segunda-feira, 9 de outubro de 2017

João Doria cai na realidade

Com a divulgação de sua queda de aprovação em nove pontos percentuais no Datafolha, o prefeito João Doria procurou justificar o resultado negativo atribuindo à gestão do petista Fernando Haddad as dificuldades para administrar São Paulo. Segundo ele, o orçamento da prefeitura tem um déficit de R$ 7,5 bilhões, deixado por Haddad. “É duro fazer gestão pública sem recursos, depender de apoio do setor privado, da cooperação e solidariedade de muitas pessoas”, ele disse.

Faz sentido apontar a falta de recursos, com o rombo deixado pelo PT na capital paulista, porém esse problema não era desconhecido de nenhum candidato à prefeitura, muito menos por Doria, que se elegeu com apoio e estrutura do governador Geraldo Alckmin e por isso tinha ainda mais possibilidade de saber que não estava fácil a situação da prefeitura. A explicação de Doria serve mais para apontar um grave erro político cometido por ele, que foi o de não desconstruir a gestão Haddad. Com isso, a população não ficou ciente da condição em que ele pegou a prefeitura.

E o interessante é que muitos prefeitos costumam cometer este erro, deixando de comprometer a gestão passada com os problemas deixados como herança. Da parte de Doria este descuido é uma grande surpresa, afinal ele tem obrigação profissional de dominar esta questão, que essencialmente é de comunicação. No que é referente à Haddad, aliás, em muitas ocasiões estranhamente o petista foi poupado por ele, às vezes até procurando fazer uma diferença entre o ex-prefeito e o PT. Não é possível saber o que rolava nos bastidores para Doria agir desse jeito, mas agora, com sua queda de popularidade, já dá para saber o resultado.

Mas não foi só por isso que houve a queda. O prefeito paulistano tem também forçado a barra, se expondo de forma excessiva. Este é outro equívoco estranho para alguém com sua experiência em comunicação. A super exposição inclusive alimentou outro risco sério para qualquer administrador. Desde que assumiu o cargo, Doria vem ampliando demais as expectativas da população. O apoio do setor privando, agora tratado por ele como “dependência”, vinha sendo vendido como uma diferença positiva de sua administração, o que foi um acerto de marketing. Mas da forma que foi divulgada para a população, esta parceria com o setor privado criou ainda mais expectativas, que financeiramente não há jeito de contemplar.

A verdade é que Doria se encantou em ser um presidenciável e a partir daí perdeu o pé exatamente no que fez dele um nome nacional, que é ser prefeito da maior cidade do país. Embalado por esta nova possibilidade e provavelmente ocupado demais com suas inúmeras viagens, deixou passar até erros crassos, como no caso recente de uma empresa doadora da prefeitura que ganhou um serviço sem licitação, ao preço de R$ 800 mil reais. Não importa que não haja ilegalidade, assim como pouco importa também que suas viagens pelo país não atrapalhem seu trabalho como prefeito. Na política, muitas vezes o que vale é a percepção e não a lógica do que está sendo feito. O prefeito que se cuide. Se os erros se mantiverem neste ritmo, a próxima pesquisa pode trazer números piores.
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POR José Pires

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