sábado, 16 de agosto de 2014

Esperando o bom de voto

A política de um país vai muito mal se depende de forma tão absoluta de uma Marina Silva. E sua candidatura, vinda desse jeito, não trará qualidade a esta eleição. Já se nota uma certa magia no ar. Tem gente que até vê na na sua aparição a inevitabilidade de um segundo turno. É incrível como grande parte dos analistas se fia nos 20 milhões de votos de Marina na eleição anterior. Bem, por este raciocínio tem que se perguntar então onde foram parar os votos de José Serra, quase metade do eleitorado brasileiro na mesma eleição para presidente. Ora, na política não se transfere uma realidade para outra de forma automática. São situações com tantos componentes diferentes que é impossível que se ajustem ao que querem certos analistas políticos.

Mas o problema da definição de um segundo turno não está na presença de Marina Silva, assim como não estava na do falecido Eduardo Campos. A dificuldade da criação de um segundo turno sempre esteve em Aécio Neves. Com maior estrutura e um partido com um histórico de boa votação em eleições presidenciais, era do tucano a responsabilidade de um crescimento sólido nas pesquisas. Além disso, não era o Aécio o prodigioso tucano fazedor de votos que José Serra não deixava ser candidato?

O senador mineiro não vem demonstrando na prática sua propalada habilidade de convencimento. Ele, que vinha gozando esta fama desde a primeira eleição de Lula, quando começou a se espalhar pelo país que uma candidatura sua pelo PSDB seria invencível. É claro que o próprio Aécio contribuiu com bastante astúcia e pouca lealdade partidária para fortalecer este mito. Fez isso tanto na eleição em que Geraldo Alckmin foi candidato quanto na segunda, em que entrou José Serra. Na eleição passada todo mundo sabe que Dilma deve a sua vitória a Aécio. Ele elegeu-se senador no primeiro turno e fez também seu sucessor no governo mineiro. Porém, Serra não teve na sua campanha a força que precisava em Minas. Dilma conquistou no estado 1,8 milhão de votos a mais que o candidato tucano. Ela teve no estado 58% dos votos válidos no segundo turno.

Não é novidade alguma que Aécio abandonou Alckmin e Serra nas duas eleições. E havia ficado o mito de que com ele a possibilidade de vitória sobre o PT eram favas contadas que se perderam. Sobre Serra, que inclusive na primeira eleição obrigou um Lula muito forte a ter de ir pro segundo turno, ficou inclusive o estigma de que foi um erro sua candidatura. E ele teve 43% dos votos do país na última eleição para presidente. Pois bem, agora Aécio obteve a chance de mostrar sua lendária força. E numa eleição bem mais fácil do que tiveram que enfrentar os outros dois tucanos. O PT está desacreditado e a população já sente os efeitos da crise. Existe o forte desgaste da corrupção no governo. O tal do carisma de Lula também mostra perda de efeito. E a candidata, bem, a candidata é a Dilma, né? No entanto, Aécio vem penando para atingir 20% nas pesquisas. É visível sua dificuldade para ampliar nacionalmente o prestígio que conquistou em Minas Gerais. A situação com ele em primeiro plano é de tamanha dificuldade para seu partido que a presença de Marina Silva traz até o risco de não ser dos tucanos a maior porção de votos que levará a um segundo turno.
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POR José Pires

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