sábado, 20 de maio de 2017

Os fantasmas muito vivos de Michel Temer

Esses áudios que encrencaram a vida do presidente Michel Temer me trouxeram à lembrança um caso recente, no qual havia também algo de misterioso. Pouco tempo depois de mudar para o Palácio do Alvorada, logo que assumiu o cargo de presidente com o impeachment da petista Dilma Rousseff, Michel Temer resolveu voltar à morada anterior, tradicionalmente reservada ao vice-presidente. Na explicação para o retorno ao Palácio do Jaburu, o presidente andou apelando para argumentos esotéricos. Disse que no Alvorada “a energia não era boa” e que por lá sentiu “uma coisa estranha lá”. Temer usou até a mulher na justificativa da mudança. “A Marcela sentiu a mesma coisa”.

O assunto acabou sendo tomado como coisa pitoresca, mas na época até estranhei porque Michel Temer parece ser de uma objetividade que não dá a impressão de se abalar com o barulho de correntes arrastadas por fantasmas naquelas rampas perigosas criadas pelo Niemeyer. Pois agora, com as gravações feitas pelo empresário Joesley Batista, me parece que surge a real explicação do apego de Temer o Jaburu. O problema é realmente relativo a obscuridades, no entanto sua implicação com o Palácio do Alvorada tem mais a ver com a relativa transparência daquele edifício em comparação com a maior facilidade que o Palácio do Jaburu oferece para encontros clandestinos.

Joesley entrou no Jaburu tomando o cuidado de não ser visto. Chegou pela garagem, sem passar pela identificação. Já se sabe que ele estava com um gravador especialmente comprado para captar a conversa com Temer. Era um aparelho especial, que poderia passar despercebido por detectores de metais. Joesley temia ser flagrado antes do encontro com Temer. Uma revista protocolar feita por um segurança poderia ter acabado com seu plano. O curioso dessa história é que a clandestinidade favoreceu sua intenção de gravar a conversa. Com essa lição, creio que Temer deve ter perdido o medo de fantasmas. E o aprendizado vem tarde. Pela sua idade, ele já devia conhecer há muito tempo o sábio alerta dos antigos, de que o perigo não é com os mortos e sim com os vivos.
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POR José Pires

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