quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Liberal de araque

Os tucanos e seus simpatizantes precisam parar de falar sobre a condução da economia neste segundo mandato de Dilma Rousseff como algo similar ao projeto que Aécio Neves colocaria em prática se tivesse sido eleito. Tucano costuma acordar tarde para a realidade política. Até para fazer oposição eles demoram. Mas seria melhor para eles que fossem deixando muito bem explicado as diferenças da economia liberal com isso que Dilma vai aprontar com o país. Quem tem uma visão liberal da economia também deveria se conter, evitando mesmo de gozação chamar de liberal isso que a presidente reeleita já começou a fazer antes mesmo de tomar posse para a continuação do desastre herdado dela própria.

Novamente não existe projeto econômico do PT para a economia brasileira. Os petistas até já tiveram isso um dia, numa mistura da visão de vários pensadores de esquerda, mas estas posturas diferentes de enfrentamento dos problemas brasileiros nunca alcançaram um consenso dentro do partido e nem chegaram a um projeto unitário pronto para ser colocado em prática. De qualquer forma, um pouco antes de Lula ganhar a primeira eleição para presidente o PT veio com a famosa "Carta aos brasileiros", quando o partido afastou a possibilidade de fazer algo diferente em nossa economia. Costumam dizer que o documento foi escrito para acalmar o mercado, mas teve também um resultado sobre o qual ninguém fala. Foi a capitulação definitiva do PT em mostrar diferença na condução da economia brasileira.

O que Dilma vai fazer neste segundo mandato é o mais do mesmo que o PT vem tocando na economia desde que Lula ganhou a primeira eleição. O partido não tem projeto algum. Para resolver questões práticas seguem parte de receituário retirado da economia liberal, mas fazem isso de forma isolada. O que é feito na condução econômica não abrange as outras áreas do governo, que seguem descontroladas e livres na continuidade da gastança muitas vezes despropositada e sem nenhuma responsabilidade com qualquer outra meta que não seja a de manter a carreira política do ministro da ocasião.

É claro que a tendência é que até esse jeitinho petista pode dar certo quando existe uma condição externa melhor que não dependa do governo brasileiro, como ocorreu com a economia mundial durante o primeiro mandato de Lula. E naqueles tempos, o governo petista tinha também um capital anterior acumulado, inclusive no aspecto da forte motivação dos brasileiros. Mas isso acabou. Os problemas atuais são bastante pesados e ficaram difíceis de enfrentar também pela forma irresponsável que o PT governou durante a relativa bonança.

Dilma não vai ser liberal coisa nenhuma em economia. O que ela faz nem dá para dar um nome bem definido. Teremos o mesmo PT de sempre, atirando para todos os lados e esperando que alguém na pasta da Economia faça os remendos necessários para ao menos amenizar os estragos das besteiras usuais deste partido. O Mantega não conseguiu e o ministro Joaquim Levy teria de ser mágico para alcançar sucesso com tudo fora de seu ministério correndo às soltas do jeito que os petistas e aliados gostam. Chamar isso que vem por aí de "liberal", como algumas pessoas vem fazendo, pode trazer um problema a mais na confusão brasileira, que é a população começar a acreditar que o nosso país é um mistério insolúvel e fora do alcance de qualquer escola econômica.
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POR José Pires

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