O
jornal Folha de S. Paulo traz uma pesquisa de seu Instituto Datafolha
em que João Doria bate recorde de aprovação nos seus 100 dias na
prefeitura de São Paulo. Dória tem 43% de ótimo e bom. Anteriormente, no
mesmo período, Haddad ficou com 31%, Kassab com 16%, Serra 20% e Marta
Suplicy — de quem que era o recorde anterior — na sua administração teve
34 %. Na minha visão, a aceitação de Doria vai além do que a pesquisa
expressa. Toca em simbologias fortes. O prefeito paulistano estimulou
dois sentimentos presentes na população, um muito bom e outro péssimo,
de tal força que o Brasil capenga em grande parte por causa dele.
O
sentimento positivo é o da confiança da população em um administrador
público, com a decorrente abertura para que ele faça seu serviço, papel
que até agora Doria vem não só desempenhando bem. Sabe também demonstrar
isso com raríssima habilidade, apoiado na sua ótima capacidade pessoal
para se expressar. Vejam só a economia: ele não tem que contratar um
ator para falar bem do que faz. Também é serviço dele, com um desempenho
em comunicação muito acima da média. Mas não é só por isso que Doria
convence. É a sua presença como administrador e o foco preciso no
cuidado com a cidade que fez ele ganhar a admiração em brasileiros de
vários cantos do país. Isso faz falta em quase todas as cidades
brasileiras. Geralmente o político se elege, sem que o prefeito apareça.
Será visto apenas em inaugurações. Não marcam presença no cotidiano.
Tem até os que dão as caras, mas atuam de forma populista, sem a
característica do administrador. Doria encarou de forma altamente
profissional o administrador que falta em todo canto do país, com o
predicado extra de bom comunicador.
No
entanto, essa popularidade trouxe algo negativo e que também é d’além
fronteiras paulistanas. Vem do sentimento de extrema carência de todo
brasileiro com os políticos: a interminável espera de que surja um
salvador da pátria. De repente, Doria foi alçado ao papel de
presidenciável. O prefeito já ombreia com os nomes de destaque na
disputa para a presidência da República e dizem que isso até causa
ciúmes no governador Geraldo Alckmin, o que é uma tremenda besteira,
própria de um jornalismo que aceita qualquer historinha para preencher
espaço. Estamos lidando com profissionais, tanto Doria quanto Alckmin, e
dos melhores que o país já teve. E existe uma interdependência entre os
dois. Não vão brigar. O prefeito não existiria sem Alckmin e daqui por
diante um depende do outro.
O
problema dessa história da candidatura é que ela veio do atiçamento
deste péssimo traço do brasileiro, com sua esperança num salvador da
pátria. Não é culpa de Doria. A conversa veio de uma imprensa
futriqueira, que vive em busca de audiência. Lançou-se a pauta, que
acabou pegando. É claro que o prefeito vem aproveitando, o dá para
entender, mas não tenho dúvida de que com sua própria pauta ele estaria
em melhor situação para fazer o serviço que mal está começado. Na
prática, no que tem mesmo que ser organizado e concluído no dia-a-dia,
essa conversa de que ele pode ser candidato atrapalha muito.
Transformado
num “presidenciável” por atitudes mexeriqueiras da imprensa, o prefeito
agora já sofre a suspeita de que vai largar o serviço pela metade. O
que é uma prática dos políticos. Eles costumam não só deixar as coisas
pela metade, como muitas vezes usam eleições apenas para marcar o nome
para uma eleição posterior. Às vezes acontece um azar e ele é eleito.
Azar da cidade, claro. Londrina, no Paraná, teve um prefeito eleito
desse jeito há quatro anos e foi exatamente porque na campanha parecia
um Doria. Infelizmente deu chabu. Mas voltemos ao prefeito de São Paulo.
O número mais interessante na pesquisa do Datafolha é o das pessoas que
querem que Doria continue a frente da prefeitura: 55%. Neste aspecto,
existe também uma boa confiança de que o eleitor não vai tomar mais uma
rasteira: 40% acreditam que ele não vai abandonar a prefeitura. Ponto
para o Doria, que como já disse, não foi quem inventou a história da
candidatura a presidente da República. E tomara que ele fique mesmo na
prefeitura. Fará um bem para a política brasileira. E tudo indica que
também para São Paulo.
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POR José Pires
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