sábado, 20 de maio de 2017

As muitas caras de Aécio Neves

Com o surgimento da comprovação de tantos delitos com o envolvimento de Aécio Neves pode-se falar que o senador atualmente afastado pelo STF vinha sofrendo de uma estranha dualidade como político, muito próxima de uma forte esquizofrenia. Sei que a maioria dos políticos tem essa deformação de personalidade, que nem pode ser definida como distúrbio, na medida em que a identidade dupla ou até múltiplas são exercidas com a plena consciência.
O caso de Aécio está fora desse hábito tão comum dos políticos, de ter duas ou até mais caras e não é que ele não tenha também este defeito. O que ocorre de diferente é que evidentemente ele foi tomado por uma confusão entre múltiplas facetas, deixando de ter o controle do resultado de ações completamente fora do que ele podia sustentar na prática.

Suas atitudes depois da eleição passada demonstram uma incapacidade psicológica para abandonar a imagem de candidato trabalhada em conjunto com publicitários bem pagos. Aquele candidato realmente era muito bacana, no entanto faltou a Aécio a consciência de muitos eleitores, que tiveram a capacidade de entender que essencialmente aquilo só fazia sentido para evitar um mal maior. Passada a eleição, enfrenta-se a vida real, para a qual uma pessoa madura sabe o pragmatismo exigido de cada um. Este é um drama que também torna petistas incapazes de entender algo que parece tão simples, o que foi fatal tanto para Lula quanto para Dilma. Ambos levaram na cabeça por causa dessa dificuldade de assumir suas imagens reais fora do palanque.

Manter o encantamento ilusório do candidato ético e transformador não poderia criar maiores problemas ao senador mineiro se ele não tivesse o rabo preso, conforme foi descoberto pela Lava Jato. Mas do jeito que Aécio levava sua carreira política nos bastidores é muito evidente que, terminada a eleição, o mais indicado seria uma dedicação plena à chamada realpolitik, trabalhando de forma prática para evitar os danos, agora irremediáveis. Como se viu, não foi o que ele fez, a não ser nos bastidores, onde se dedicava a tramar contra a Lava Jato e a tentar barrar o trabalho da Polícia Federal. Porém, essa atuação na obscuridade bateu forte contra a encenação à luz da opinião pública. Ou vice-versa, tanto faz, chegando a este triste fim de carreira.
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POR José Pires

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