, é isso? É o que dá a
entender a corrente de difamação que desenvolveram contra o papa
Francisco, a partir de acusações que se baseiam na sua atividade como
bispo, na Argentina. As fontes carecem e muito de credibilidade. Existe
uma acusação muito pesada, de que dois jesuítas teriam sido delatados às
forças da repressão na época da ditadura militar. Isto veio do
jornalista Horácio Verbitsky, fundador do Página 12, jornal que atua na
defesa do governo de Cristina Kirchner. Verbitsky é tido na Argentina
como influente mentor político do "kirchnerismo". Sua relação pra lá de
estreita com os Kirchner vem desde o governo anterior de Néstor
Kirchner, o falecido marido da atual presidente, que a fez como
sucessora.
Verbitsky
tem uma história política com vínculos com o autoritarismo. Fez parte
do extremismo que tivemos na América do Sul entre as décadas de 60 e 80,
quando grupos políticos violentos tentaram substituir ditaduras de
direita por ditaduras de esquerda. E existem suspeitas muito sérias sobre este seu passado. Ele foi da organização política Montoneros, grupo
armado dos mais agressivos da América Latina, que praticava até
terrorismo. O jornalista que acusa o papa Francisco fazia parte da área de
inteligência dos Montoneros, que tinha entre outras funções a de apontar
bons alvos físicos para sequestros e chantagens para arrancar dinheiro
para a organização. Um dos sequestros mais rentáveis deles foi o duas
pessoas da família que controla a Bunge e Born. O ex-montonero é acusado
de ter ajudado a desviar para Cuba US$ 60 milhões vindos deste
sequestro. Ele nega e diz que é tudo invenção de adversários para
destruí-lo.
A
acusação contra o papa Francisco está em "El silencio", livro escrito
por Verbitsky onde ele expõe sua visão sobre o papel da igreja durante o
regime militar na Argentina. Para ele a igreja católica colaborou com a
sucessão de ditadores, de 1976 até 1983. Foi um período violentíssimo.
Quem reclama com mau humor dos que falam que em "ditabranda" no Brasil
está fechando os olhos ao que ocorreu na Argentina. Calcula-se em cerca
de 30 mil o número de mortos e o de desaparecidos é de 10 mil. Colocar a
igreja católica entre os colaboradores de um regime de terror desses é
uma acusação da maior gravidade. Na Argentina não tem coisa pior. E o do
Página 12 sabe disso. Ele me parece uma dessas pessoas que se nega a
rever seus erros do passado. Está preso aos rancores do passado. É
costume dessa gente fazer a difamação histórica de qualquer um que não
esteve com eles nas aventuras do passado. No Brasil também temos este
tipo de problema, até na situação muito cômica de gente que defende
erros graves do passado sem sequer ter participado deles. O ex-montonero
argentino mantém-se aferrado a uma vendeta particular com igreja. Ele
queria que, quando foi bispo na Argentina, o papa Francisco tivesse
prestado apoio incondicional às suas ações criminosas.
Mesmo
atuando hoje junto a um governo que já está no quarto mandato
consecutivo, Verbitsky parece não compreender que a ampliação dos
horizontes políticos que houve no mundo exige análise e argumentação
muito diferente daquela feita na obscuridade da militância clandestina.
Daí a minha questão inicial, perguntando se a esquerda quer derrubar o
papa. E quando embarca nesta rede da difamação que saiu da Argentina, a
esquerda brasilera se situa de forma ainda mais tola. Essa azucrinadora
militância puxou para cá o antagonismo violento da esquerda argentina,
que talvez seja a mais maluca do continente. Com isso, assumem um
confronto desnecessário com todos os católicos.
Será
que é preciso dizer pra esta gente que na relação com uma instituição
do peso moral da igreja católica é preciso agir com equilíbrio e razão?
Especialmente na hora de expor supostas faltas graves desta intituição
não é nem um pouco inteligente agir de forma difamatória, com argumentos
sem nenhuma base de sustentação. Será que até algo simples assim eles
precisam ouvir? É claro que precisam. E se tiver alguém temendo que uma
dica dessas possa fortalecê-los, não há porque se estressar com uma
preocupação dessas. Esse pessoal não se emenda de jeito nenhum.
.....................
