segunda-feira, 10 de abril de 2017

Doria, o presidenciável que o paulistano quer que fique na prefeitura

O jornal Folha de S. Paulo traz uma pesquisa de seu Instituto Datafolha em que João Doria bate recorde de aprovação nos seus 100 dias na prefeitura de São Paulo. Dória tem 43% de ótimo e bom. Anteriormente, no mesmo período, Haddad ficou com 31%, Kassab com 16%, Serra 20% e Marta Suplicy — de quem que era o recorde anterior — na sua administração teve 34 %. Na minha visão, a aceitação de Doria vai além do que a pesquisa expressa. Toca em simbologias fortes. O prefeito paulistano estimulou dois sentimentos presentes na população, um muito bom e outro péssimo, de tal força que o Brasil capenga em grande parte por causa dele.

O sentimento positivo é o da confiança da população em um administrador público, com a decorrente abertura para que ele faça seu serviço, papel que até agora Doria vem não só desempenhando bem. Sabe também demonstrar isso com raríssima habilidade, apoiado na sua ótima capacidade pessoal para se expressar. Vejam só a economia: ele não tem que contratar um ator para falar bem do que faz. Também é serviço dele, com um desempenho em comunicação muito acima da média. Mas não é só por isso que Doria convence. É a sua presença como administrador e o foco preciso no cuidado com a cidade que fez ele ganhar a admiração em brasileiros de vários cantos do país. Isso faz falta em quase todas as cidades brasileiras. Geralmente o político se elege, sem que o prefeito apareça. Será visto apenas em inaugurações. Não marcam presença no cotidiano. Tem até os que dão as caras, mas atuam de forma populista, sem a característica do administrador. Doria encarou de forma altamente profissional o administrador que falta em todo canto do país, com o predicado extra de bom comunicador.

No entanto, essa popularidade trouxe algo negativo e que também é d’além fronteiras paulistanas. Vem do sentimento de extrema carência de todo brasileiro com os políticos: a interminável espera de que surja um salvador da pátria. De repente, Doria foi alçado ao papel de presidenciável. O prefeito já ombreia com os nomes de destaque na disputa para a presidência da República e dizem que isso até causa ciúmes no governador Geraldo Alckmin, o que é uma tremenda besteira, própria de um jornalismo que aceita qualquer historinha para preencher espaço. Estamos lidando com profissionais, tanto Doria quanto Alckmin, e dos melhores que o país já teve. E existe uma interdependência entre os dois. Não vão brigar. O prefeito não existiria sem Alckmin e daqui por diante um depende do outro.

O problema dessa história da candidatura é que ela veio do atiçamento deste péssimo traço do brasileiro, com sua esperança num salvador da pátria. Não é culpa de Doria. A conversa veio de uma imprensa futriqueira, que vive em busca de audiência. Lançou-se a pauta, que acabou pegando. É claro que o prefeito vem aproveitando, o dá para entender, mas não tenho dúvida de que com sua própria pauta ele estaria em melhor situação para fazer o serviço que mal está começado. Na prática, no que tem mesmo que ser organizado e concluído no dia-a-dia, essa conversa de que ele pode ser candidato atrapalha muito.

Transformado num “presidenciável” por atitudes mexeriqueiras da imprensa, o prefeito agora já sofre a suspeita de que vai largar o serviço pela metade. O que é uma prática dos políticos. Eles costumam não só deixar as coisas pela metade, como muitas vezes usam eleições apenas para marcar o nome para uma eleição posterior. Às vezes acontece um azar e ele é eleito. Azar da cidade, claro. Londrina, no Paraná, teve um prefeito eleito desse jeito há quatro anos e foi exatamente porque na campanha parecia um Doria. Infelizmente deu chabu. Mas voltemos ao prefeito de São Paulo. O número mais interessante na pesquisa do Datafolha é o das pessoas que querem que Doria continue a frente da prefeitura: 55%. Neste aspecto, existe também uma boa confiança de que o eleitor não vai tomar mais uma rasteira: 40% acreditam que ele não vai abandonar a prefeitura. Ponto para o Doria, que como já disse, não foi quem inventou a história da candidatura a presidente da República. E tomara que ele fique mesmo na prefeitura. Fará um bem para a política brasileira. E tudo indica que também para São Paulo.
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POR José Pires

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