quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Mensagem aos que virão

Uma sibipiruna florida no cair da tarde. A cidade de Londrina tem muitas delas, que se dão bem neste lugar onde basta plantar e deixar o resto por conta da natureza. Esta dádiva de terra veio por acaso, escorrendo há milhões de anos no derramamento de basalto que deu origem a uma das terras mais férteis do planeta, a chamada "terra roxa" do norte do Paraná. Isso permite ao londrinense uma vida que ele nem percebe que em outros cantos é coisa de filme. Em que outro lugar a gente come um mamão, joga as sementes num canto e logo verá nascer um mamoeiro dando frutos?

Já morei em outras regiões do país onde plantar um simples arbusto desses de formação de cerca viva exige uma trabalheira e tanto, com a preparação do plantio com adubo, além de outros cuidados. Aqui é muito fácil: basta cortar as partes da planta para a formação da muda, fincar no chão as pequenas estacas e depois aguar de vez em quanto. Se for uma época boa de chuvas, nem é necessário o trabalho de ligar a mangueira. Tudo cresce de uma forma que parece que dá pra ver as plantas esticando seus galhos e fazendo brotar folhas, flores e frutos num moto-contínuo que não precisa ser inventado porque já existe.

As árvores grandes crescem com um vigor admirável, porém o londrinense é marcado pelo engano de que árvores nas ruas devem ser menores, o que não faz sentido pela própria utilidade da árvore dentro de um perímetro urbano. A cidade precisa de longos trechos com sombra permanente porque de outro modo as pessoas são obrigadas a viver num ritmo cotidiano de deserto, saindo de casa para caminhar apenas nos horários em que o sol está mais próximo do horizonte. Uma cidade arborizada permite que as pessoas façam suas atividades cotidianas a pé e em qualquer horário, mesmo com o sol a pino.

Sou um caminhante desde a minha infância, um hábito que depois fui aprendendo com o tempo que é o melhor para o ser humano. Porém, por falta de sombra das árvores é muito difícil andar a pé em Londrina. A cidade já foi bastante arborizada, sendo que uma sibipiruna alta como a desta foto é uma das que sobraram da época da formação deste bairro. Em vários bairros dá pra ver árvores desse porte, ainda muito fortes, mas infelizmente isoladas, como se fosse uma lembrança de como a cidade poderia ser agradável hoje em dia se houvesse a consciência do respeito às plantas.

A cidade precisa cuidar melhor de suas árvores e plantar mais delas, principalmente dessas bitelas como a sibipiruna, que além de dar uma ótima sombra nessa época do ano traz essas flores muito bonitas compondo um cenário especial com o céu da região, que é sempre de um azul de uma limpidez e um encantamento que dá prazer de olhar. É preciso parar de cortar as árvores da cidade e plantar mais delas. Este pode ser um recado pro futuro de que neste nosso tempo havia vida inteligente por aqui.
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POR José Pires

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Imagem: Foto que tirei nesta terça-feira, de uma série que venho fazendo há alguns dias com as sibipirunas. Repare que tem uma mulher sentada à sombra da árvore com uma criança. Ela passou por mim enquanto eu fotografava e com a maior tranquilidade as duas entraram na cena. Gostei do gesto, que deu mais qualidade à imagem e mostrou muito mais sobre a vida.

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