POR José Pires
___________________
Imagem: Juntos numa ocasião pública, Verbitsky e Cristina Kirchner revelam de forma muito expressiva a sintonia entre o jornalista e a presidente; à frente, capa de "El silencio".
Postado por José Pires às 23:34 1 comentários
quarta-feira, 13 de março de 2013
quinta-feira, 7 de março de 2013
O dia em que José Dirceu voltou no pinote de Caracas
José Dirceu não vai poder ir ao velório de Hugo Chávez. O presidente do STF, Joaquim Barbosa, recusou a licença que ele pediu ontem para fazer a viagem. O passaporte do ex-ministro de Lula está confiscado em razão da sua condenação à prisão no processo do mensalão.
A decisão de Barbosa não vai permitir que se esclareça uma dúvida que me ocorreu quando soube do pedido feito por Dirceu. Como seria a recepção a ele no velório de Chávez? O relacionamento entre os dois nunca foi próximo, mesmo quando ainda não havia sido revelado seu papel como chefe da quadrilha do mensalão. E Chávez certamente nunca levou à sério políticos de esquerda como Dirceu.
No único contato oficial entre os dois, Dirceu levou um carreirão de Chávez em Caracas e voltou bem rápido para o Brasil. Ninguém se lembrou desse episódio. A coisa não está nem no cocuruto do Google, como já verifiquei. Mas modestamente a nossa memória só perde pra elefante bom da cuca.
Foi uma viagem ligeira do José Dirceu para Caracas em 2005, quando o clima estava fervendo nas relações entre a Venezuela e os Estados Unidos. De um lado Chávez, que governava desde 1999, e do outro George W. Bush, que não precisa ser apresentado. Eram dois coisas ruins. E é preciso lembrar também que em abril de 2002 o presidente venezuelano quase foi tirado do poder por um golpe, que ele sempre atribuiu ao governo americano.
Chávez estava à toda na Venezuela. E por aqui, no Brasil, Lula e seu grupo governavam embaladíssimos no projeto de poder perpétuo para o PT. A denúncia do mensalão só viria três meses depois na famosa entrevista do então deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, ao jornal Folha de S. Paulo.
É claro que Lula e Dirceu embalavam também o sonho de ocupar a liderança da esquerda latino-americana. No plano local o domínio do Congresso Nacional já estava encaminhado por meio dos subornos do mensalão. Faltava só abarcar o continente no projeto partidário que, para os dois, era para muitas décadas de poder.
Mas nisso Chávez era uma barreira, pois além do peso da sua personalidade ele tinha também divergências com a visão ideológica dos líderes brasileiros, colocando isso em prática no governo da Venezuela. Seu projeto sempre foi pelo confronto direto com os Estados Unidos, bem diferente do que pensavam Lula e Dirceu, partidários de uma conciliação parecida com a que faziam no plano local e que até então estava dando certo.
Naquele mês de abril de 2005 a então secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, fez uma visita oficial importante ao Brasil. É possível até que fosse um dos lances de algum arranjo entre Lula e Bush, que já havia sido acertado nos bastidores. Porém, Chávez estava numa briga feia com os ianques. Foi aí que José Dirceu, que ocupava a chefia da Casa Civil, fez as malas e foi para a Venezuela conversar com o presidente venezuelano. A idéia era propor uma amenizada nas ações e discursos de Chávez.
Até hoje não se sabe como foi a conversa e seria muito interessante para a história política de Nuestra América que este colóquio entre os dois tenha tido alguma testemunha ou que esteja documentado. Seria bom demais saber o que é que Dirceu ouviu naquele dia, pois ficou muito evidente que ele mais ouviu do que falou. O que sabemos até agora da conversa é apenas sua conclusão. Dirceu voltou na mesma hora para o Brasil, bem rápido mesmo, sem falar nada sobre este dia em que ele e o Lula tentaram suavizar o Hugo Chávez.
E o Chávez continuou o mesmo, sempre à toda, até ser parado pelo câncer. Como se sabe, a liderança da esquerda no continente ficou entre seus braços e neste papel ele até influiu para vexames ao governo Lula, como foi o caso da encampação da Petrobrás pelo governo de seu pupilo boliviano, Evo Morales.
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POR José Pires
Postado por José Pires às 23:35 0 comentários
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