sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O medo da cana



Viralizou a cena do ex-governador Garotinho sendo levado de volta para a cadeia depois de ser medicado em um hospital. Essa passagem de Garotinho pelo hospital vai fazer mais mal pra sua imagem do que a própria prisão. Se ele queria se fazer de vítima  e faturar politicamente com isso, teve um efeito contrário. Garotinho amarelou. Se tivesse que ir mesmo pra cana brava, iria passar maus bocados com os colegas de cela depois desse papelão. A filmagem dele sendo colocado à força na ambulância é cheia de significados sobre esse momento que estamos vivendo na política brasileira, inclusive no fato não só de um político poderoso ter sido preso como também de ele ter de voltar pra cadeia, mesmo com o esforço imoral de sua filha tentando forçar um médico a forjar algo para que o pai fosse mantido no hospital. Já roda na internet um vídeo documentando essa pouca vergonha. Noutros tempos Garotinho não passaria por uma delegacia nem pra dar um alô pro delegado.

É também espetacular a participação da deputada Clarissa Garotinho nessas cenas de filme trash, quando ela protesta aos gritos. Uma de suas falas é sobre o medo do pai sofrer alguma violência na cadeia. Ela grita que "querem matar ele lá", o que me parece um exagero. Ao contrário da maioria dos brasileiros, que sofrem o diabo numa prisão mesmo por um delito menor, tipos como Garotinho recebem um tratamento diferenciado, às vezes até com privilégios impossíveis de serem obtidos se por um detento sem poder político e bastante dinheiro. Em nosso país, os ricos e poderosos tiveram sempre esse tratamento diferenciado. E isso no caso de serem presos, é claro, até agora uma situação raríssima de ser enfrentada por quem tem dinheiro.

É verdade que uma passagem pelas cadeias do Rio de Janeiro é mesmo pra se aterrorizar, por menor que seja o período de cana. No entanto, é verdade também que o ambiente de terror dos nossos presídios e de responsabilidade de homens como Garotinho, no caso dele um autor direto desse horror. Uma boa medida para dar uma relativa qualidade aos nossos presídios, ao menos num padrão de dignidade longe do clima medieval de hoje em dia, seria acabar com prisão especial ou qualquer outro privilégio. O ex-governador Cabral, por exemplo, está em prisão especial para quem tem curso superior. E se todo mundo fosse obrigado a ficar preso nas mesmas condições, inclusive políticos pegos em corrupção? Bem, se fosse assim em pouquíssimo tempo nossas cadeias iriam chegar a um padrão de deixar até suiço envergonhado com as cadeias deles.

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POR José Pires

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