quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Trump na cabeça

Quem diria: quando muita gente pensava, inclusive a própria Hillary Clinton, que Donald Trump era o adversário dos sonhos para ela se dar bem, foi exatamente o contrário. Hillary Clinton é que foi o adversário que Trump precisava, pois se o confronto fosse com alguém sem tantas complicações é provável que ele perdesse para seus próprios defeitos. Com a derrota desta madrugada vai ficar difícil uma continuidade do clã dos Clinton, que tinham um projeto político bastante familiar para os Estados Unidos. Mas Chelsea terá que esperar. E vai ser com desconforto. O sujeito que furou a fila além de ser muito grosso não costuma dar a vez para mulheres.

As pessoas costumam se esquecer que os Clinton já haviam tentado uma continuidade política para o clã na presidência dos Estados Unidos, com Hillary disputando o lugar com Barack Obama, em 2008, na primeira eleição que ele ganhou. E quem se espanta com a agressividade de Trump é porque não sabe o que os Clinton fizeram com Obama naquela disputa. A situação nas prévias do partido Democrata teve uma semelhança com o que ocorreu agora, não só no clima de vitória antecipada de Hillary como também na imagem de Bill Clinton influenciando de forma ambígua a campanha da mulher. É delicado o limite entre a influência negativa e a positiva do apoio do ex-presidente, como se viu nos revides de Trump depois da divulgação daquela conversa vazada dele sobre atacar sexualmente mulheres, quando sua campanha lembrou em propagandas e materiais de contra-informação e ele próprio falou num debate com Hillary que o marido dela também aprontava coisas piores. Isso na opinião dele, Trump, que como todo mundo sabe se tem em alta conta.

A derrota de Hillary Clinton lembra também, de certa forma, o que aconteceu com Al Gore na eleição de 2000, que ele perdeu para George W. Bush. Neste caso é muito parecida a situação dos Estados Unidos elegerem um político claramente despreparado para o cargo, mesmo o eleitor tendo uma opção muito melhor. E tem também o clima entre os democratas, muito parecido com o de agora, quando pareciam estar com uma eleição já ganha. A vitória de George W. Bush e a de Trump podem ter também semelhanças em relação ao efeito posterior muito desastroso não só para o país deles como para o mundo todo, o que já sabemos que ocorreu com Bush e que pode ser muito pior com Trump. Mas falando em Al Gore, depois da inesperada derrota ele soube conduzir a situação com relativo bom humor. Logo após a eleição, ele costumava se apresentar em conferências dizendo o seguinte: "Olá, eu sou o Al Gore, costumava ser apresentado como o próximo presidente dos EUA". Pois Hillary Clinton já tem pelo menos uma boa frase para seguir a vida.
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POR José Pires

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