sexta-feira, 27 de junho de 2014

Piração no Paraná

Já falei aqui da surpresa do PMDB ter decidido pela candidatura de Roberto Requião ao governo do Paraná. O partido já era tido como aliado garantido de Beto Richa para sua reeleição. A decisão é uma interessante reviravolta política, mas tem um problema: o próprio Roberto Requião. Os paranaenses de bom senso sentem até arrepios em pensar na volta ao governo de um dos políticos mais abilolados e autoritários deste país. Requião parece o maluco do Suárez. Na política é igualmente um craque, mas o problema é que ele também morde.

A personalidade complicada de Requião já alcançou fama nacional, com situações pitorescas, como o dia em que o presidente Lula mostrou-lhe uma cumbuca com sementes de mamona. Sem pensar, ele meteu um punhado na boca e mastigou como se fosse um petisco. Teve que cuspir de imediato a semente tóxica. E ele tem também seu lado autoritário, que mostrou muitas vezes, uma delas nos corredores do Congresso Nacional, quando roubou o gravador de um repórter depois de se incomodar com um questionamento.

Daí o frio na espinha que causa a possibilidade da sua volta. Antes do governo atual, Requião teve dois mandatos como governador. Foram anos conturbados no Paraná, um longo período de conflitos e trapalhadas, com ele se metendo em tudo, de forma agressiva e abusando de seu poder. Muito mandão, ele desautoriza secretários, desmerece o trabalho do funcionalismo público e até humilha subordinados e pessoas humildes publicamente. Durante seu governo ele inventou uma reunião semanal em um auditório com secretários e funcionários graduados. O evento era motivo de chacota e era chamado pelos paranaenses de "Escolinha do Professor Raimundo". Tem esse lado jocoso, mas era também um ritual de humilhação, com Requião dando de dedo em secretários e fazendo piadas grosseiras, com tudo isso sendo filmado e transmitido pela emissora estatal de TV.

Foi um tempo de eterno quiproquó no Paraná, com o governador sempre criando encrencas com alguma área do funcionalismo ou da iniciativa privada. Nesses oito anos de conflitos sobrou pancada até para as universidades públicas. O Paraná tem universidades estaduais de bom nível, como a UEM, de Maringá, e a UEL, de Londrina. No plano nacional, Requião busca compor uma imagem progressista de defensor da Educação, mas com ele as universidades sofreram muito. O que professores e servidores recebiam do governador eram insultos. Requião chegou a brigar com comissões de professores que buscavam diálogo para resolver problemas salariais e de manutenção do ensino superior. De estilo extremamente centralizador, no final de seu governo até autorização de viagem de professores para estudos e pesquisas ele puxou diretamente para si. E é claro que não decidia nada.

Suas confusões com os professores universitários foram parecidas com as que teve com funcionários públicos de outros setores, além das encrencas com empresários, prefeitos e qualquer um que não baixasse a cabeça. Sua forma de governo era um caos administrativo e político, com ele no centro colocando nos outros a culpa de problemas que eram de sua responsabilidade. Sua candidatura traz a possibilidade da volta dessa desagradável confusão. A Copa do Mundo já ficou livre do maluco do Suárez. Agora é o Paraná que corre o risco de levar umas mordidas.
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POR José Pires

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