segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O passado também condena

A partir da condenação pelo STF do deputado José Genoíno, seus partidários vêm tentando criar para ele uma imagem que nada tem a ver com sua real trajetória na política brasileira. A bem da verdade, a imagem de vítima e a humildade com que ele vem sendo apresentado não tem a ver nem com a sua personalidade. Até ser pego nas ilegalidades tramadas enquanto ocupava a presidência do PT, Genoíno vinha sendo implacável nas suas atitudes políticas, a começar da primeira vez em que se teve notícia dele no Brasil. Foi na sua prisão pela participação na guerrilha organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) numa das margens do Rio Araguaia, no sul do Pará. A guerrilha começou em 1967, se fortaleceu em 1970 e afinal foi derrotada pelo Exército Brasileiro em 1974. Esta primeira prisão de Genoíno ocorreu dois anos antes do final da campanha do exército.

E ninguém deve cair nas versões que dão aquele conflito como um violento ataque dos militares a idealistas que só visavam o bem. Os combatentes do PCdoB estavam armados e bem treinados e tinham o propósito claro de estabelecer um governo nacional a partir daquele foco guerrilheiro. Os comunistas levaram vantagem na fase inicial, fazendo emboscadas, ferindo e causando baixas às tropas do exército.

O propósito do PCdoB era o de uma guerra popular prolongada dentro do modelo do líder comunista Mao Tsé-Tung. O partido tinha fortes laços ideológicos com a China comunista, mas já pendia para o lado da Albânia, que é até hoje um país miserável e na época era comandada por um ditador doido chamado Enver Hodxa. Mas os comunistas do PCdoB achavam que a Albânia era o único socialismo respeitável no mundo.

É evidente que em caso de vitória de sua guerrilha o PCdoB não iria convocar eleições democráticas. Haveria a instalação no Brasil do que eles chamam de "governo popular", eufemismo usado para qualquer ditadura que lhes agrade. O PCdoB sempre foi ensandecido politicamente. O partido jamais aceitou sequer as denúncias dos crimes de Stálin, feitas pelo próprio governo comunista soviético, no final da década de 50. Certamente iriam impor ao Brasil um modelo híbrido que juntasse o maoismo e o desastre que era a ditadura de Hodxa na Albânia, país comunista que chamavam de "Farol do socialismo".

Esta é a origem política de Genoíno, que foi preso durante as ações do exército enquanto dezenas de companheiros seus foram mortos. Existem denúncias de atrocidades naquela ação dos militares brasileiros, atitudes que seriam condenáveis em qualquer guerra, porém é falsear a História tentar fazer crer que em qualquer lado daquele conflito havia alguma vítima inocente movida por ideais simplesmente libertários. Por isso, não é justo e tampouco é verdadeiro historicamente ficar tratando este mensaleiro condenado como se ele tivesse lutado pela liberdade e a democracia. Nenhum movimento comunista instalou democracia em país algum depois de vitorioso. É vergonhoso que não seja assumido hoje em dia o propósito real daquela guerrilha. Na minha visão, esta conversa dissimulada é até um desrespeito à memória de quem morreu combatendo por suas ideias comunistas.

Genoíno foi solto em 1977 e anistiado em 1979. Elegeu-se deputado federal pelo PT em 1982. É uma trajetória que seria impossível no Brasil para alguém na sua condição se a guerrilha do PCdoB tivesse alcançado a vitória. O que ele deveria fazer é parar com esta lorota de que "lutou pela democracia", assumir os erros de seu passado e além disso agradecer por estar sendo preso num país que não vive sob uma ditadura totalitária, como eles pretendiam. Aproveitando a ocasião, também seria mais honesto ele assumir que errou ao participar do atentado à democracia que foi o mensalão.
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Por José Pires

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