quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A intolerância sem graça

Na imagem, uma das capas do jornal francês "Charlie Hebdo" satirizando a Igreja Católica. O humor deles era desse jeito bastante pesado desde a criação do jornal, em 1970, por Reiser, Topor, Wolinski e outros mestres geniais do humor. Wolinski foi morto no atentado de terroristas islâmicos que invadiram a redação do jornal nesta terça-feira metralhando as pessoas. O autor dessa capa é Cabu, um dos melhores desenhistas que já apareceu na imprensa mundial. Ele também foi morto a tiros no atentado. O cartum é fortíssimo e certamente desagradou a muitos católicos, religião predominante na França. Até por isso, em mais de 40 anos do "Charlie Hebdo" o número de cartuns publicados satirizando a religião católica é imensamente maior do que sobre qualquer outra religião, incluindo os muçulmanos, mas nem por isso se pensaria numa agressão armada ao jornal feita por católicos. Porém, se acontecesse de algum maluco fazer uma besteira parecida, de imediato com certeza o papa sairia a público desautorizando o uso da religião e condenando qualquer coisa que atentasse contra a liberdade desses humoristas abusados publicarem o que eles quiserem, inclusive contra ele, que foi vítima muitas vezes de cartuns também muito pesados.

Por falar nisso, o papa Francisco já condenou com firmeza o ataque ao jornal. "O Santo Papa expressa sua mais forte condenação pelo horrível atentado, que deixou de luto, esta manhã, a cidade de Paris", diz uma nota do Vaticano divulgada há pouco. O texto afirma também o seguinte: "O que quer que possa ser a motivação, a violência mortal é abominável, nunca é justificada, a vida e a dignidade devem ser garantidas. Qualquer instigação ao ódio deve ser repudiada". E a igreja dele é que tem sido mais atacada nessas quatro décadas.

É esse tipo de condenação firme da parte de autoridades islâmicas que o mundo está precisando. Os religiosos islâmicos tem a responsabilidade de excluir de forma clara qualquer representatividade dos fundamentalistas em relação a sua religião. Enquanto isso não acontece, o silêncio pode ser visto como cumplicidade. Existe inclusive o risco da falta de confiança das populações dos países ocidentais se estender a toda a comunidade islâmica. A condição de multidões de imigrantes muçulmanos que vivem hoje na Europa pode ficar muito difícil com esta situação criada pelo terror islâmico.

Para evitar o sofrimento de inocentes caberia aos religiosos islâmicos com espírito democrático fazer com firmeza a divisão entre a minoria terrorista do joio e as multidões pacíficas do trigo. A tolerância dos católicos mostra que é possível a religião conviver de forma equilibrada com a liberdade de expressão, independente de divergências inconciliáveis e do desagrado com sátiras pesadas como esta capa do abusado Cabu.
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POR José Pires

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